— Certo. — Olhei minha própria arma, namorando seu brilho metálico e sua traseira de couro fino. Pele de porco.
Eu nunca contaria isso para Caeda, mas não fazia ideia de como usar aquela coisa.
O mapa de Caeda apontava para um único canal, que se localizava entre rochas pontiagudas onde o barco com certeza não passaria, e cuja corrente possivelmente nos levaria para longe de nosso objetivo.
— Será um teste de resistência. — Disse o cientista, fitando-me com cautela. — O mar vai tentar te puxar para o Leste, então nade para o Noroeste. As rochas serão as únicas coisas nos guiando.
— Tem certeza que não preferiria se Viessa...
— O mais importante é não ser idiota. — Continuou, impaciente. — Se minhas previsões estiverem certas, temos mais ou menos uma hora até o anoitecer, mas elas possuem sono leve. Caso acordem, volte para o barco imediatamente. Não olhe para trás. Não tente lutar. Eu não vou nem tentar te salvar. Entendeu?
— Não ser idiota. — Concordei com a cabeça na tentativa de parecer decidida, ainda que meu coração batesse dolorosamente a fim de me convencer a desistir. Se mesmo Nisha me dava calafrios, não gostaria nem de imaginar o que aqueles seres eram capazes de fazer.
— Exatamente. Nisha não é a única sereia com a capacidade de metamorfose, e elas conseguem te ler como um livro. Não confie em seus olhos. Encontre uma ostra fechada no ninho delas. E deixe o excesso de roupa no barco; vamos ancorar em breve, e duvido que essa saia vá te ajudar a lutar contra a maré.
Em cerca de cinco minutos, estávamos já vestidos com os equipamentos e as máscaras que se conectavam a um compartimento de ar preso em nossas costas. Foi a primeira vez que vira Caeda sem o manto que cobria todo o seu corpo, agora substituído por um traje todo preto e justo em sua silhueta franzina.
— Pronta? — Perguntou, mas não ficou na superfície por tempo suficiente para escutar minha resposta. Sem aviso prévio, Caeda jogou a âncora no mar e mergulhou de cabeça em direção ao canal largo e rochoso, capaz de afogar até o melhor dos nadadores.
Eu não conseguia evitar minha admiração por aquele pequeno e maldito cientista. Não sei se o que mais me apetecia era sua inteligência, coragem, ambição ou sede de poder, mas sabia que tinha algo em seu mundo que mal podia esperar para decifrar.
Acho que o invejava. Queria ser corajosa como ele, e talvez respeitada como ele.
Seguindo seus passos, mergulhei também, colidindo contra a água gelada como se passasse por um portal para um outro mundo.
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O Fim de Ostara
FantasyQuando a princesa Oleandra descobre uma trágica profecia sobre sua irmã mais nova, ela decide que fará de tudo para evitá-la, mesmo que isso signifique se unir aos piores criminosos do mundo. Pois existe apenas uma pessoa capaz de ajudá-la a salvar...
Capítulo 16
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