Terceiros

Floresta Vazia

Ela corria de um lado para o outro, sempre feliz e com um sorriso no rosto, eu quase a parei e perguntei porque ela estava tão feliz, mas não queria estragar o momento dela. Dava pra ver que aquele era O momento dela.

Eu passei por lá mais algumas vezes durante a semana. Segunda ela segurava uma bola e corria de um lado para o outro atrás dela. Terça ela apenas se sentou embaixo de uma árvore e leu um livro, parecia ser divertido, ela não parava de rir.

Quinta ela chegou mais cedo e consequentemente saiu mais cedo, não a vi direito, mas embaixo de seus braços havia uma sacola, ela estava cheia de folhas, algumas verdes, outras amareladas, tenho quase certeza de que vi uma joaninha em uma delas.

Eu passei a andar por aqueles lados na esperança de encontrá-la de vez em quando. Eu até encontrei, mas não sabia como chegar nela, não tinha coragem. E se ela achasse que eu sou um louco? Ou pior, um pervertido. Não, não, ainda não é o momento.

Sexta e sábado era os melhores dias para ir vê-la. Ela levava animais até a floresta e brincava horrores. Nunca eram os mesmo cachorros, gatos ou seja lá qual outro animalzinho ela quisesse levar. Daquela vez eu quase perguntei, mas alguém chegou antes de mim.

Domingo ela nunca aparecia, mas se aparecia era bem tarde ou bem cedo, era tipo quarta-feira, não era significante. Ou talvez ela tivesse algo mais intrigante para fazer e por isso não comparecia.

Eu estava decidido, eu iria chamá-la para sair,
Não.

Eu iria pedir seu número,
Não.

Eu mandarei uma carta,
Não.

Eu irei me sentar e puxar assunto, não pode ser tão difícil. Não precisa ser difícil.

Eu esperei, noites, dias e dias, mais dias do que noites e mais noites do que eu posso contar.

Ela não apareceu.

A floresta vazia agora definitivamente estava vazia. A única pessoa que a frequentava, não a frequenta mais.

Eu parei de andar por lá, estava cansado de tentar e não achar respostas.

Eu esperei algumas semanas e desta vez eu estava lá. Eu esperei, noites, dias e dias. Menos dias do que gostaria e menos noites por medo do que pudesse me esperar.

A floresta vazia, agora ainda mais vazia, me contou tudo.

Ela não irá voltar, não terá mais nenhum animalzinho, nem bolas, nem livros, ela não irá voltar.

Eu passei tanto tempo pensando no "acaso perfeito" que eu não percebi que era ela que tornava tudo perfeito.