A vingança é um prato que liberta a alma

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Em toda a vida Milan esteve sozinha, sem ver o sol com os seus próprios olhos ou sentir o cheiro com seu próprio nariz. Quando mais nova, costumava pensar que Leona temia o que uma herege de sangue poderia causar a ela, o quanto o poder de Milan poderia tira-la de seu trono imaginário e por isso tornou-se um ser horrível e controlador; exagerando em treinos para uma criança de três anos de idade.

Milan nunca foi uma criança quieta, tão pouco amoroso e ela não mentiria sobre tal coisa. Contudo um humano decente daria uma bronca em vez de deixar uma criança sem comer por dois dias inteiros, daria uma ou duas palmadinhas na mão, na bunda, até mesmo na costa em vez de chicotear a costa de uma pequena garotinha que apenas queria brincar com as borboletas.

Mas há algo que Leona disse a ela em uma noite cheia de sangue e mortes:

A vingança não é um prato que se come frio, muito menos um prato amargo.

A vingança é um prato que liberta a alma.

No começo pensou que Leona só havia dito aquilo porque estava tentando deixar o "ditado" mais verdadeiro possível, mas agora, parada em frente ao homem que fez tanto mal a alguém importante para ela, assistindo-o gritar, sangrar e suplicar para que Ayla parasse de tortura-lo, lhe causara uma felicidade absurda.

O cheiro de sangue misturado com o doce perfume de Ayla, o som da corrente balançando, os xingamentos.. os belos xingamentos de Ayla soam como um instrumental lento e calmo nos ouvidos de Milan, poemas espalhavam-se por sua mente.

Garota dos cabelos dourados que me enfeitiças, cante em meu ouvido em uma noite de chuva; dance comigo em frente a fogueira, aqueça-me com seu calor humano.

Oh garota dos cabelos dourados, deixe-me arrastar-me para o paraíso que são os seus olhos, me prenda na prisão que são os seus lábios. Oh, garota dos cabelos dourados.. me ame como a primeira e última estrela.

Milan nunca sequer teve a oportunidade de ler ou escrever poemas, porém, assim como Marie Lu e sua querida irmã Merlin o "dom da poetiza" — Como passou a implicar com S/n — veio a tona quando fôra liberta de sua cadeia. E mesmo que ela não os ache tão bons, puros ou doces como os de S/n, seus poemas são sua forma de se expressar.

Seu amor "secreto" pela obscuridade das coisas lhe inspirava em escrever poemas excêntricos e não inocentes.

Proibidos para menores de dezesseis! Foi o que escreveu no diário que ganhou de S/n, um pequeno livro de tom marrom com páginas em branco tornou-se seu maior tesouro.

Encarando o corpo ensanguentado do homem que não deve ser nomeado Homem a fez rabiscar o caderno com um sorriso em seu rosto.

Por que está sorrindo como uma psicopata?-A voz doce de Ayla a tirou de seu momento poético.— Você me assusta.-Murmurou.

— Querida -Milan sorriu.— Você não precisa ter medo de mim, não sou uma viúva negra.-Disse estendendo um lenço branco em direção a loira.

Ayla revirou os olhos, puxando o lenço da mão da Herege. Os olhos da bruxa fitaram a Herege com doçura, um sorriso fôra colocado nos lábios de Ayla e um beijo foi depositado nas bochechas de Milan, deixando-a atordoada por alguns segundos.

Nada a loira disse, apenas virou-se e encarou o corpo ensanguentado de Marcos, o porco. Milan deixou-se assistir a respiração tranquila de Ayla, os olhos analisando o rosto da bruxa calmamente; as cobras peçonhentas voltaram a rastejar agressivamente em seu interior, vibrando todo o corpo de Milan.

Seus olhos concentrados em sua obra de arte me atiçou, meu coração morto com certeza se reanimou; batendo rápido observando o rosto do meu amor.

Anotou o segundo poema mais doce em seu diário, sorrindo logo após. A Herege de sangue desfilou até a frente do homem, as cicatrizes no rosto inchado de Marcos arrancou-lhe um sorriso ainda maior.

— O que está fazendo?-Ayla perguntou, assim que viu Milan próxima de mais do corpo do seu porco. — Irá mata-lo?

— Não -Milan sorriu mais uma vez, mordendo o lábio inferior.— Ele está entre a vida e a morte, tenho uma dúvida crescendo dentro da minha mente. Se eu obter uma resposta positiva, passearei entre o mundo dos mortos mesmo estando... viva.-Explicou.

Ayla engoliu em seco e Milan pôde ver a faísca da preocupação brilhar nos olhos da namorada, fazendo-a virar-se para a bruxa.

— Não se preocupe, querida.- Milan acariciou as bochechas da loira.— Eu sou o diabo. Aqueles pequenos seres demoníacos não são nada comparados a mim.-Sorriu convencida.

— Seu senso de humor é incrível -Ayla revirou os olhos.— Brincando em um momento sério.

— Quem está brincando aqui?-Milan piscou, fazendo Ayla bufar.

A Herege deu de ombros, voltando a encarar o homem pendurado. Marcos tentava abrir os olhos, contudo logo os fechava pela luz laranja da lâmpada, os batimentos do homem estava tão fraco que Milan teve certeza que ele não aguentaria sequer segundos a mais de tortura.

Fraco

Milan passou a língua nos lábios, sentindo as presas roçarem no interior. Através de um espelho, no canto afastado do porão, a Herege notou as veias negras expostas debaixo de seus olhos. Respirou fundo, a dúvida lhe corroía e a mesma pergunta incômoda que rondava por dias a mente da Herege, martelou mais uma vez.

Profecia ou roteiro? Talvez um pouco dos dois.

A ruiva fez uma leve careta ao sentir o líquido vermelho pingar em seus pés, sujando os seus saltos. Ela bufou e levou as mãos até os ombros do homem porco. Mais uma vez puxou o ar poluído para suas narinas, fechando os olhos no mesmo momento.

Luz, ruído e um grande nada

Milan abriu os olhos, encarando o lugar vazio em sua frente. Podia ouvir sons estranhos e gritos estridentes. A Herege de sangue olhou ao redor, encontrando portas de tom amarelo espalhando-se por todos os lados.

Abriu a primeira e se viu em um hospital, caminhou pelo corredor branco ouvindo o choro de uma mulher.

Parada no quarto, ao lado do leito de uma garotinha, Milan virou a cabeça levemente para o lado; encarando o espírito da garotinha tentando confortar a mulher — aparentemente sua mãe — chorando.

Arrastada para fora daquele lugar cheirando a morte, Milan voltou para o corredor com outras portas fechadas. Mas uma a chamava de maneira quase hipnotizante, diferente das outras, ela parou em frente a uma porta preta com um L em vermelho.

Sonho? Alucinação? Realidade?

— Milan?-A voz tão conhecida por ela ecoou por todos os lados, o tom sarcástico ainda mais afiado.— Ora, ora. Veio visitar a sua tia?

— Leona, como está a sua moradia no mundo dos mortos? Posso ver que está se saindo muito bem.-Ironizou Milan, olhando ao redor quarto com moveis quebrados. Fazendo a tia ranger os dentes.

Milan arregalou os olhos, encarando a mão dentro de seu peito.

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Gente, perdão pela demora mas eu juro que eu tô tentando escrever alguma coisa dessas fics e nada sai 😭😭

𝐎 𝐂𝐀𝐎𝐒 𝐏𝐄𝐑𝐅𝐄𝐈𝐓𝐎 [ Lizzie Saltzman e S/n]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora