2000;

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O ano era 2000. Minha mãe dava a luz a uma linda menininha: eu. Em Lévis, Quebec. E por ser uma amante de música, decidiu que "Cèline" era uma bom primeiro presente. Afinal, o nome é o primeiro presente que os pais dão para uma criança.

O problema é que estávamos sozinhas. Ou quase sozinhas, por assim dizer. E foi assim, durante minha vida inteira até começar a ser cercada por uma multidão de rostos desconhecidos.

Primeiro: agências publicitárias. Afinal, um bebê loirinho e gordinho, pode servir para propagandas de leite e fraldas.

Segundo: Quando esse bebê começar a falar, faça com que esse bebê vire a alma do lugar e o treine como o ser mais simpático do mundo.

Assim, passará para o terceiro passo.

De agências publicitárias para comerciais e fotos em revistas, pequenas participações como figurante ou pontas em séries da Disney gravadas no Canadá.

Desde cedo, minha mãe, Camille Bourbon fez tripas coração para que eu fosse sua esperança para sair da casa dos pais dela (meus avós). Camille engravidou com 17, de um de seus colegas de ensino médio. Acontece que, meu "pai" nunca foi muito presente na minha vida. Foi um mero doador de esperma, dinheiro e problemas psicológicos.

– Então você não pôde aparecer no aniversário de 5 anos da sua filha por conta da faculdade!? Que merda de desculpa é essa!?

– Eu não tenho culpa, Camille, Montreal não é aqui na esquina!

Mesmo sentada no chão do meu quarto, com os brinquedos que havia recebido dele, eu conseguia ouvir eles discutindo. De 15 em 15 dias eu o via. Alain podia não ser o pai mais amoroso e presente, mas pelo menos, pagava uma boa escola e meu plano de saúde. Essa era a minha cabeça com cinco anos. A expressão "pelo menos" era o que bastava para tornar ele um tipo de pai agradável, que nos meus aniversários dava o presente que eu queria, ficava por 30 minutos para comer um pedaço do bolo e só voltava no ano seguinte para a obrigação anual.

Eu gostava de ter pelo menos um dia que eu fosse prioridade dele, já que na minha cabecinha minúscula, por ele ser tão endinheirado, era por isso que ele não ficava comigo ou me levava para morar em Montreal com ele: por falta de tempo por trabalhar demais.

Aprendi cedo que a inocência é a coisa mais reconfortante que existe.

Era o que bastava para meus avós se tornarem pais novamente e minha mãe, de certa forma, ser minha irmã mais velha.

– Cèl... – Minha avó pegou minha mão e me levou para a sala de estar. A sala era extremamente confortável. Paredes amarelo pastel, decorações em madeira e um piano de mogno, herança da minha bisavó.

Toda vez que começavam a brigar, bater boca e bater portas, Vovó Marie me levava para o piano. Por ser filha de professora de piano, sempre fez questão de me ensinar. Aos cinco, conheci a paixão da minha vida.

A música.

•••

2010

Aos 10 anos de idade, os programas da Disney haviam diminuído. Não cheguei a ficar famosa, porém, meu rosto estava saturado em meio aos figurantes. Por mais que com o dinheiro que conseguimos fazer durante a minha infância tivesse ajudado a minha mãe a se formar em Marketing e a sair da casa do vovô Antoine e vovó Marie, era complicado sustentar uma casa com uma criança sozinha. Ainda mais, com um salário mínimo de recém formada.

Foi então que Justin Bieber estourou além do Canadá. E foi ali, que além do piano, comecei a focar mais no canto e violão.

SUPERNOVA • ayrton senna ⏳Where stories live. Discover now