Capítulo 6 - Orelhas de Coelho

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Lindo, foi tudo o que Mo Tian conseguiu pensar quando encontrou o homem parado no centro do escritório.

Estava sem a parte superior das vestimentas pretas com detalhes em dourado, os dedos examinando um corte sangrento no peito, a pele sem sequer uma mácula à exceção do machucado recente que não parecia ser tão sério. A trança volumosa, de cabelos cor da lua, era longa como uma serpente e escorria por sua coluna, ao ponto de Mo Tian tê-la perdido no meio do caminho. Ter se perdido. Suas bochechas esquentaram por ter se demorado na imagem de outro homem se despindo.

O instinto de perigo disparou quando percebeu que ele era o novo líder. Só alguns seres nesse mundo poderiam ter um aspecto divino, com tamanha beleza impecável — mas esses seres imortais não sangravam.

A confusão na sua mente já era tanta que ele quase não escutou a pergunta, dita por uma voz grave e tão gostosa aos ouvidos quanto a aparência era aos olhos.

— O que você está fazendo aqui?

Pânico. Mo Tian estava estático, mas seu raciocínio já buscava formas de responder àquela pergunta e sair dali sem maiores problemas. Como se uma chave tivesse virado em seu anterior, Mo Tian sustentou um sorriso amarelo, usando seu instintivo mecanismo de defesa para lidar com a situação — ele era bom em usar a simpatia para convencer pessoas, afinal.

— Eu, na verdade, não sou ninguém importante e não faço a mínima ideia de como vim parar aqui. — E riu, coçando a cabeça de um jeito adorável, como um cachorrinho fazendo graça. Imperceptivelmente, caminhava para trás e pousava a mão na porta.  — Desculpe interromper, senhor. Se me dá licença...

A porta foi aberta de abrupto, mas não por Mo Tian, que se assustou e deu um pulo para o lado, o coração saltando dentro do peito. Uma caravana de seis homens armados entrou no local e foi aí que Mo Tian achou que era sua hora. Eles tinham vindo para matá-lo.

Os homens entraram e se ajoelharam, batendo a armadura no chão, esperando por uma ordem. Aquele rapaz, o líder, os encarava com um visível incômodo que unia suas sobrancelhas claras, brancas como papel. Mo Tian podia sentir o fio da lâmina que cortaria sua garganta em breve...

— Eu solicitei que vocês cuidassem dele e me informassem assim que acordasse. Não fui claro na ordem?

O... o quê?

Definitivamente não era isso que eu estava esperando.

— Cães que falham em cumprir ordens não servem para mim. — Apesar das palavras duras, seu tom era solene e educado. Sua expressão, de tranquilidade. — Saiam.

Os dois homens continuaram prostrados com o corpo inteiro no chão, pedindo perdão com uma reverência digna somente do líder do clã. Se fosse Xiang Dao ali, ele com certeza usaria sua fuchen para marcar para sempre os infelizes que não cumpriram ordens simples. Naquele caso, entretanto, o homem nem estava em posse de qualquer arma.

Com a dispensa, todos os quatro saíram com cabeças baixas, mais impactados do que se tivessem recebido oitenta chibatadas cada. Tinham acabado de perder o posto de soldado, trazendo desonra às próprias famílias e perdendo todo o prestígio que vinha com o título.

Mais uma vez, Mo Tian estava sozinho com suas inúmeras perguntas.

Com aquele homem.

— Lamento por fazê-lo me ver assim. Xiang Dao não quis aceitar pacificamente a derrota e precisei me... sujar.
A voz aveludada acordou Mo Tian do seu transe e, quando encarou a figura, olhos vermelhos estavam fixados nos seus. Nunca havia visto olhos vermelhos em seres humanos em toda a sua vida. Aquele tom rubro ardente que faria qualquer um corar e desviar os olhos para outro ponto. Exatamente o que Mo Tian fez.

Revivi acidentalmente o Celestial CoelhoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt