Capítulo II

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Capítulo II: O inferno são as outras pessoas


Estiquei meus pés em cima da mesa de Cokie, parecendo estar dando-me bem para manter a pose de dono do próprio negócio. Escutei passos impertinentes se aproximarem no corredor, meu sorriso crescia com a ansiedade que alastrava-se no meu peito. Olhei para os dois seguranças ao meu lado, Chad, o segurança mais alto e musculoso, possuía cabelos castanhos e mais bagunçados, ele tinha um enorme olho roxo no lado direito do rosto. Então tinha o segurança mais baixo, cabelos lisos e castanho-avermelhados, ele tinha dois papeizinhos enfiados nas narinas, Marshall não falava muito e sempre me olhava de modo sério como se estivesse suportando-me naquele momento por estar no controle da situação. Apenas continuei ignorando os olhares fuzilantes que Marshall lançava.

Estava muito bem vestido para aquela ocasião; usava um terno azul-marinho, um casaco curto e escuro por cima do traje e até roubei as abotoaduras em formato de "C" prateadas de Cokie para usar nas minhas mangas. Tinha que admitir que a elegância da burguesia combinava comigo, assim como o seu dinheiro. Estava sentado na poltrona marrom de Cokie, no seu escritório mal iluminado pelas cortinas escuras que impediam a luz do sol de atravessar o local. Era uma sala bastante espaçosa de cores pastéis, assim como todos os móveis nela, tinha duas estantes de madeira enormes, contendo livros e caixas cheias de arquivos no meio da sala, tinham também vários quadros fotográficos espalhados nas paredes do que pareciam ser de familiares do clã MacMillan. Eram uma família de gorduchos.

Me perguntei ao encarar um dos quadros em preto e branco: Como é que a esposa do Cokie parecia mais com Cokie do que ele mesmo? Foquei-me na mulher com rosto rechonchudo devidamente maquiado. Eles tinham o rosto redondo bastante similar, tirando o cabelo liso e loiro, aquela senhora pelo menos, na fotografia, não parecia ser calva. Ainda tinham os dois filhos, o menino e a menina eram as cópias exatas de seu pai.

Escutei os grunhidos de alguém tentando extravasar com o pano enfiado na boca. Olhei imediatamente para Cokie, o baixinho estava amarrado no canto inferior da sala enquanto pareciam tentar despejar todo seu ódio. Podia ouvir seus xingamentos por trás daquele pano úmido. Seu rosto rechonchudo estava vermelho, mas não tão vermelho quanto deveria no seu lado esquerdo do rosto onde soquei-o. Estava roxo ali. Ele olhava-me como se quisesse me matar, seus olhos melados eram como mares perigosas. Sorri em resposta. Cokie salivava no pano enquanto estava ainda mais enfurecido.

— Pare de provocá-lo! — Ouvi Marciel me confrontar. Ele estava escorado em uma das estantes do escritório, lendo um livro que parecia de tonalidade azulada e espessura mediana e fina. Quando me virei para encará-lo, ele nem ao menos estava observando-me, mas estava bastante atento aos meus movimentos.

— Não estou fazendo nada.

Tentei me defender.

— Está sim. — Ele me rebateu com sua afirmação descabida e sem provas. Revirei os olhos e bufei fortemente. — Não esqueça do que veio fazer aqui! — Lembrou-me outra vez.

Como pode existir alguém tão chato e careta?

Batia meus dedos sincronizadamente na braçadeira da poltrona, estava começando a ficar entediado com a demora. Quanto tempo leva para alguém chegar ao escritório? Mandei aqueles incompetentes dos subordinados do Cokie me trazerem alguém. Devo dizer que o Cokie precisa arranjar pessoas mais espertas para o seu negócio, há muitos tolos trabalhando com ele. Logo ouvi passos se aproximarem da porta com rapidez, parecia ser um conjunto de dois, fiquei impassível assim que notei a porta se abrindo. Meus olhos se focaram abruptamente na entrada.

Um menino foi jogado para dentro de um covil de leões. Ele parecia completamente desorientado quando o capanga o empurrou para dentro do escritório e fechou a porta, trazendo de volta atmosfera silenciosa e profunda do local. Seus olhos percorreram repetidamente as paredes enquanto pareciam dar um nó em sua própria cabeça. Arqueando as sobrancelhas, minha expressão ficou totalmente dura naquele momento. Não esperei por aquele garoto, imaginava alguém mais velho. Apesar da altura desproporcional e o seu corpo esguio, ele não parecia ter mais de 13 anos dado seu rosto juvenil.

Nascido para MatarWhere stories live. Discover now