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Já são por volta das 9 da manhã quando o cheiro de Azriel toma o local.

Aquele cheiro gelado de amoras frescas.

Ouço suas asas farfalhando no corredor, e seus passos silenciosos se param ao balcão atrás de mim.

Estou na cozinha, fazendo um chá, quando ele entra.

Me viro para ele, vai que ele me ataca por trás.

Ele inspira fundo, enquanto aqueles olhos escuros passeiam pelos traços de meu corpo.

Todas as curvas, defeitos, locais.

Sua boca se comprime, contendo o ódio que sinto quando suas sombras ondulam.

Ele olha tudo.

Sua expressão, não é nada boa.

— Ele... — Ele inspira, parece querer explodir tudo a sua volta. — Te tocou? — Seus olhos encontram os meus, e posso ver mágoa neles.

Um nó se forma em minha garganta.

— Eu quis. — Me viro novamente para a chaleira, e despejo o líquido no copo — Se for para ficar zangado com alguém, fique comigo.

As sombras, antes furiosas, se transformam em um mar de calmaria.

Ele suspira, posso ouvir o barulho de seus batimentos se desacelerando.

— Você... Gosta dele? — Ele pergunta.

Me viro para ele novamente, dando a volta no balcão, paro em sua frente.

Ele inclina o rosto para baixo, e eu ergo o queixo.

— Você transou com Nestha por que gostava dela? — Pergunto furiosa, me sinto injustiçada. — Ou você transou com ela para ver se aquela porra de boceta lascada te faria esquecer alguns de seus problemas por pelo menos alguns minutos?

Azriel apenas me olha, e assente com a cabeça.

Suas sombras se afastam de mim, e pela primeira vez sinto ódio de Azriel.

Caralho, apenas porque sou mulher e não costumo transar, significa que gosto de alguém apenas porque dou?

Continuo com o queixo erguido. Quero soca-lo, chuta-lo, queima-lo vivo.

Mas ao mesmo tempo quero beijar ele, abraçar ele, e me desculpar por tudo.

Ele aproxima um pouco mais o rosto do meu, e seus dedos ásperos se erguem para tocar em meu pescoço.

— Você está quente. — Seu hálito sopra meu rosto, o cheiro de menta invade minhas narinas.

— Eu acho que sei o porque. — Digo, o encarando.

Um sorriso vacilante escapa dos lábios do mestre espião.

— Nestha teve um aborto espontâneo. — Ele diz.

Meu coração se aperta.

— Pela mãe. Que coisa horrível.

Azriel com os olhos marejados concorda.

— Eu nunca vou saber se aquela coisa era mesmo minha.

Estapeio seu peito.

— Não fale assim de um bebê.

— Nunca me perdoaria se eu fosse pai daquela criança. Porque sei que ela não teria o pai que merece. — Ele solta, com a voz rouca. — Desde que te vi, coisinha, eu soube que se fosse para eu ter filhos, seria com você.

Aquelas palavras atingem meu coração como se fossem pedras.

Ele quer te filhos comigo?

Ele...

Será que...

— Azriel. — Chamo.

Ele ergue as sobrancelhas, sibilando para eu dizer.

— Você... — Sou interrompida por passos.

Azriel franze o cenho, e suas sombras sussurram algo para o mesmo. Que em questão de segundos puxa a minha cintura, e me arrasta para o canto mais escuro da cozinha, suas asas formam um casulo a nossa volta, e ele me oculta nas sombras.

Mas que porra...

Logo ouço passos entrando na cozinha.

Não de uma pessoa, de duas.

— Você não pode deixar Azriel continuar cuidando de Venna, sabe o que vai dar. — Uma voz feminina sussurra, desesperada.

— Não tenho escolha. Ou é isso, ou minha irmã morre antes mesmo de chegarmos a tumba. — Explica Lenyck.

Ignoro a mágoa que se acumula em meu peito com tais palavras.

Sinto a mão áspera de Azriel atravessar minhas blusa, e acariciar a pele de minha coluna.

Seus dedos traçam uma trilha pela mesma, me fazendo arrepiar e arquear a cabeça para trás.

Estou de frente para a parede, e os braços de Azriel estão me cercando. Com a bunda colada em seu quadril sinto a rigidez do mesmo quando tento me ajeitar.

Sinto seus lábios gélidos entrando em contato com meu pescoço, beijando levemente me levando a loucura.

Rapidamente toda a putaria cessa quando ouvimos...

— Sabe que se não for você a mata-lo, vai ser Amarantha. E consequentemente Ravena vai junto. Eu vi isso.

Sinto Azriel, seus beijos, e suas mãos congelarem a minha volta.

— Elain... — Diz ele, através do laço.

O que ela faz aqui?

Por que ela está aqui?

Como ela chegou aqui?

— Fale baixo, porra. Se descobrirem que você vem aqui explanar metade da Corte Noturna para mim, fodeu para nós dois. Venna me mata, e Azora e Kira ainda ajudam. — Sussurra Lenyck, com ódio.

Há, mal sabe ele.

Não acredito que ela nos traiu. — Diz Azriel.

— Ah, surpreso meu bem? Adivinha quem colocou na minha cabeça de que você estava comigo por interesse. E de que a Corte Noturna estava apenas me usando para os próprios fins. Tcharam, ela mesma, Elain.

Sinto as mãos de Azriel se apertarem em minha volta.

— Calma, amor. Ninguém está por perto — Ouço aquela puta loirinha dizer, e mais passos ecoam.

Logo um barulho de...

Beijo.

Não acredito.

Em alguns minutos, esses barulhos de beijo evoluem para os de estocada.

Eles estão fodendo.

Na porra da cozinha.

Aí, meu chá vai esfriar, esqueci dele.

— Elain nos traiu, Leny te traiu, traiu a fodida daquela rainha, e você saiu da Corte Noturna porque Elain te disse que... Pelo mãe, Rave.

Parece bem pior do que é ouvindo ele dizer assim.

Logo ouço um sorriso se formar nos lábios de Azriel.

Putz, surgiu idéia.

Suas mãos ásperas sobem por meu corpo, e uma pousa em meu pescoço.

Ainda estou duro, amor. Vamos aproveitar esse momento para tirar o cheiro de Azora da nossa boceta?

Reviro os olhos, e contenho o sorriso.

Por que não?

𝗖𝗢𝗥𝗧𝗘 𝗗𝗘 𝗟𝗨𝗭 𝗘 𝗦𝗢𝗠𝗕𝗥𝗔𝗦 || 𝗔𝗭𝗥𝗜𝗘𝗟 Where stories live. Discover now