FENÔMENO - Lisa

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Quando abri os olhos de manhã, havia algo diferente.

Era a luz. Ainda era a luz verde-acinzentada de um dia nublado na floresta, mas de certa forma estava mais clara. Percebi que não havia um véu de neblina na minha janela.

Pulei da cama para olhar para fora e gemi de pavor.

Uma fina camada de neve cobria o jardim, acumulava-se no alto de minha picape e deixava a rua branca. Mas essa não era a pior parte. Toda a chuva da véspera havia se solidificado — cobrindo as agulhas das árvores em fantásticas formas e fazendo da entrada de carros uma pista de gelo liso e mortal. Para mim, já era difícil não cair quando o chão estava seco; agora devia ser mais seguro voltar para a cama.

Minho saíra para o trabalho antes que eu descesse ao primeiro andar. De muitas maneiras, morar com ele era como ter minha própria casa, e eu percebi que me divertia com a solidão, em vez de me sentir solitária.

Engoli rápido uma tigela de cereais e um pouco de suco de laranja direto da caixa. Sentia-me empolgada para ir para a escola e isso me assustava. Eu sabia que minha expectativa não vinha do ambiente estimulante de aprendizado, nem de ver meu novo grupo de amigos. Para ser sincera comigo mesma, eu sabia que estava ansiosa para ir para a escola porque veria Jennie Kim. E isso era uma grande estupidez.

Eu devia evitá-la inteiramente depois de meu tagarelar desmiolado e constrangedor de ontem. E eu estava desconfiada; por que ela mentiria sobre os olhos? Eu ainda tinha medo da hostilidade que às vezes sentia emanar dela, e ainda ficava sem fala sempre que imaginava seu rosto perfeito. Estava bastante consciente de que minha praia e a praia de Jennie eram universos que não se tocavam. Então eu não devia estar com essa ansiedade toda para vê-la hoje.

Precisei de toda a minha concentração para descer viva a entrada de carros de tijolos congelados. Quase perdi o equilíbrio quando finalmente cheguei à picape, mas consegui segurar no retrovisor e me salvar. Estava claro que o dia de hoje seria um pesadelo.

Dirigindo para a escola, me distraí do medo de cair e das especulações indesejadas sobre Jennie Kim pensando em Seungmin e Han, e na diferença evidente no modo como os adolescentes daqui reagiam a mim. Tinha certeza de que estava com a mesmíssima aparência que tinha em Phoenix. Talvez fosse só porque os meninos de minha cidade tivessem me visto passar lentamente por todas as fases desajeitadas da adolescência e ainda me vissem dessa forma. Talvez fosse porque eu era nova por aqui, onde as novidades eram poucas e raras vezes aconteciam. É possível que minha falta de jeito incapacitante fosse considerada simpática, e não ridícula, tornando-me uma donzela em perigo. Qualquer que fosse o motivo, o comportamento de cachorrinho de Seungmin e a aparente rivalidade de Kai com ele eram desconcertantes. Eu não tinha certeza se preferiria ser ignorada.

Minha picape não parecia ter problemas com o gelo escuro que cobria as ruas. Mas dirigi bem devagar, sem querer traçar uma rota de destruição pela rua principal.

Na escola, quando saí do carro, vi por que tive tão poucos problemas. Uma coisa prateada atraiu meus olhos e andei até a traseira da picape — apoiando-me com cuidado na lateral — para examinar os pneus. Havia neles correntes finas formando losangos. Minho se levantara cedo, sabe-se lá a que horas, para colocar correntes de neve na mha picape. Minha garganta de repente se apertou. Eu não estava acostumada com alguém cuidando de mim e a preocupação muda de Minho me pegou de surpresa.

Estava parada junto ao canto traseiro da picape, lutando para reprimir a onda de emoção que as correntes de neve me provocaram, quando ouvi um som estranho.

Foi um guincho agudo e estava se tornando rápida e dolorosamente alto. Olhei para cima, sobressaltada.

Vi várias coisas ao mesmo tempo. Nada estava se movendo em câmera lenta, como acontece nos filmes. Em vez disso, o jato de adrenalina parecia fazer com que meu cérebro trabalhasse muito mais rápido, e eu pude absorver simultaneamente várias coisas em detalhes nítidos.

Crepúsculo | JenlisaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora