Capítulo 2

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"Estou interpretando tudo o que vejo como um sinal e eu sei que é loucura, mas e se estiver certo? Estou aqui novamente, me convencendo a sair da minha própria felicidade, vou inventar até desistir. Eu me pergunto se deveríamos apenas ficar aqui em silêncio, porque ooh-ooh, ooh-ooh eu acho que eu falo demais, ooh-ooh, ooh-ooh, eu acho que eu falo demais" - Renné Rapp, Talk Too Much.

*

- Você é maluco! - eu o acuso no momento em que as portas do elevador se fecham e minha mãe se vai.

Milo me olha como se nenhuma palavra que eu falasse fizesse sentido, ele alisa a gravata que não tinha nenhuma fissura ou o mais simples amassado.

- Perdão, o que você disse?

- Disse que você é maluco, como concordou com a minha mãe para um jantar hoje às 19:00 horas? Sabe há quanto tempo eu fujo de jantares e almoços com ela?

- Há uns dois anos? Quando desistiu de encontrar namorados de verdade? - ele me pergunta imitando a minha posição: de braços cruzados me olhando nos olhos.

Eu forço uma risada, me afasto dele e jogo meus cabelos para trás.

- Isso não é engraçado e você não me conhece.

- Certamente que não. - ele riu, ele teve a coragem de estender a mão para mim -, Milo, prazer.

Eu acabei rindo sem jeito, é estranho e fofo e confuso e eu não sei mais o que é real ou não. Muito possivelmente estou em coma induzido pelo álcool e meu subconsciente me entregou um gostoso pra me distrair e minha mãe para me manter alerta.

- Prazer... - e então minha ficha caiu olhando para ele, uma coisa era fazer algo para tirar minha mãe do meu pé, outra coisa era colocar um estranho no meio disso. Onde eu estava com a cabeça? - Aí meu deus eu fiz uma merda tão grande!

- Sim, você fez. Mas estamos atrasados uns trinta minutos para a reunião, conversamos sobre isso  e o seu iminente arrependimento durante o almoço.

- Almoço?

- Sim, vamos almoçar juntos -, ele diz simples, com toda a certeza do mundo.

- Eu tenho um compromisso...

- Sim, comigo. Você me deve isso -, ele me olha profundamente nos olhos e a culpa no meu estômago me atinge.

E ele não me deixou contemplar minhas opções ou a minha culpa, ele apenas foi em direção a sala de reunião e me deixou sozinha olhando para suas costas largas e bonita, era uma bela bunda naquela calça, para dizer a verdade.

Eu o segui alguns minutos depois, recebi olhares feios dos meus colegas, mas me sentei tentando prestar atenção, anotei o que era possível. Essa mudança de diretor de uma hora pra outra faltando tão pouco para o começo de um ano novo significa que alguém cometeu um puta erro para ser substituído assim. Consegui escutar que Milo tinha 28 anos e estava sendo promovido devido ao seu bom e exemplar trabalho na filial da empresa em Londres. Ele era muito novo para esse trabalho, se ele conseguiu o  emprego, ele deveria ser bom, mas se ele era tão bom quanto prometia ser seria divertido descobrir, ele tinha jeito de quem sabe o que faz, mas isso não quer dizer nada quando se fala de homem, eles são campeões em serem arrogantes mesmo quando são péssimos. Também descobri que ele é de Los Angeles, mas se mudou para Londres com a mãe e estudou e trabalhou lá até agora.

Aposto que ele é filho de pais separados, não que seja da minha conta, mas a maneira que ele falou deixou claro que "eu me mudei com a minha mãe para Londres aos 16 anos", deixa algumas lacunas abertas. São os pequenos detalhes.

Eu reparei que há uma elegância e educação em seu jeito de falar, mas ele não tem sotaque britânico, o que é uma pena, porque há poucas coisas mais sexy do que o sotaque britânico. Talvez, os italianos. Todos eles. Fazendo qualquer coisa.

A Nonsense Christmas Where stories live. Discover now