- Oh, eu sou super a favor da mudança de ideias. Afinal, o que é uma festa sem uma boa companhia?

O Gabriel olhava para mim, com um sorriso brincalhão no rosto. Vestia uma camisa semiaberta e uns calções de praia e a sua postura revelava uma confiança irresistível.

- E qual seria o teu truque para tornar esta festa mais interessante? – perguntei, atrevida.

- Bem, acho que parte disso envolve conhecer alguém fascinante. Como tu, por exemplo.

A resposta do Gabriel tinha um tom sedutor que não passou despercebido. Ele estava a flertar comigo, e eu não conseguia negar a faísca de entusiasmo que isso me trouxe.

- Uau, não perdes tempo, pois não? - comentei, tentando soar casual.

Os seus olhos azuis brilhavam com intensidade. - Quando algo é bom, não vejo razão para perder tempo.

O modo como ele falou, com uma confiança envolvente, fez-me esquecer o facto de me ter questionado se devia realmente ficar na festa.

A música animada, os risos à minha volta e aquele estranho, mega atraente, criavam um ambiente que eu não esperava encontrar ali, no jardim da mansão. Acabei por aceitar, ainda que relutância. O Gabriel sorriu e guiou-me para mais perto da área onde a festa estava a acontecer, mantendo-se descontraído enquanto falava sobre a vida social de Londres. Ofereceu-me uma bebida, e eu aceitei.

À medida que a conversa se desenrolava, percebi que não conseguia encontrar o Leonardo em parte alguma. Uma sensação de alívio e desconforto misturavam-se dentro de mim. Por um lado, a ausência do Leonardo proporcionava-me uma sensação de liberdade, mas por outro, era estranho não ter nenhum rosto familiar por perto, especialmente num ambiente que era dele e não meu.

Continuei a conversar com o Gabriel, desfrutando da sua companhia descontraída, e aos poucos, a festa começou a parecer menos intimidante. Talvez deixar o medo para trás e arriscar-me a conhecer novas pessoas fosse exatamente o que eu precisava para me integrar.

Passado uns trinta minutos, finalmente avistei o meu meio-irmão a sair da casa da piscina, com uma morena, mas isso não foi o que me chocou. Na verdade, o meu incomodo surgiu quando o vi ir em direção de uma outra mulher, para beijá-la exatamente da mesma forma que o tinha visto beijar a empregada na noite em que nos conhecemos. Não pude conter uma careta de nojo.

Finalmente, o seu olhar cruzou-se com o meu e um misto de surpresa e irritação surgiu no seu rosto, como se a minha presença o incomodasse.

- Anna, o que estás a fazer aqui? - ele perguntou, num tom de voz mais alto do que o habitual.

Ele estava tocado pelo álcool, outra vez. Será que aquilo era rotina?

O Gabriel manteve um sorriso educado, percebendo a tensão no ar. Eu senti-me imediatamente desconfortável, sem entender a razão da reação do Leonardo.

- Estou apenas a aproveitar a festa. O Gabriel foi... - tentei explicar, mas fui interrompida abruptamente.

- Não precisas de estar aqui, Anna. Vai embora. – gritou, interrompendo-me com uma expressão séria.

A atmosfera descontraída transformou-se num silêncio constrangedor, enquanto eu tentava processar o comportamento estranho do Leonardo. O Gabriel lançou-me um olhar de compreensão antes de se afastar, deixando-me ali, a lidar com o meu meio-irmão.

- O que é que te deu? - perguntei, irritada com a atitude dele. - Por que afugentaste o Gabriel? Ele não fez nada de errado.

O Leonardo bufou, claramente incomodado.

- Não precisas de te preocupar com os meus amigos. Ele só queria uma coisa, e tu não precisas de te rebaixar dessa forma.

- Isso não é da tua conta, seu idiota. Eu sou adulta e sei cuidar de mim mesma. - respondi, exasperada – Aliás, talvez eu estivesse mesmo há espera que ele me beijasse.

O Leonardo pareceu surpreender-se, e por um momento, o seu rosto exibiu uma careta que revelava uma mistura de choque e raiva.

- Não acredito que estejas a falar a sério. - ele resmungou, visivelmente irritado.

- Não estou a brincar, Leonardo. - retorqui, cruzando os braços - E mesmo que estivesse, é problema meu.

O olhar do Leonardo permanecia fixo em mim, como se estivesse a tentar decifrar alguma coisa. - Não esperava que fosses assim. - ele finalmente disse, e a sua expressão parecia mais de deceção do que qualquer outra coisa.

- Poupa-me, Leonardo.

Voltei para dentro de casa, deixando-o para trás.

Cada passo que dava ouvia-se nos corredores, acompanhado por uma vontade de espancar aquele idiota.

Como é que alguém conseguia ser tão estúpido? E porque raio é que ele tinha agido como um namorado enciumado? Eu mal o conhecia, e, no entanto, a forma como ele afastou o Gabriel mexeu comigo de uma maneira que eu não conseguia entender.

Sentei-me no sofá da sala, envolta em pensamentos e comecei a questionar não só as atitudes dele, mas também as minhas próprias reações. Por que eu me sentia tão irritada? Talvez fosse a surpresa de perceber que o Leonardo, de alguma maneira, tinha mexido comigo. Ou talvez fosse apenas a frustração de não entender o que estava a acontecer. Não conseguia entender nada. Afinal, desde que nos conhecemos foi claro que a sua vida estava num mundo diferente do meu.

Por que é que de repente, ele se importava com o facto de eu estar a conversar com alguém? Ele nem sequer me conhecia!

Inspirei fundo e liguei a televisão, na esperança de que distrair-me com algo aleatório, me fosse ajudar a esquecer esta discussão idiota, com um grande bronco que se achava no direito de dar uma de irmão protetor.  

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