Capítulo IV

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Capítulo IV: Os meios não importam quando se trata do objetivo final

Táhlia disse-me uma vez, que o motivo da bruxaria ser considerado um sacrilégio era pelo seu nível de destruição; Não pelo seu poder destrutivo, mas o que ela poderia causar ao homem.

Ela corrompia-o. Fazia de todo ser humano um prisioneiro, um pecador.

A feitiçaria vinha da natureza, por esta razão, o poder dos feiticeiros era natural e dado por Deus. A bruxaria não. Ela era algo não-natural, um poder concedido através de inúmeros pecados.

Houve aqueles que chamaram a bruxaria de magia do mal.

E eles não estavam errados.

Olhei-o atentamente de cima, estava agachado e sobre os joelhos, fitava o corpo deitado de bruços apenas cinco centímetros de mim. Suas pernas e braços estavam afastados. Suas vestes escuras pareciam amarrotadas, mas não tinham sinais sequer de sangue na sua jaqueta ou calça, nem sapatos, muito menos uma poça vermelha ao seu redor. O corpo daquele homem estava extremamente pálido e seco, sua cor alva parecia-lhe ter ganhado um tom muito acinzentado. Jamais vi um tom de pele naquela cor, ou que a pele branca poderia alcançar a tonalidade cinza após a morte, nem mesmo um corpo em decomposição tinha essa cor.

E então a sua cabeça, seu rosto repleto de horror estava virado para o leste, na mesma posição do nascer do sol, seus olhos estavam abertos, eram redondos e castanhos, negros por assim dizer, pareciam estar olhando para cima, através da franja de seu cabelo liso e escuro, procurando por alguma coisa. Talvez olhando para alguém? Haviam aqueles mesmos símbolos esquisitos que encontrei no apartamento do ruivo que matei, os mesmos que encontrei também pela cidade, eles estavam espalhados pelo seu rosto; Um evidente desenho de uma serpente gravado na sua bochecha esquerda, profundo o suficiente para deixar as marcas de qualquer que seja a lâmina que o fez, uma vareta percorrendo a silhueta do seu nariz adunco até o seu queixo forte e suas asas alçando acima das pálpebras de ambos os olhos pelo seu rosto oval, deixando um inchaço profundo e muito escuro no rosto, no tonalidade roxo, e claro, tinha aquele número 7 na lateral direita do seu maxilar.

— Era isso que estava planejando, Siegren? — Questionou-me, Mori com sua voz desdenhosa. Ele estava de pé, próximo a mim, encarando de longe o corpo dentro do círculo desenhado, pelo que parecia ser um giz branco.

— Fiz uma aposta. — Respondi simplesmente, dando de ombros a ele.

Mori estava consciente que quando o sol nascesse, o assassino de aluguel que enviou não iria voltar.

— Você é péssimo em apostas. — Retrucou.

Franzi a testa, pensando que pudesse ter perdido mais dinheiro com esse meu joguinho.

Encarando o assassino de aluguel morto, pensei que se ele tivesse sucesso em encontrar as bruxas do Papá Dubois e eliminá-las, seria uma grande vitória, porque isso acabaria excitando-o a sair. Mas esse homem acabou falecendo, ele teve um destino trágico e seu corpo deixa-me perceptível qualquer que seja o ritual que usaram. Graças ao nosso 'amiguinho' Phillip, pude começar a entender o que estava acontecendo nessa cidade.

— Eu não posso perder sempre, Mori, alguma hora preciso vencer! — Afirmei eloquentemente, enquanto um suspiro saia dos meus lábios. Bati minhas mãos sobre meus joelhos e me ergui de pé, ficando lado a lado do moreno.

Tudo que fiz até agora foi uma aposta e considero que não sou o único apostando nesse jogo, mas às vezes acabo sendo refém da minha própria sorte para conseguir sair vitorioso. Precisei de muita sorte para encontrar esse corpo antes que os guardas de distrito aparecessem e o levassem, caso tivesse acontecido de fato, eu nunca saberia de nada disso. Poderia acabar demorando para descobrir que essas bruxas de merda secam o corpo e fazem um ritual bizarro, que não há uma gota de sangue.

Nascido para MatarWhere stories live. Discover now