DEZENOVE

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 Há algo que nunca mencionei sobre a Clara, ela era insuportável. Eu não a odiava por ela evidentemente fazer de tudo para chamar atenção do Vincent, eu a odiava por que ela realmente era insuportável.
Eu era a favor de todas as causas que ela geralmente demonstra ser, mas o nível de militância dela sobre tudo, todos, é sufocante. De um jeito, que ela praticamente não tem amigos, além de Giovanna, Enzo e Vincent, que já eram amigos dela a muito tempo.

Acho que me interpretei mal, eu não a odeio. Eu apenas não gosto dela. Não sinto verdade em qualquer coisa que ela fale. Acho ela, sim, incoerente, ela está apenas onde a convém, em todos os jeitos, falas, posicionamento e etc. Mas, eu não a odeio.

— Manoo, o Pê tá namorando. — Ouço a voz estridente do outro lado da sala.

— Quem? — ela virou o celular para Giovanna mostrando a foto do garoto, enquanto mascava repetidamente com a boca aberta.

— A gente já ficou sabe, — Giovanna apenas acenava, — mas agora é tipo irmão.

Não é como se ela não fosse inteligente, ela é. Muito por sinal, se ela não tratasse todo mundo como um jumento.

É como se Maria Clara, fosse alguém totalmente moldado e montado para ser o que pareça ser melhor que qualquer outra coisa. Que se perde ao mesmo tempo no personagem, diversas vezes.

É por conhecer ela a tanto tempo. Que eu sei que todos os dias, todo santo dia, sem qualquer falta, ela arruma um jeito de chamar atenção de todo mundo unicamente para ela.

Durante a troca de professores eu aproveitei para encher minha garrafinha. Apesar da regra implícita para não sairmos das salas durante a troca de professores, é quase impossível já que algumas vezes realmente são necessárias.

O pátio da escola estava em completo caos de agitação e calor. Os adolescentes se espalhavam pelo espaço, formando grupos, conversando, rindo e paquerando. Alguns ouviam música nos fones de ouvido, outros jogavam bolas de papel no outros. Lúcio, era monitor a quase cinco anos e era o mais respeitado entre todos os monitores, já que ele sempre entendia o lado dos alunos, apesar de ser rígido. Ainda eram nove horas da manhã e o sol já castigava sem piedade, fazendo suar as testas, as camisetas, axilas, tudo, deixando o cheiro horrível. O ar estava abafado e poluído com o barulho dos carros, das motos, os ônibus e um carro de som irritante anunciando um circo que acabará de chegar.

— Marília, — Joana toca meu ombro, viro-me e vejo-a de moletom, isso realmente não é nada bom.

— Calor da boba não? — Disse e sorri.

— Eu to com um pouco de frio, — ela me acompanhou até o bebedouro e esperou até eu encher ela, — eu posso dormir na sua casa hoje?

— Claro, já vai depois da escola?

— Chego lá ás quatro, depois que o sol esfriar, sabe? — balanço a cabeça confirmando.

— Vou fazer bolo para a gente.

— Obrigado, sério.

Caminhei calmamente de volta para sala, o professor sempre demora a chegar, por que fica tomando um cafezinho antes de trocar de sala. Me aproximei da janela e ouço umas vaias e gritos.

— E daí? Qual o probrema? — Ouço a voz de Giovanna, antes que eu pudesse entrar na sala.

— Probrema?! — Luíza arregalou os olhos, como se estivesse indignada. — Seu português é o problema!

— O que boba é isso? — Perguntei, Vincent me encarou com um olhar suplicando ajuda imediatamente. O que caralho aconteceu em menos de cinco minutos quando eu sai?

— O problema aqui, é que essa garota irresponsável, devia ter nos passado as informações do projeto geral e não fez nada disso. Sério, quem votou nessa imbecil para ser representante de sala, é mais idiota que ela.

Maria Clara que antes parecia indiferente a Luíza no momento, virou-se com aquele olhar soberbo e quase teria ido para cima, se Evandro e Vincent não a tivessem segurado firme.

— Olha aqui, sua crente do cu quente, ainda tem muito tempo. E você nem me deu chance de falar, eu já ia contar.

— Teu cu, que ia. Com toda certeza nem foi a reunião, mas podemos tirar a dúvida com a professora Carla.

— Façam o que quiserem, eu dou a mínima. — Ela apenas saiu da sala, sem dizer mais nada, nem olhar para trás.

— Eu ainda não entendi.

— Aquela filha de uma...

— Calma, irmã. — Enzo disse, tentando tocar em seu ombro, mas tomando um tapa forte na mesma. — Ai, boba da peste.

— Olha, houve uma reunião dos representantes de turma, haverá a apresentação de um projeto a sala mais votada, vai ganhar uma viagem para Maragogi, com tudo pago. Ela nem estava lá, eu soube pela Pérola.

— Se quiser eu falo com a professora Carla, para pegar mais informações.

— Seria ótimo, Marília. Todos aparentemente concordaram em ajudar.

Ela não era uma pessoa totalmente ruim eu diria, ela só não era flor que se cheire. 

COM AMOR, SUA ESCRITORAWhere stories live. Discover now