[03] LES BLESSURES DE L'ÂME BLESSÉE

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✢ Os Murmúrios da Alma Ferida ✢

O cheiro adocicado invadiu minhas narinas, entranhando em meu cérebro e me fazendo despertar. Minha visão ainda embaçada estranhou a luz que adentrava o quarto pela porta entreaberta. Ainda confuso, tentava entender como havia voltado para o quarto, já que não se recordava de ter vindo para o quarto antes de esmaecer na entrada da capela. A imagem borrada não deixava claro de quem se tratava, mas sabia ser uma das criadas da fazenda. Ergui-me do colchão com o corpo ainda pesado, os ombros doloridos e as pernas fraquejadas não me ajudaram a sair da cama, então continuei deitado, vencido pelo cansaço repentino.

— Eu o acordei, senhor Jeon? Posso ajudá-lo em algo? — perguntou, sussurrante. Seus ombros encolheram-se, em suas mãos estavam as minhas vestes da noite anterior, aparentemente, cobertas por terra e sujeira. Mesmo distante, meu olfato conseguiu captar o odor do seu hálito doce e, estranhamente, apetitoso. Minha garganta voltou a latejar quando presenciei, na minha mente, miragens da mulher ensanguentada.

Seus movimentos pareciam lentos demais para meus olhos acompanharem, era como se eu pudesse observar cada articulação, cada músculo do seu corpo se mover tardo. Parecia provocar, instigar com vara curta um animal devastado de fome. Minha boca encheu-se de saliva, necessitada de saber qual era o gosto daquele aroma.

A criada estava imóvel, esperando minha ordem para que saísse do cômodo, então me alcei com dificuldade, mas a ganância e a curiosidade se sobressaltaram a qualquer dor que me assolava. Fui em sua direção, parando defronte a ela. Inalei profundamente o odor que sua derme emanava, aproximando lentamente meu corpo da curvatura do seu pescoço. Dali, seu cheiro adocicado parecia pulsar, sufocar e estrangular minha garganta, tudo em uma única fração de segundos.

Sem perceber, estava apenas com as roupas de baixo, o que fez o olhar da serviçal virar-se para o lado, desconfortável com a minha seminudez. Sem o mínimo zelo, minha mão destra agarrou com firmeza a mandíbula da jovem criada, e suas bochechas coraram no mesmo instante. Meus tímpanos tiniram, como se pudessem ouvir uma oitava acima do natural, aquele som era o seu sangue fluido e reimoso, como a água espessa, por conta do lodo. Deduzi ser o seu sangue fluindo e encharcando cada vaso para corar suas maçãs do rosto.

Precisas disso, Jeongguk... Precisas desse sangue inundando sua boca... A voz voltou a assombrar meus pensamentos, estimulando algum instinto que ainda não compreendia, excitando uma besta que parecia estar em um profundo sono dentro de mim. É da tua natureza... matar. A última palavra ecoou por minha psique e fez com que agarrasse, pelo pescoço, a mulher, como quando fazem com as galinhas antes de abatê-las. Um gemido abafado, e a breve luta contra minha mão em sua jugular fez com que mais sangue fluísse pelo seu corpo.

Tão frágil... Eles são como pequenos coelhos... Meus dedos apertaram ainda mais o local, a respiração da serviçal foi cortada naquele segundo; outro gemido de agonia foi dado pela sua boca entreaberta, seus olhos esbugalharam-se, pareciam saltar dos seus orbes. Mate-a, Jeongguk. Um estalo me acordou daquele estranho transe e soltei de imediato o pescoço da mulher. Seus pés tropeçaram uns nos outros e sua respiração voltou com dificuldade aos seus pulmões. Ela começou a tossir por conta do ar que voltou a circular por seu corpo. As roupas que estavam em suas mãos caíram sobre o tapete. Entre as passadas desengonçadas, tomou o rumo para fora do cômodo. Estava desesperada, pois pude observar brevemente o seu semblante de pavor enquanto tentava salvar a sua vida dentre minhas mãos.

Ainda petrificado, talvez não estivesse respirando por alguns segundos, como se não fosse uma ação necessária. Vagaroso e cauteloso, olhei para a minha mão destra, que formigava em cada articulação dos dedos, a força empregada contra a jugular da mulher foi muito além da que costumava empenhar ao fazer qualquer tarefa braçal.

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