Prólogo

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Tudo estava quieto. Muito quieto. Past pôs uma das mãos sobre o peito, com sua respiração desregulada. Aquele "mundo branco" interminável o aprisionou de uma hora para outra, sem dar sinais ou um aviso prévio. A claridade lhe causava tontura, e quanto mais andava, menos sua vontade de procurar algo naquele labirinto sem cor prevalecia. A ansiedade estava lhe matando.

- Por que isso está acontecendo comigo?" - Past, o estrelado, questiona, quase entrando em desespero, com a voz chorosa. - Por que eu estou aqui?!

A voz do esqueletinho voltou para ele em um eco, tendo o seu timbre distorcido e mais macabro. Deu de entender que o lugar era mesmo vazio, mas que ainda tinha um fim, ou pelo menos alguma coisa nele, para que a voz pudesse "bater e voltar". Tinha o costume de falar sozinho. Foi um hábito que cultivou desde pequeno, e que normalmente o ajudava a administrar seus pensamentos. Aparecia com mais frequência quando ficava nervoso, só que ao invés de ajudar, só estava piorando a situação do arroxeado.

Past pisoteou o chão, com força. Aquilo nada fez. Nenhum som, nenhum indício de que fosse mesmo real ou pelo menos um chão de fato. Começou a questionar a própria sanidade... teria ele enlouquecido? Estaria preso em um surto psicótico? O que quer que fosse aquilo, tudo que queria era não estar ali. Acordar daquele pesadelo monocromático, sair daquela vasta tela branca em que nada se via e nem se ouvia além da própria voz. Não queria estar sozinho. Tinha pavor do abandono, da solidão.

Voltou a andar. Andou por tanto tempo, que suas pernas teimavam em continuar, incapazes de manter uma caminhada retilínea. Tremulavam para lá e para cá, zanzando, desengonçadas, formando um quase zigue-zague... seria aquele o seu destino? Esvair-se ali, desbotar naquela vastidão?

Past tropeçou no puro nada, caindo de joelhos. Projetou as duas mãos para frente, pondo-as no chão, para que não acabasse tombando o corpo inteiro. A queda não teve nenhum som. Sentou-se sobre as panturrilhas, derrotado. O joelho doía, a palma das mãos também, e a essa altura ele já sentia suas lágrimas rolarem, criando um rastro úmido que partia dos olhos, passava pelas bochechas e seguia, até chegar no queixo, pingando sobre a jaqueta, escurecendo aquele roxo meio claro, de tom pastel. Curvou-se para frente, pondo as mãos no rosto, encolhido.

- Eu não quero... não quero morrer... - rouco, disse, às fungadas.

Exausto, curvou-se mais até a testa tocar no chão. O choro aumentou, e o resto do corpo tombou sutilmente para o lado. O choro continuou até a estrelinha adormecer...

O Vazio em Tons PastéisWhere stories live. Discover now