Cinturinha de modelo

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São Paulo, a cidade das luzes, dos arranha-céus, cidade cheia de gente... e bem fedida pela fumaça.
Não dava pra ficar escolhendo muito quando se tratava de onde Ricardo faria suas apresentações.

Ricardo Renan de Jesus, Pedro Buco, Esther dos Santos, Rafael Galvão Norte e César Raimundo. Os cinco fazem parte da banda Zona Norte, que se encontrava no início da carreira, um pouco viralizada no tiktok, mas ainda assim com dificuldades pra se manter, visto que nenhum dos membros tinha dinheiro sobrando, e nem tinham tempo pra se dedicar cem por cento à banda... bem, exceto Ricardo, que saiu do emprego pra ter mais tempo para praticar.

Não era como se Ricardo tivesse mais dinheiro entre qualquer um deles... ele era apenas financeiramente irresponsável.

- Porra carioca, aonde que tu enfiou a gente...- Pedro reclamou, dirigindo a pequena vã. Estava chovendo, e estavam perdidos em alguma periferia de São Paulo.

- Relaxa Pedroca, já já nois se acha.- Respondeu, ajustando o GPS no suporte, tentando fazer o sinal melhorar.- A gente veio até aqui bem de boas, então é só pra frente.

- Falando em pra frente!- O rosto da única menina surgiu entre os dois bancos da frente.- Como ficou o negócio com o Luiz? Vocês ainda tão juntos ou o que?

Antes que Ricardo pudesse responder, o Rafael soltou uma risada alta.

- O que tu acha, Thé? O moleque viu que o Riachinho é transtornado e pulou fora!

- Vai se foder, Rafael!- Ricardo gritou.- Ele só não quer um relacionamento sério agora, e eu não tô afim de me apegar com alguém que sai dando pra todo mundo. É isso.

- E mais um relacionamento termina por causa do ciúmes do Ricardo de Jesus!- O potiguar disse com voz de locutor, o provocando.- A história real, Sthé, é que o Luiz é amigo de um ex.

- Coitado, não é culpa do Rio que ele é romântico e nasceu no século da putaria.- O cearense se juntou à zoação com esse comentário.

- Tá gente, não tem graça!- Esther suspirou, se virando para Ricardo.- Mas é, cê tem que se resolver com isso, Rick. Tu é muito ciumento-

- Obsessivo!- Rafael corrigiu.

- ... tá, enfim. Cê precisa entender que nem todo mundo vai te dar exclusividade...

- Cê precisa é entender que nem todo mundo quer ficar sério com um cara que o único emprego é vocalista de uma banda semi-viralizada de tiktok, e que mora na casa da mãe.- Pedro bufou, finalmente estacionando em frente ao bar Amazonas.- Cheguemo!- O pernambucano anunciou, e os outros três já se prepararam pra tirar as coisas da van.- Alguém precisava arrancar o band-aid, irmão.

- Que isso? Todo mundo tá se juntando pra me humilhar?

- Não é humilhação se é verdade.- O cearense disse, tirando a bateria do porta malas, os cinco agradecendo a Deus que a chuva havia parado.

Rio ajudava a descarregar o equipamento com facilidade. Em certo ponto, seus olhos se focaram em uma figura que havia acabado de sair dos fundos do bar. Um jovem com a expressão marrenta, vestindo calças cargo de cintura baixa com correntes prateadas, e um cropped curtíssimo que exibia a cintura perfeitamente desenhada, a pele pálida contrastava com a roupa toda preta, e as olheiras surpreendentemente, realçavam os olhos semi-cobertos pela franja.
O tal fumava um cigarro de palha, clássico "paiero" de São Paulo, com as mãos cobertas de anéis grandes, e as unhas curtas pintadas de vermelho.

- Ceis demoraram...- Foi a primeira coisa que ele disse.

- Opa foi mal, a gente é a Zona Norte, foi contigo que o Ricardo falou no telefone?- Pedro se apresentou.

Trem das onze - SPXRJWhere stories live. Discover now