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— A primeira vez que nos beijamos? Os olhos de Will pareciam nebulosos e sem foco. — Eu... Sim, eu me lembro. Por que você pergunta?

Nico forçou sua crescente sensação de pânico. A condição de Will oscilava de quase bom para prestes a desmaiar, mas a tendência era definitivamente para baixo. Se isso continuasse, eles nunca desceriam o rio, muito menos chegariam ao Tártaro.

Enquanto isso, Górgira pairava sobre eles no cais. Nico tentou ignorar a vibração do vestido da ninfa na brisa fria, os sussurros girando em torno dele, ansiando por mais segredos.

— Porque as histórias ajudam. — Nico tentou parecer confiante. — Não vai demorar muito. Então vamos entrar no barco e partir.

Will assentiu.

— Ok... Bem, se bem me lembro, não foi há muito tempo.

— Não, não foi — concordou Nico.

Will observou Górgira vagando ao redor deles, como um professor monitorando um teste. Ele colocou a mão na perna de Nico.

— Não precisamos falar sobre isso agora, Nico.

— Sim — disse Nico. — Nós precisamos.

Os sussurros do vestido de Górgira se estenderam novamente:

Você estava tão sozinho na época.

Você vai ficar sozinho de novo?

Nico os empurrou.

— Foi depois que Jason morreu. — Ele desejou que sua voz permanecesse estável, para não ceder à crescente tristeza em seu peito.

— Sim — disse Will. — Assim como com Leo, você estava perturbado. Mas não com raiva. Não daquela vez. Você estava mais... — ele suspirou. — Não tenho certeza de como descrever. Eu não sabia o que fazer.

As tábuas do cais rangeram sob os pés de Górgira.

— Fazer em relação ao que?

— Sobre eu desligar — disse Nico. — Tipo, completamente. Eu nem estava chorando pela morte de Jason. Não parecia real para mim.

Como ele pode simplesmente ter ido embora?

— E Jason significava muito para você, não é? — disse Górgira. — Ele foi o primeiro a aceitar você de verdade.

— Exatamente. E eu não estava lá para ajudar. Eu não consegui salvá-lo!

Lágrimas quentes escorriam pelo rosto de Nico. Ele se afastou de Will e Górgira, de repente envergonhado por sua demonstração de pesar. Mas os sussurros o seguiram, fios de solidão e desespero envolvendo seu coração, puxando-o de volta.

Você deseja que ele volte, diziam as vozes.

Você se ressente por ele ter deixado você.

Você está preocupado que este também o deixe.

Esse último sussurro foi um soco no estômago. Nico soluçou, porque esse era seu maior medo, não era? Isso é o que ele temia que os esperava no fundo do mergulho: Will morreria. Will se sacrificaria.

Will seria deixado para trás.

— Eu estou com você — Will disse em seu ouvido. Então os braços de seu namorado o envolveram, segurando-o com força. Nico se virou até que eles estivessem cara a cara, olhando nos olhos um do outro.

Nico deveria estar cuidando de Will, não o contrário, mas Will sempre parecia saber quando Nico estava mais vulnerável. Não havia pena no rosto de Will, apenas preocupação.

Nico se inclinou e o beijou.

Não foi um beijo longo ou particularmente romântico. Seus lábios
se encontraram. Will estendeu a mão e segurou a nuca de Nico. Foi breve, foi doce e era o que Nico precisava.

Também foi exatamente o que Will fez por Nico naquele dia fora do chalé de Hades, logo depois que souberam da morte de Jason. Will beijou Nico pela primeira vez em um momento de impulsividade, algo que Nico não sabia que Will tinha nele. O beijo tinha sido igual a este, curto e doce. Então Will se afastou, preocupação em seu rosto, um
pedido de desculpas saindo de seus lábios.

Nico o havia parado. Então o beijou de volta.

Em um momento tão cheio de dor, raiva e tristeza, Will deu a ele...

Luz.

Agora Will se afastou.


O SOL E A ESTRELA • SOLANGELO •Where stories live. Discover now