𝐂𝐎𝐖𝐀𝐑𝐃

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𝐿𝒾𝒶𝓂

Apesar de odiar ver a decepção em seus olhos, de alguma forma, eu não conseguiria deixar de olhar para a mulher à minha frente.

- Eu não consigo entender Ceci. - Interrompi o silêncio e ela me olhou.- Todo esse ódio seu por mim, essa fúria, eu realmente não entendo.

Ver ela na minha frente quieta e nervosa me deixava ainda mais ansioso, eu gostaria de ouvir sua voz, nem que fosse para me xingar.

- Liam. - Iniciou- Desde quando éramos pequenos, você me dizia que seríamos nós contra o mundo, você me protegia das meninas malvadas da escola, e eu, como recompensa, levava para você a torta de maracujá que a mamãe fazia. Você adorava - Disse rindo consigo mesma. - Você amarrava o meu cadarço, me acompanhava até em casa e sempre me entregava alguma flor da rua. - Continuou, desenterrando as lembranças.

- Mas um dia, quando chegamos da escola, você entrou em casa sem ao menos se despedir. - Sua voz embargava- Você sequer olhou para trás, e eu feito uma tola fiquei no portão de casa, na esperança que você voltasse para me dizer o que havia acontecido. - Era notório a mágoa presente em sua voz - Mas isso não aconteceu. Quando minha mãe, pela milésima vez me pediu pra entrar, depois de quase três horas ali no portão eu cedi, mas logo depois vi seus pais saindo de casa com malas e mais malas. - Respirou fundo- E lá estava você, com sua pequena mochila nas costas, com uma roupa limpa e cabelo penteado.

- Ceci - Interrompi.

- Por favor, me deixe terminar. - Disse levantando a mão. Ela se levantou de sua cadeira e foi em direção a janela. - Seus pais não conheciam os meus, só conheciam a mim, mas mesmo assim deixaram seu irmão mais novo no carro e tiveram a decência de vir se despedir dos antigos vizinhos. - Ela continuava a olhar a vista da janela. - Eles vieram até nós para se despedir, e você, mesmo vendo meu olhar de confusão, ficou em silêncio, ao menos olhava nos meus olhos. Você virou as costas para mim, e foi embora, levando consigo o meu coração. - Ela se virou para mim. - Eu reconheço que você era apenas uma criança, Liam. Sei que foi difícil para você, que não conseguiu achar uma forma de me dizer que ia embora, que estava triste, mas, eu também tinha apenas doze anos, eu também estava magoada e cheia de dúvidas. - Ela se aproximava lentamente. - E pela primeira vez eu chorei por você, e não tive ninguém para me ajudar, porque era você quem me acalmava em minhas crises de choro. - Uma lágrima escorria em seu rosto, e isso quebrava ainda mais meu coração. - Naquela noite a rua inteira conseguia me ouvir chorar por você, mamãe tentava me acalmar mas o choro estava tirando o ar dos meus pulmões, eu entrei em despero. Eu não conseguia mais respirar sozinha.

Aquilo foi como uma facada em meu estômago, imediatamente meus olhos que já estavam cheios de lágrimas, começaram a descartá-las em meu rosto.

- Mamãe e papai se desesperaram e correram comigo para o pronto socorro. Meus irmão choravam desesperadamente enquanto apenas Zender e Adam acalmavam eles. - Seu corpo vacilou por um instante, mas imediatamente se recompôs. - Fui diagnosticada com a síndrome do Pânico , uma doença mental na qual era caracterizada principalmente por ansiedade, falta de ar e sensação de engasgo.

E foi nesse momento que o meu mundo desabou. Me senti inútil por não estar lá para acalma- lá, e o pior, fui embora sem contar para ela sobre tudo aquilo que eu estava sentindo naquele momento, sobre não ter seu abraço nem suas palavras de conforto quando parti. A verdade era que eu era um covarde, não aguentaria ver a tristeza nos olhos de Ceci antes de ir embora, eu não conseguiria. Agi de uma forma que pensei que ela não sofreria, eu era novo demais para saber as consequências dessa ação.

- Minha mãe perguntou se eu nunca tinha sentido aquilo. - Ela continuou- Eu disse que você sempre estava lá, meus pais agradeceram imensamente por isso. Dali pra frente comecei a tratar para que as crises não se desenvolvessem para algum tipo de problema futuro. - Disse olhando para suas mãos.

Sempre achei estranha a forma como Ceci tinha falta de ar e desesperos repetidas vezes ao dia, mas apenas a acalmava. Pensei em dizer para seus pais mas ela não deixou, sempre odiou preocupar as pessoas ao seu redor com coisas que achava banais.

- Tem algo a dizer? - Questionou, se virando em minha direção.












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Todas As Flores Que Te Enviei - Série Os Romana's | Livro 1 Where stories live. Discover now