CAPÍTULO 7

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Sir Lancelot du Lac era um rapaz alto, atlético e bem formado, de bonitas feições, olhos e cabelos castanhos, filho do Rei Ban de Benwick e sobrinho do Rei Bors de Gaul. Sir Dionas, o pai de Viviane, era, desde a juventude, um cavaleiro a serviço do Rei Bors e, após vários anos de bons serviços prestados, recebera do rei a propriedade de Briogne. Lancelot, assim, conhecia Viviane desde que ela nascera e a considerava como uma parenta, uma prima. Fora ele, aliás, que sugerira a Arthur o nome da menina, quando este manifestara o desejo de escolher uma dama de companhia para a irmã.

Sua amizade com Arthur era recente, como tudo, aliás, na vida do jovem rei, mas sólida. Começou durante a festa que Arthur ofereceu na corte, logo após sua coroação, para comemorar o dia de Pentecostes. Vários nobres compareceram, menos por motivos religiosos que para garantir alianças com o novo monarca do maior e mais importante reino da Bretanha. Os reis Ban e Bors vieram de seus reinos de ultramar, na Pequena Bretanha francesa, trazendo consigo o jovem Lancelot. Já os Reis Lot, Uriens e alguns outros menos poderosos compareceram não para render homenagens, mas para contestar a coroação, segundo eles, de um menino sem barba nem sangue real. Tão logo se amotinaram e levantaram as espadas, Ban e Bors, seguidos por Lancelot, também sacaram suas armas, mas em defesa de Arthur. Os rebeldes foram contidos e instados a deixarem a comemoração, derrotados. Poucos e desarticulados, só ajudaram Arthur a demonstrar ainda mais sua força e suas fortes alianças.

O outro fruto da rebelião foi a amizade nascida entre o rei e Lancelot desde então. A princípio, Arthur apenas se impressionou com as incomparáveis habilidades de luta demonstradas pelo jovem cavaleiro na contenção do motim. Convidou-o de imediato para ser um de seus cavaleiros pessoais. Depois, a idade semelhante, a paixão pela esgrima, pelos cavalos e pela aventura (fosse o que fosse que isso significasse para os dois rapazes), talvez até mesmo certa carência de Arthur que, criado muito isolado, nunca tivera um amigo de brincadeiras além de seu irmão Kay, catalisaram a afeição de um pelo outro.

***

Lancelot gostava imenso de montar a cavalo, mas ele e Kay deveriam ir até Carmélide guiando uma carroça, em que trariam Lady Guinevere na volta. O que era irritante, porque tornava a viagem pelo menos duas vezes mais lenta.

"Lancelot, estamos viajando há várias horas, já. Vamos parar um pouco para comer?"

"Não. Pegai algum pão e presunto aí no alforje e comei enquanto eu guio a carroça. A viagem já demorará o bastante sem paradas para petiscos."

"Concordo. E mijar, posso mijar na carroça também?"

Kay era um ruivo bastante sardento, do tipo que dá má sorte. Assim a Rainha Elaine, mãe de Lancelot, tinha-lhe ensinado. Ele esperava que a mãe estivesse errada, porque, na condição de favoritos do rei, vinham passando cada vez mais tempo na companhia um do outro, a serviço de Arthur.

Lancelot suspirou e parou os cavalos. Kay desceu da carroça carregando o alforje e, rindo, sentou-se tranquilamente embaixo de uma árvore, onde começou a comer.

"Servido, milorde?", perguntou ao amigo, que também desceu da carroça, com ar raivoso.

"Mentiroso vil! O que custa comer na carroça?"

"Estou com fome, Lancelot! E com sede! Não consigo comer na carroça. Sinto-me mal com a trepidação, dá-me enjoos e poderia sujar a linda carroça real com comida semi-digerida voltando do meu estômago! É um aborrecimento tão grande parar por alguns minutos?"

"Não, desculpai-me, acho que exagerei. Será bom comer com alguma calma."

"Sim! Não conheceis o velho adágio que diz: 'para que a pressa, se o futuro é a morte?'"

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