NOVE

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Quando eu fico nervosa, além de limpar e fazer diversas atividades ao mesmo tempo, sem focar em nenhuma em específico, eu costumo cozinhar. Muitas vezes até mesmo exagero na quantidade de coisas. Eu aprendi a cozinhar com a minha avó materna, Maria Antônia, com ela eu aprendi que cozinhar é mais que apenas comida, é amor e arte.
Minha avó costuma dizer que cozinhar é como criar uma poção, uma mistura de ingredientes e temperos magníficos. A culinária é um presente de Deus a nós meros mortais...
Eu poderia passar horas e horas cozinhando e não ficaria cansada, seria apenas poético e tranquilizador.

Hoje é terça-feira, cancelaram a aula por causa de uma reunião do conselho. Mesmo sem aula eu continuo acordando cedo, acredito que seja o hábito, já que apesar da minha mãe estar em casa, eu costumava cozinhar para nós duas, ela estava sempre cansada demais, eu tentava diminuir suas tarefas e obrigações. Eu me lembro que costumava pensar que como ela estava sempre cansada, se eu ajudasse talvez, ela tivesse tempo para mim.

— Bom dia, — ouço a voz dela entrando na cozinha. Ela cambaleou ainda sonolenta e se jogou exausta na cadeira. — Dormiu bem?

— Bom dia, bença?

— Deus te abençoe, — ela passou a mão no rosto, completamente marcado pela exaustão do trabalho, o uso de máscara e mais uma porrada de coisas. Como eu poderia reclamar de alguma coisa? Como eu poderia dizer a ela que estou em desespero por causa das cartas? E de um garoto que provavelmente não sente o mesmo por mim. São coisas sem importância, só causará dor de cabeça para ela.

— Ovos mexidos e batata? Tem bolo, se preferir. — Indaguei enquanto colocava o bolo na mesa. Seu olhar claramente dizia que a mesma ainda estava acordando. Depois de plantão ela costuma dormir algumas horas seguidas, vai resolver algumas coisas, fazer compras, depois tenta descansar antes de outro plantão.

— Obrigado, meu bem — ela se levantou e pegou os pratos, talheres e se serviu. Eu sentia que suas palavras de plumas arranharam minha alma, pois eram como um rádio sem sintonia.
Ambas comemos em silêncio por alguns minutos. Não era um silêncio desconfortável e nenhum de nós
estava incomodada com ele, nos acostumamos. Em alguns sentidos, nós servimos para morar
juntas em paz e tranquilidade… Não para sermos melhores amigas. Como deveríamos ser.

— Um amigo vem fazer um trabalho aqui, — eu disse, quebrando aquele silêncio. Ela tirou os olhos do celular por alguns instantes e confirmou com a cabeça.

— Eu tenho dois dias de folga semana que vem, quer fazer alguma coisa? Podemos ir assistir um filme, ir na casa da vovó.

— Seria ótimo, — dei um sorriso sem jeito. Ela raramente tinha dias seguidos de folga, quando tinha sempre fazia planos para a gente. Que nem sempre acabavam sendo concluídos, eram apenas planos e acaba que você não se decepciona de verdade, se você já espera a decepção.

O céu estava claro, com um clima estável e agradável, como sempre eu tinha muitas coisas para fazer antes que o Vincent chegasse. Comecei lavando as calçadas, regando as plantas, aproveitei para colocar ração no pote comunitário, um vizinho construiu para que os gatos e cães da vizinhança tivessem alimento, geralmente eu levo para os gatos. Há um em específico, que eu chamo de Galochas, pois o pelo de suas patas parecem galochas. Ele é um gato adorável, não se sabe exatamente a idade, e aceita de bom grado, por sua ansiedade, carinho de todos os "estranhos" da rua. O que pode ser extremamente perigoso em outros casos, mas no caso da nossa rua, ele está seguro.

Quando reponho a ração no pote, vejo Galochas, se aproximando correndo. Suas patinhas curtas deixavam a cena extremamente fofa, ele se esfregou nas minhas pernas, miando. Toquei em sua cabeça e fiz um carinho.

— Olá, Galochas.

Ele miou em resposta e se direcionou até a ração. Alguns gatos começaram a se aproximar para comer e beber água, verifiquei os potes dos cachorros, que estavam pela metade e ainda havia alguns comendo.

COM AMOR, SUA ESCRITORAWhere stories live. Discover now