Capítulo 2 | Gilded Lily

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Ele ficou quieto, mas o seu olhar não transparecia arrependimento, de verdade. E foi quase involuntário bufar.

—De verdade, hermano, se eu quisesse alguém para mandar em mim, eu arranjaria um namorado. Ou uma figura paterna.

É claro que eu falei aquilo, já sabendo que de nada adiantava. Eu já tinha pedido cerca de um milhão de vezes, para Will deixar que eu cuidasse da minha vida. Mas ele simplesmente não aceitava. O seu lado protetor -e meio controlador, também- tomava de conta de seu peito, e dominava todas as outras partes, o que não costumava ser divertido.

—Mas o seu pai está no outro plano. -ele disse, e eu quase corrigi. Não era o meu pai. Era o nosso - E você só vai ter um namorado, quando me apresentar um cunhadinho descente.

Não existe nenhum homem descente para mim, na cabeça do século retrasado, dele. E nem menina. E nem qualquer coisa que respire e tenha um cérebro humano, porque Will estava sempre insatisfeito.

E, por mais que eu pudesse simplesmente ignorar as suas opiniões, eu não poderia. Não era simples assim. Eu... meio que precisava do meu irmão, para me ajudar a enxergar as coisas, porque, no fundo, ele tinha primeiras impressões coerentes.

William era um canalha. Canalhas se reconheciam.

Por isso, nunca teve uma vez sequer que ele apontou alguém que não prestava, e ele esteve errado.

—Enquanto isso não acontecer, vai ter que me aguentar. -ele completou.

Eu balancei a cabeça, quando disse:

—Ou não.

A única coisa que ele fez, antes de responder o meu curtíssimo comentário, foi abrir um sorrisinho, como se soubesse que não tinha a menor chance de eu deixar de aguentá-lo. O que era péssimo. Will sabia que eu precisava dele mais que tudo, e, por isso, não se importava em ser um pouco mais legal.

Afinal, foda-se, certo? Eu sempre vou amá-lo mesmo, independente de suas idiotices.

—Sem brincadeirinha, May.

Eu cruzei os braços, como uma pequena criança.

—Vai à merda. Estou com muita raiva de você.

E ele provavelmente ficaria com muita raiva de mim, se soubesse que a menos de 10 minutos atrás, eu estava roçando em um de seus melhores amigos.

—Não fique, irmã.

Will suspirou e, então, fez o que ele sempre fazia. Chegou perto de mim, apertou minhas bochechas com um pouco de delicadeza, e deu um largo sorriso, como quem soubesse que ia ficar tudo bem, depois. Sempre ficava.

E, infelizmente, não foi a sua hora de calar a boca. Por isso, acabei me perguntando se Lawrence estava conseguindo escutar a nossa conversa, quando meu irmão completou:

—Preciso repetir o mesmo discurso de sempre? - questionou, mas o meu silêncio o fez prosseguir-  Não é porque eu gosto dos meus amigos, que significa que eles são legais. E eu não quero o seu nome nas rodinhas de conversa.

Mas ele não estava se referindo a Dylan. Will sempre se referia a Zade e Trevor, os dois que andavam grudados dia e noite com ele, atazanando todo o mundo, e aos demais que andavam em suas festinhas.

Não Dylan. Dylan apenas ficava perto deles, quando estava na América, o que não era tão frequente. O guitarrista só andava com eles, para aproveitar as diversões ou coisas parecidas, e não para as perversidades. Ele não era como os outros...

—Assim, como eu não quero nenhum deles te machucando. -concluiu.

Senti um aperto tomar o meu peito. Aquilo era péssimo. Eu odiava quando meu irmão falava algo do tipo, porque me fazia pensar em memórias que eu estava sempre tentando engavetar.

Os Sons Que Fizemos (+18)Where stories live. Discover now