Capítulo 2:

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O anjo, a menina e o demônio


Flarus é uma grande cidade humana mercantil portuária, aberta para todas as espécies, famosa por sua feira onde se encontra de tudo, desde alimentos exóticos a serviços de caráter duvidoso. Por suas ruas pode-se comprar e vender qualquer coisa, um lugar onde tudo tem um preço. Claramente um local como esse se torna o destino de muitos aventureiros, mercenários e pilantras oportunistas, e para manter a mínima ordem numa cidade movida pelo ouro, uma força armada foi desenvolvida, conhecidos como Patrulheiros, era composta majoritariamente por antigos caçadores de dragões, e seus métodos são, para dizer o mínimo, imorais.

Parte da má fama dos Patrulheiros de Flarus, estava justamente em sua parcialidade, eles costumam ser bastante complacentes com os de sua espécie, os humanos, atitudes imperdoáveis para um anão ou um elfo, que seria punível com espancamento e prisão, era passável apenas com uma advertência para qualquer humano. Uma outra parte estava no fato de serem corruptos, pela quantia certa era possível garantir que fizessem vista grossa para qualquer tipo de atividade ilegal, como tráficos e roubos. Porém o que mais atraia a hostilidade contra os Patrulheiros era as "taxas de segurança", os Patrulheiros cobravam toda semana uma quantia abusiva dos comerciantes em troca da segurança de sua loja, se alguém se recusasse a pagar seu comércio era saqueado e incendiado durante a noite. Por não terem pago a taxa, os Patrulheiros se diziam isentos de qualquer responsabilidade perante ao crime.

Um sujeito bastante suspeito caminhava pelas ruas movimentadas de Flarus, o homem alto destacava-se por sua aparência miserável, estava coberto, dos pés à cabeça, por areia e lama seca, os cabelos, outrora dourados como fios de ouro, estavam agora desgrenhados e sujos, a capa escura estava puída e igualmente imunda, cobria-lhe todo o corpo, deixando claro o contorno de uma espada, seu rosto era um total desalento, estava abatido de tal forma que parecia ter perdido a sentido de viver, andando a esmo pelo mundo em busca de um propósito.

Parando de repente, ainda no meio da rua, com os olhos fechados, clama em seus pensamentos por alguma coisa, mas não obtém resposta. Com um suspiro pesado, entende que falhou novamente em criar a conexão com seus semelhantes.

- Pai, por que sentenciastes teu filho a um mundo sem tua presença? Eu sinto tua falta. Oh, meu amor maior, meu pai! - Lamuriou-se Sorian, sem se importar com as pessoas à sua volta.

- O que pensa que está fazendo, parando no meio da rua?! - Perguntou um Patrulheiro fardado. - Não vê que está atrapalhando o tráfego das carroças?! - Ele empurra Sorian violentamente para fora da rua.

- Peço desculpas senhor, eu não havia percebido que estava sendo inconveniente. - Sorian respondeu educadamente.

- Vejo que é um companheiro humano, vou deixar essa passar, mas preste mais atenção na próxima, tudo bem? - O Patrulheiro disse com um sorriso.

- Está enganado senhor, não sou um humano. - Explicou Sorian, mas o oficial já havia se afastado sem ouvir suas palavras.

Sorian olhou o Patrulheiro se afastar até se misturar na multidão. O homem moribundo não tinha um motivo para estar em Flarus, nem mesmo sequer tinha consciência de onde estava, para ele era só mais uma cidade que alcançou ao seguir uma estrada. Por muito tempo era apenas o que Sorian fazia, destituído de seu único propósito de vida, ele caminha pelas estradas sem se importar para onde elas levam. Ele suspirou pronto para voltar a sua peregrinação, deu dois passos e sentiu algo segurando sua capa, virou-se para ver o que lhe prendia.

- Senhor, por favor, poderia me dar algo para comer?

Era uma criança, uma menina de no máximo sete anos, trajava trapos esfarrapados e sujos, seu rosto magro e coberto de fuligem denunciavam o mal estado da criança, a beira de um desmaio por desnutrição.

A Última  Esperança - Os RenegadosWhere stories live. Discover now