Interlude

319 35 46
                                    

INTERLÚDIO

LILY

Lily sempre amou a calma antes da tempestade. Ela achou tão poético como o ar congelava, o vento cessava e até os pássaros apenas ouviam a única maneira que a natureza tinha para avisá-los.

E ela sempre foi muito observadora.

O pai dela era pescador, eles moravam perto do oceano, nos docs, no norte da Inglaterra. Às vezes, o pai dela saía para o mar durante dias a fio, sem dizer uma palavra. Ela aprendeu quando parar de se preocupar com ele, se ele lhe daria um beijo de boa noite naquela semana, se iria ao show de talentos da escola dela. Se algum dia ele apareceria para jantar. Ela parou de se importar. Mas ela nunca parou de preparar jantar o suficiente para ele.

Uma vez, ele estava bêbado, ele disse a ela o quanto sentia muito por nunca ter estado lá e queria contar a ela um segredo, algo que pudesse ser só deles, algo que eles pudessem compartilhar mesmo quando separados. Ele disse: “Querida, se você precisa saber se vou voltar, verifique as ondas”. Ela estava tão confusa. Ele a arrastou para fora, mostrando-lhe como a maré recuou. "Há uma tempestade chegando, Flor."

Depois disso ela iria à praia sempre que o céu escurecia. Sempre que ela via as ondas ficando para trás, ela sabia que a tempestade estava chegando. Isso a deixou em conflito. Feliz que seu pai estava voltando. Aterrorizado com a possibilidade de que ele não voltasse. Ela estava em paz, mesmo que ele não voltasse, pelo menos ela saberia. Ela poderia parar de esperar. Em uma tempestade, ele não voltou, e foi isso.

Ela sente isso agora, com Marlene. Como se as marés estivessem recuando. Ela sente aquela calma, aquela sensação de paz.

A respiração de Marlene está estável, seu peito subindo e descendo faz Lily se esforçar para não pensar em todas as maneiras como Marlene a faz se sentir em casa, em todas as maneiras como Marlene a lembra do oceano. As nuvens estão aqui e o céu escureceu e mesmo assim, mesmo assim, está como era antes. Um reflexo familiar de anos atrás.

Lily gentilmente acaricia o cabelo de Marlene atrás da orelha, sussurrando seu nome.

"Marlene?" Ela toca a lateral do rosto timidamente, como se pudesse deixar uma cicatriz se ela empurrasse com muita força.

Em cima dela a loira se mexe, virando-se lentamente para ela com um sorriso preguiçoso no rosto. Um sorriso clássico de Marlene, do tipo que Marlene usa quando estão juntas e sozinhas. Algo que faz o peito de Lily apertar toda vez que isso acontece, ela guarda cada sorriso em um cantinho do peito, perigosamente perto do coração.

"Oi amor." No minuto em que elas se olham, a expressão de Marlene muda: "Você está bem?"

"Eu-" Nenhuma outra palavra sai de sua boca. Ela não pode falar, ela não pode lidar com isso agora.

A água ainda está quente.

Elas ainda são elas.

Marlene ainda sorri para ela. Ainda parece a mesma.

Então, Lily a beija.

E ela ainda tem o mesmo gosto.

O beijo é brutal, Lily está lutando contra si mesma e, mesmo tendo apenas um braço, Marlene ainda está vencendo. Cada vez que ela toca Lily ou gira a língua daquela maneira que só ela sabe, ela vence. E Lily permite. Ela choraminga na boca como uma bandeira branca agitando a derrota.

Marlene sempre sabe o que Lily quer. Na verdade, é estranho, se você pensar bem. O que Lily não faz, muito ocupada se concentrando na sensação dos dedos de Marlene deslizando por sua barriga, suas mãos quentes deixando um rastro de desespero na pele de Lily, imprimindo-se em sua pele. No momento em que Marlene a toca onde ela deseja, ela é uma alma perdida.

The blood in your mouth - JegulusWhere stories live. Discover now