v. Cacá

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Notas: Quando eu comecei a planejar essa fic, esse capítulo seria da Agatha. Mas a verdade é que eu não gosto dela. 😅 Por mais que ela trate o Ramiro bem e apoie a relação dele com o Kelvin, a Agatha é, no íntimo dela, a meu ver, uma pessoa falsa. E quando eu comecei a escrever, a ideia central da fic era criar o "Jurídico Ramiro", então eu não ia conseguir fazer a Agatha funcionar porque eu não acredito que ela de fato se importe com o Rams. Não o suficiente, pelo menos. Claro que eu vou consumir histórias em que ela é uma figura materna real pro Ramiro ('Matilda', te amo) mas eu não ia conseguir escrever. Aí o Walcyr, vendo a minha necessidade, deu espaço pro Cacá e me ajudou a saber quem seria o quinto personagem do nosso 5+1. Obrigada, Walcyr! Tmj 👊

Aviso/conteúdo: esse capítulo trata de comportamento homofóbico (um pai que rejeita o filho) mas é algo que ocorre offscreen e no passado. E há reconciliação.

Espero de coração que gostem e boa leitura! ☺️


v - Cacá 

Dias após a conversa com Sidney, as palavras dele ainda atormentavam Ramiro. Tudo o que ele dissera a respeito de Kelvin estar ao seu lado, dele ser uma opção melhor que Raimunda, tinha mérito. Mas não conseguia acreditar que ele dissera, com todas as letras, que não era errado Kelvin gostar de homens. E que Ramiro não deveria apenas escolher ficar com ele, mas deveria segurá-lo "com as duas mãos, com força". 

Ouvira de tanta gente que "macho não podia ficar com outro macho"... Mas no fim das contas, como o outro peão dissera, não tinha mais ninguém por si, além de Kevinho. Apesar de estar mais próximo do pessoal do bar e do próprio Sidney, especialmente após a conversa, quando precisava desabafar ou de algum conselho, era atrás de Kelvin que ia. Desde o início, se escondera atrás da amizade que nascera entre eles e a usava como justificativa para vê-lo e buscar sua presença, mas devia a si mesmo ser honesto e admitir que o sentimento que tinha por Kevinho não era só amizade. Nem de longe. 

E a parte sobre "pensar com a própria cabeça" era a que mais lhe martelava. Era estranho pensar que nunca fizera isso na vida. Nunca tomara uma decisão por si próprio. Quando criança, obedecia a mãe, ao padre, a outros adultos. Depois, quando fora trabalhar na fazenda, obedecia aos patrões. Sempre sem questionar, sem pensar se as ordens eram justas ou corretas. Apenas obedecia e obedecia. 

E o que recebera em troca além de mais ordens? Absolutamente nada. Nenhum deles lhe estendera a mão, exatamente como Sidney tinha dito. 

Quanto mais pensava na conversa com Sidney, mais lembrava das palavras de Luana, Zeza e Nando também. Dissera a Nando que macho não tinha medo de nada, mas não era medo que ele sentia? Medo de ser julgado e excluído? Medo de estar cometendo algum pecado terrível e sofrer no pós-vida? 

Mas já não cometera um pecado capital a mando do patrão? Mais de uma vez? Se algo fosse mandá-lo para o inferno após sua morte, não seriam os crimes reais que cometera? Não fazia sentido que escolher Kevinho, tomar sorvete com ele na praça, segurar sua mão na rua (e fazer todas aquelas coisas que sonhava que o faziam acordar suado e latejando) fossem se tornar sua condenação quando já tinha pecados maiores em sua ficha. 

Queria ficar com Kevinho. Tinha que admitir isso para si mesmo. Tinha que ter coragem. 

Decidido, dirigiu até o bar. O sol tinha começado a se pôr, então não teria muito movimento ainda e poderia conversar com Kelvin no quarto dele, longe dos ouvidos fofoqueiros dos outros. 

— 'Tarde, Luana. Kevinho tá aí? — perguntou à gerente, que parecia ocupada fazendo anotações e contas, com um caderno e uma calculadora. 

— Tá lá em cima com o Cacá. — respondeu, sem tirar os olhos do papel. 

"Macho"Where stories live. Discover now