Capítulo 4:

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Reencontro

Com um único movimento, rápido e preciso, Sorian desarma seu oponente e o faz ficar de joelhos, aproveitando a oportunidade ele desfere o golpe final. De relance, Sorian viu um vulto se aproximando e um puxão desviar ligeiramente a rota de sua espada, numa fração de segundos rápidos demais para Sorian reagir, Felicia havia apertado o pequeno botão do punhal e entrado na frente do pai. Aquele botão era um chamado para Sheron, a espada responderia imediatamente se voltando em direção ao punhal, que é como uma extensão de si mesma. A espada perfurou ambos os corações, Sorian entendia as ações de Felícia, ela era apenas uma criança com medo de ficar completamente sozinha, que tentava desesperadamente salvar o que restou de sua família. E naquele momento se arrependeu profundamente de ter entregado o punhal para a criança.

O homem tosse expelindo o sangue negro e espesso do demônio, sua última expressão foi de gratidão por livrá-lo do controle diabólico. Embora a espada vibrasse em deleite pelo sangue demoníaco derramado, o anjo não poderia estar mais infeliz, não só matara um homem humano inocente, como também uma criança pura. Sorian matou o demônio, mas não gostou do preço pago por isso.

O grito involuntário de Sam Sadreen remove Sorian de seu transe, de volta a realidade, o anjo puxa a espada o mais delicadamente que pode, os corpos tombaram para chão coberto de lama e folhas mortas, o baque surdo ecoou pela floresta, um som que ambos os remanescentes relembrariam por muito tempo. Ainda com o coração pesado pelo remorso, Sorian levanta a espada mais uma vez, apontava para a direção da qual veio o grito.

Sadreen recobra a consciência tampando a boca com uma das mãos, seus olhos estavam esbugalhados de surpresa, ele nunca havia sentido essa sensação angustiante que o fizera gritar antes. Atônito, o ex-demônio observa a espada da punição apontada para si, seu coração batia apressado enquanto seu cérebro astuto buscava uma solução.

-Quem está aí?! Saía agora! - Ordenou Sorian.

"Fugir não vai adiantar e lutar está fora de cogitação, nesta forma patética em que estou não venceria nem contra um anjo desarmado." Sam pensou em mil possibilidades e nenhuma delas lhe dava muitas chances de escapar com vida. Sadreen optou pelo menos pior, com sorte, talvez ele conseguisse enganar o anjo com o feitiço olhos nublados, uma magia ilusória que pode alterar a forma como outras pessoas enxergam o enfeitiçado.

Da escuridão da floresta, Sam Sadreen surge como um homem de meia idade com roupas esfarrapadas maiores que o corpo, as costas curvadas, o rosto sujo e enrugado com uma barba já com vários fios grisalhos, os olhos bem fechados semi cobertos por um capuz.

- Senhor, por favor, não me faça mal - suplicou o homem - eu escutei o que houve, mas não vi nada. Como pode notar, eu sou cego.

Sorian olhava para o homem com a espada apontada para o seu peito, com um olhar de cansaço e repúdio ele indaga:

- Não ouse mentir para mim. O que um homem cego estaria fazendo no meio de uma floresta? - Sorian não esperou pela nova mentira. - Antes de inventar a próxima desculpa, saiba que minha espada sente seu cheiro fétido e podre de demônio. Quantos de vocês estão por aqui, hem?

O anjo era esperto, Sam não conseguiria enganá-lo tão fácil, pelo menos não enquanto ele estivesse com a espada da punição. O demônio não vê mais motivos para manter o disfarce e desfaz a magia revelando um homem jovem ainda na casa dos vinte anos; o corpo magro quase desnutrido não passava 1,70 metros de altura; o rosto pálido e fino; os olhos eram dourado como os de uma coruja, as pupilas negras como a mais escura das noites. Mas não foi a postura confiante, nem os olhos ameaçadores que chamavam a atenção de Sorian, era a marca em seu pescoço, a sétima letra do alfabeto da língua antiga, a letra que representava a marca de Caim, uma marca presente somente nos demônio de castas mais altas.

A Última  Esperança - Os RenegadosWhere stories live. Discover now