Capítulo 2

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Eu ainda podia sentir o calor do corpo de Pierre me presionando contra a parede quando o homem desconhecido desviou seu olhar para ele.

- A cafeteria ainda está aberta? - Outro homem, que parecia estar acompanhando o desconhecido, se aproxima.

Pierre se afasta e arruma seu casaco, dando espaço para que eu possa conversar com eles. Ainda assustada, me afasto da parede e tento forçar o sorriso mais convincente possível.

- Sim, está. - Abro a porta da cafeteria e acendo as luzes novamente. - Podem ficar à vontade.

- Obrigado. - Os dois homens entram na cafeteria e se sentam em uma das mesas próximas a porta.

- Amanda. - Pierre se aproxima, dessa vez um pouco mais calmo.

- Por favor, vá embora. - Dou um passo para trás, tentando manter uma boa distância entre nós.

- Tudo bem, mas saiba que nossa conversa não acabou. - Antes de sair, ele leva uma das mãos até meu rosto e o segura. Esse era um gesto de carinho que ele sempre fazia quando estávamos juntos.

Vejo Pierre atravessar a rua e desaparecer na próxima esquina. Entro na cafeteria e pergunto aos dois homens o que eles gostariam de pedir.

- Na verdade só viemos até aqui para ajudar. Vimos a sua situação com aquele homem. - O desconhecido se levanta.

- Espera, o que? - O segundo homem também se levanta. Ao contrário do primeiro, este homem não usava uma máscara, apenas roupas de frio e luvas, além de um pequeno topete em sua cabeça. Ambos pareciam ter um corpo musculoso e atlético. - Viemos até aqui e não vamos comer nada?

- Temos que ir.

- Qual é, pelo menos um café.

O homem desconhecido olha para mim por um breve momento.

- Tudo bem. - Ouço um suspiro por baixo da máscara assim que ele se senta. - Vou querer apenas um café com leite.

- Certo. E você?

- Vou querer um cappuccino com açúcar e bastante chantily. 

- Ok. Volto em um instante.

Anoto os pedidos e vou até a cozinha, visto o avental novamente e começo a prepará-los.

O cheiro do café triturado me trazia boas lembranças. Antes de terminar os pedidos, olho por cima dos ombros e vejo os dois homens conversando, eles pareciam misteriosos, pricipalmente o mascarado. 

Na vitrine ainda restavam alguns donuts, então decidi pegar dois deles e colocar junto com os pedidos.

- Aqui está. - Retiro os pedidos da bandeja e coloco sobre a mesa.

- Não pedimos donuts. - O segundo homem me olha confuso.

- Cortesia da casa. - Com uma piscadela consigo tirar um sorriso de seu rosto. - Uma forma de agradecer o que fizeram por mim.

- Aquilo não foi nada. Estávamos apenas de passagem na hora.

- Acredite, nessa cidade isso não é algo comum de se ver. A propósito, vocês não são daqui, são?

- Não. Viemos a trabalho. - O homem do topete toma um gole do seu cappuccino. - E você, é daqui mesmo?

- Sim. Nasci e cresci na famosa "cidade do amor".

- Cidade do amor, é? Talvez essa cidade faça algum bem para você, Ghost.

O homem mascarado encara seu amigo.

- Ghost? Esse é o seu nome?

- Na verdade o nome dele é Si...

- Pode embalar para mim, por favor? - Ghost aponta para seu café e o donut.

- Claro. - Eu havia percebido que ele não encostara um dedo sequer no pedido, o que era um pouco estranho.

Embalei o pedido para a viagem e rezei para que o café não esfriasse até a hora dele beber. Café frio é o pior castigo que alguém pode receber. 

- Obrigado. 

- Desculpe, meu amigo não costuma comer fora de casa. A máscara o atrapalha. - Diferente de Ghost, seu amigo era mais tagarela e carismático. - A propósito, meu nome é Soap.

- Soap, como o sabão?

- Bem, digamos que sim.

- É um bom nome.

- E você é uma péssima mentirosa. - Soap me faz sorrir por um momento. - E o seu nome, qual é?

- Amanda. Meu nome é Amanda.

- Amanda. - Ele repete olhando para um ponto fixo. - É um bonito nome. O que significa?

- Eu não sei. Meu pai quem escolheu.

- Ele tem bom gosto.

- Quem era aquele homem que estava com você? - Soap e eu olhamos para Ghost. Ele estava quieto até então e sua pergunta havia me pego de surpresa.

- Meu ex-noivo.

- Ex-noivo?

- Sim. Terminamos há algum tempo.

- Ele não parece ter aceitado bem o termino.

- Por favor, não pensem coisa errada dele, Pierre é uma boa pessoa.

- Sim, nós vimos bem. - Os olhos de Ghost me analisavam.

- Deve estar sendo difícil para você.

- Um pouco, mas com o tempo eu estou me recuperando. 

Soap toma o último gole de seu cappuccino, em seguida ele e Ghost se levantam.

- Obrigado, Amanda. O cappuccino e o donut estavam deliciosos.

- Imagina, sou quem deve agradecer. Se vocês não tivessem intervido, eu não sei como aquela discussão terminaria.

- Estavamos apenas no lugar certo, na hora certa. - Com as mãos novamente nos bolsos, Ghost se dirige até a porta. - Obrigado, Amanda. - Sua voz pareceu fazer cóssegas nos meus ouvidos, como se os aquecessem em meio aquele frio da noite.

- De nada. - Entrelaço minhas mãos para me aquecer um pouco do vento que vinha de fora. - Podem voltar sempre que quiserem, vocês serão muito bem-vindos.

- Com certeza voltaremos. Ghost ainda está me devendo uma rodada de rosquinhas.

Aceno para Soap enquanto ele e Ghost desapareciam na escuridão da noite, como se fossem ninjas.

Fechei a cafeteria novamente, dessa vez olhando ao meu redor para ter certeza que nada e nem ninguém me atrapalharia. Puxei o gôrro para baixo e aconcheguei minhas mãos no meu belíssimo par de luvas.

No caminho para casa, uma fina camada de neve começou a cair, ao longe, a torre Eiffel brilhava com suas luzes acessas. Com uma das mãos esticadas, deixei que um pouco de neve se acumulasse nela e conforme ela caía, os olhos de Ghost me vieram a mente.

Aqueles olhos são como essa neve, frios. Mas se olhar de perto e com atenção, eles tornam-se uma obra de arte, linda e frágil.

Amor, guerra & café - Simon Ghost RileyWhere stories live. Discover now