𝐂𝐔𝐋𝐏𝐑𝐈𝐓𝐒

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𝑀𝒶𝓇𝒾𝒶 𝒞𝑒𝒸𝒾𝓁𝒾𝒶

Acompanhei Lise até a sala do meu pai, tantos pensamentos rodavam minha mente que sequer percebi quando chegamos. Abri a porta e vi vários pares de olhos me olhando com curiosidade. É claro que não era algo importante.

- Antes que alguém diga alguma coisa, quero pontuar que fui obrigada a te buscar na sala de reuniões, fui ameaçada por todos aqui. - Eloise se defendeu olhando para todos.

- Não seja dramática, pirralha. - Resmungou Zender.

- Estávamos preocupados com sua demora, querida. Tem algo para nos dizer? - Questionou meu pai, com um sorriso largo no rosto.

Era nítido que não estavam preocupados comigo, e sim com o assunto retratado. Assim como meus pais, meus irmãos eram fofoqueiros natos, tiveram a quem puxar. Todos ali aguardavam talvez uma justificativa, uma explicação ou talvez uma narração de algo que obviamente não aconteceu. Enquanto eu, queria apenas que Peterson me dissesse tudo aquilo que se passava em sua mente.

- Oh, minha querida. - Sussurrou mamãe, ao notar meus olhos se enchendo de lágrimas novamente, pelos pensamentos.

Às vezes penso que ela sabe ler minha mente, sabe quando preciso do seu colo e toque. Mary sempre foi do tipo mãe que automaticamente me fazia associar ao conforto, enquanto Enrico a aventura.

- Vamos trabalhar, gente. - Declarou Benjamin, enquanto mamãe vinha em minha direção prontamente preparando um abraço quentinho e conselhos encantadores.

Meus irmãos se entendiam entre si, sabiam que eu necessitava de direção dos mais velhos presentes. Mas os olhares de pena em mim eram inevitáveis, e naquele momento eu não tinha cabeça para me defender, ignorei cada um.

- Foi difícil? - Perguntou mamãe, já me abraçando. Todos já haviam ido embora.

- Eu esperava mais, esperava que ele argumentasse contra todas as minha tentativas de descobrir a verdade.- Disse saindo de seu conforto e caminhando até o sofá.- Mas ele fez pior. Ele ficou em silêncio.

- Você disse tudo que queria dizer? - Questionou a mais velha.

- Eu acho que sim. - Respondi sinceramente.

- Então, não acha que Liam tem o lado dele para defender também? - A sessão de perguntas finalmente se iniciou.

- É claro que eu acho, mãe, dei essa chance a ele, mas ele apenas rebateu me chamando de egoísta, depois disso não teve chance de me dizer nada. - Declarei por fim.

Me doeu ouvir aquilo. Ele sentado naquela cadeira, olhando no fundo dos meus olhos e dizendo que eu estava sendo egoísta com ele.

Lembrar dele fazia a ponta dos meus dedos formigarem. Me fazia arrepiar toda vez que lembrava da sua voz. Fazia minha pele de empalidecer a cada justificativa. É óbvio que eu ainda sinto coisas por ele, mas ser deixada de lado por ele, depois de todo esse tempo, e ainda amargurar isso, era difícil para mim. Mas a forma como ele encarava minhas flores preferidas mais cedo no saguão me fazia questionar para mim mesma, ele se lembrou de mim de alguma forma? Lembrou quando implorei para mamãe plantar tulipas no jardim?

Essas perguntas rondavam minha mente.

- O que sentiu quando olhou nos olhos dele? - Perguntou papai pela primeira vez, quebrando o silêncio.

Era difícil não misturar emoções. Surpresa, saudade, paixão, confusão, ódio e provavelmente fúria, da parte dele.

Mas seus olhos, eu realmente senti meu corpo flutuar, minhas pernas imediatamente enfraqueceram quando seus olhos pousaram em mim. Peterson tem poder sobre meu corpo.

- Nada. Não senti nada. - Menti, desviando o olhar para meu pai, que olhava para minha mãe assim como ela olhava para ele. É óbvio que eles não iriam acreditar.

- Maria Cecília, uma vez, uma pessoa muito sábia me disse que, conforme o tempo, nós mudamos. Com o passar dos anos nossa pele está enrugada, cabelos ficam esbranquiçados, perdemos a memória e nosso corpo se modifica. Mas os olhos, eles continuam os mesmos, não importa quando tempo passe, não importa o quando você reprime esse sentimento, os olhos de quem amamos nunca muda. - Explicou ele, se levantando. - E os olhos que você viu hoje, são os mesmos daquele garotinho que você tanto amava quando pequena. - Concluiu me encarando.

- Lembre-se, filha. Liam não tem culpa de decisões que não foram tomadas por ele, ambos tinham somente doze anos, não deveria culpá-lo e nem pressioná-lo desta forma. - Ressaltou mamãe.

Tudo aquilo era um balde de água fria no qual eu não estava preparada. Mas precisava.

- Liam assim como você, foi uma vítima das mudanças da vida. - Argumentou minha mãe. - Não julgo seu ódio por ele, mas também não julgo as decisões que ele tomou diantes as circunstâncias, ninguém sabia o que se passava na mente daquela criança.

As verdades eram despejadas enquanto eu as catava de pouco em pouco, foi uma tarefa difícil não abraçar aquele homem, aquele menino, meu menino, meu garotinho que se perdeu de mim a tantos anos.

O Liam de doze anos realmente não tinha culpa das mudanças, e eu me culpo por não ter o abraçado quando ele mais precisava.

Me culpo por não ter o abraçado quando ele chorou pela primeira vez longe de mim.

Me culpo por não estar lá em seu primeiro dia de aula para ajudá-lo a se enturmar.

Me culpo por não ter ajudado ele a fazer escolhas sábias em sua adolescência.

Por não ter visto ele aprender a dirigir.

Por não ver ele se formar.

Me culpo e me culpei todos os dias nesses últimos anos. Mas e o Liam de dezesseis anos? De dezoito? De vinte? Esse Liam que já poderia fazer escolhas, me procurou como procurei ele?

A resposta provavelmente seria não. Ele teria dito isso naquela sala se fosse verídico. Teria gritado isso na minha cara.

- Dê uma chance ao tempo novamente, e deixe ele endireitar aquilo que bagunçou. - Disse papai, por fim.










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Todas As Flores Que Te Enviei - Série Os Romana's | Livro 1 Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz