Olhos Brancos

Capítulo 32 - Flutuando

— Ayra —

Eu sentia meu corpo inteiro flutuando, se eu fizesse força para subir mais rápido do mar fundo das minhas memórias, eu voltava a afundar. Depois de ter perdido a paciência três vezes, eu finalmente entendi que eu teria que deixar meu corpo voltar por conta. Então tive muito tempo para pensar, primeiro pensei quanto tempo tinha passado na realidade, imaginei que eu deveria ter apagado por uma ou duas horas no máximo.

Depois fiquei pensando por que isso aconteceu comigo, porque não consegui voltar rapidamente, cheguei a várias possíveis hipóteses, uma era como a habilidade funcionava, duas foi a por causa da droga que usavam lá no domo, três foi por minha falta de vontade de voltar antes de perceber como as coisas estavam boas. Quatro foi porque a minha mente funciona assim e assim foram as minhas hipóteses, eu pensei por muito tempo. Eu imaginava que tinha passado pouco tempo, mas aqui cada segundo parecia horas, afinal era como um mar visto de dentro para fora, pelo menos era bonito de ver e eu não estava completamente no escuro, eu via minhas memórias passarem por mim.

Até cheguei a pensar em entrar em cada uma das memórias para ver se iria mais rápido, aí cheguei a uma possível conclusão que preferi não descobrir se era verdadeira, se eu fosse de memória em memória poderia levar todos os meus anos de vida do momento para chegar. Eu não queria passar todo esse tempo presa em minhas próprias memórias, preferia muito mais a ideia de fazer memórias novas.

Percebi que estava quase chegando quando eu vi a memória que fiz a pouco tempo na diretoria com o Eyder, a memória em que ele disse que gostava de mim e eu admiti que também gostava dele. Eu não aguentei e entrei nessa memória, uma memória que eu realmente adorava.

Senti meu corpo continuar fluindo, subindo cada vez mais.

— Eyder —

Eu estava desesperado e Reid só me encarava, não respondeu minha pergunta por pelo menos um minuto inteiro, o que para mim pareceu uma eternidade, então eu sem paciência perguntei de novo:

— O que aconteceu com Ayra?

Ele desviou os olhos dos meus e indicou com a cabeça para segui-lo, eu o segui. Fazia muito tempo que eu não sentia tanto medo como eu sentia naquele momento, era aterrorizante não saber o que estava acontecendo, ainda mais quando se tratava de uma pessoa que eu realmente gostava.

Caminhei no encalço dele, percebi que fomos para o edifício ao lado do hotel, isso significa que era a prefeitura, onde ficava a diretoria e a casa de Reid. Ok, era óbvio que ela estaria lá, ela morava lá. Mas eu nem pensei onde ela estaria até aquele momento.

Subimos tudo, até chegarmos à casa deles, e entramos no quarto de Ayra, onde, com a luz do céu estrelado batendo no quarto, ela dormia profundamente. A princípio eu não entendi qual era o problema até que entendi e perguntei:

— A quanto tempo ela está dormindo?

— A dois dias...

Finalmente ele me respondeu alguma coisa.

— Como isso aconteceu?

— A habilidade de Ester.

Senti um leve alívio, ela iria acordar.

— Mas ela não explicou como funciona.

Senti um nó trancar a minha garganta, naquele momento eu sabia que Ayra podia dormir para sempre, ou no caso até a sua morte.

— Por que ela deixou Ayra usar a habilidade sem explicar?

— Eu perguntei a mesma coisa para ela, e ela me disse que... ela não achou que Ayra já iria tentar ir tão fundo, achou que ela só ia testar nas memórias mais recentes. Mas, quando Ayra caiu para trás desmaiada ela soube, que ela mergulhou com tudo no que Ester chama de mar de memórias.