O mundo debaixo d'água era previsivelmente gélido e escuro

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O mundo debaixo d'água era previsivelmente gélido e escuro. Com o campo de visão limitado às áreas agraciadas pelos feixes de luz, demorou aproximadamente dez segundos para que já não conseguisse enxergar nem o resquício de Caeda. Não tinha medo do escuro ou do mar, mas meu corpo me urgia para fugir, e o silêncio me dizia que algo não estava certo.

Não sentia nenhuma movimentação na água. Nenhum sinal de peixes. Nenhum sinal de vida.

Gastei os primeiros minutos de oxigênio lutando inutilmente contra a corrente, sem ter em que confiar para me guiar além das instruções de Caeda. Noroeste, disse ele, mas em determinado momento nem eu mesma sabia onde se encontrava o Noroeste.

Apertei os olhos para tentar identificar algum traço do que podia vir a ser um ninho de sereias, até que uma silhueta surgiu à minha frente. Preparei a arma, o coração parecendo querer sair pelo pescoço; fugir, foi o que o cientista me havia aconselhado, mas não queria ir embora sem ele. Apesar disso, meu corpo estava paralisado de frio e medo.

Segundos depois, entretanto, consegui identificar o que a silhueta tinha em mãos.

Não era uma sereia.

Era um menino e uma ostra enorme.

Suspirei de alívio ao que seu rosto se tornava cada vez mais claro. O cientista apontou para cima, e me seguiu pela única trilha de luz em direção à grande sombra oval acima de nós.

Fui a primeira a chegar no barco. A ostra foi a próxima a me acompanhar, antes mesmo que Caeda emergisse.

— Ajude-me. — Pediu (ou ordenou?) Caeda, erguendo o objeto em minha direção. Assim que pus as mãos, percebi o quão pesada era quando fora d'água, forçando-se para baixo contra os meus braços e os do menino. Não ajudava o fato de estar molhada, e de meus dedos estarem anestesiados com a temperatura.

— Que merda...

— Rápido!

Não tinha escolha a não ser enganchá-la com minhas unhas e puxar, arriscando quebrá-las.  Quando finalmente consegui erguê-la para o barco, o impulso me fez cair para trás. Notei o rastro de sangue pelos meus dedos, mas só consegui rir com a adrenalina.

— Isso, porra!

Um ruído rouco saiu dos lábios de Caeda, acompanhando-me no que eu deduzi ser o máximo de risada que ele conseguiria dar.

— Você tinha razão. — Disse ele.

— Hum?

— Viessa seria muito melhor para esse trabalho.

— Vai se foder. — Não consegui deixar de sorrir.

Seu braço ossudo surgiu novamente da água escura, estendido para cima como um príncipe esperando pelo auxílio de seu súdito.

— Preciso de uma mão.

— Agora você quer minha ajuda? — Debrucei-me contra o parapeito, erguendo a mão em sua direção.

Antes que pudesse segurá-lo, no entanto, algo se movimentou na água, rápido demais para que eu tivesse o tempo de processar o que estava acontecendo. Nossos dedos, antes a centímetros de distância, se afastaram até que sua mão desaparecesse por completo na escuridão.

— Caeda?

Aproximei-me do mar para tentar identificar onde Caeda havia ido. O silêncio, quebrado apenas pelo som das ondas batendo contra as rochas, arrebatou meu corpo de choque e medo.

Tinha começado a anoitecer.

E Caeda tinha sido levado.

E Caeda tinha sido levado

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O Fim de OstaraOnde histórias criam vida. Descubra agora