LILITH

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  Escuto gritos vindo da cozinha

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Escuto gritos vindo da cozinha.

'É so mais uma briga como todas as outras'


Entro para o meu quarto porque isso é cansativo, e sempre acontece, então decido não me preocupar já que ocorre com muita frequência.


Entretanto sinto algo errado, não é como todas as outras vezes.

Não escuto mais os gritos, e muito menos os vidros se estilhaçando no chão.

Meus batimentos se aceleram quando ouço um grito angustiante.

Corro rapidamente até a cozinha, e assim que chego vejo minha mãe ao chão.

Sinto uma dor estridente invadir meu peito e o dilacerar aos poucos.

Meu pai estava ao seu lado a chacoalhando para que acordasse.

Mas foi em vão, tudo foi em vão.

Naquele cômodo tudo que se ouvia era a respiração descompassada de meu pai.

Suas mãos estavam cheias de sangue, sangue da minha mãe.

Não sei quanto tempo se passa, mas quando percebo, estou me aproximando de minha mãe no chão.

Sinto os cacos de vidro entrarem em meu pé descalço, mas não consigo prestar atenção em mais nada a não ser na pessoa no chão, que agora, tinha os olhos abertos mas sem vida, aqueles olhos que um dia brilharam no sol, aqueles olhos que um dia me olharam com amor.

Desesperada a coloco em meu colo.

- Levanta mãe, por favor, ele foi embora - meus olhos são cobertos por lágrimas de profunda tristeza.

Sintos os cacos cortarem meus joelhos, entretanto a ferida escancarada em meu coração é muito mais profunda que isso.

Um grito de desespero sai de minha boca, um grito que há anos estava aprisionada em minha alma.


Perdida em meus pensamentos não percebi quando ele passou por mim, me deixando só com ela em meus braços.

Havia sangue por toda minha roupa.

Sangue da minha mãe.


Assim que recobrei meus sentidos, levantei imediatamente e corri para ligar a polícia.

Havia cacos em todos os lugares, mas o lugar mais bagunçado e destruído era meu coração.

Escuto os bipes da chamada.

Toca uma vez, duas vezes, no terceiro toque eles atendem.

- Alô!? Polícia Militar ao seu dispor, em que posso ajudar?

Meus batimentos estão em um ritmo ridiculamente descompassado, minha respiração está ofegante.

Minha mão está enxarcada de sangue assim como o resto de minha roupa.

Olho em direção a cozinha e vejo uma poça muito maior se formar ao redor dela.

Seus olhos ainda estão abertos.

Minha atenção se volta a chamada, então consigo finalmente falar em um suspiro.

- Minha mãe está morta - mais lágrimas de sofrimento escorrem em meus olhos.

- ELA ESTÁ MORTA - grito em despero - Não sei o que faço - começo andar de um lado para o outro.

- Senhorita, se acalme - uma pausa do outro lado - respire quantas vezes for preciso, e me conte o que aconteceu - mais silêncio - já rastreamos seu endereço, e designamos policiais ao local ok?

- Ok - respiro com força, e minha mão está trêmula, olho o tempo inteiro para ela.

- Me conte com calma ok ? Tem mais alguém aí?

- Não, ele saiu, ele, ele matou ela, e-eu estava em meu quarto q-quando aconteceu - as lágrimas inundam meus olhos e não consigo respirar - eles estavam na cozinha, estava tudo normal, mas aí comecei a escutar os dois brigando, e-era normal, porque eles sempre brigavam, s-só que eu estava achando estranho dessa vez. C-corri até a cozinha, mas era tarde demais. Quando fui ligar pra vocês ele já tinha saído.

Ouço a porta se abrir.

- É ele - meu coração se acelera e corro ao meu quarto o mais rápido que posso.

- Calma, vá a um lugar seguro e tranque a porta até a polícia chegar, eles estão a caminho.

Escuto a porta ser arrombada, nenhuma porta seria capaz de segurá-lo.

Fecho os olhos e o telefone é arrancado de minha mão.

- Pra quem caralhos você ligou Lilith? - sou levantada e jogada em minha cama.

Uma dor estridente percorre minhas costas, mas não gemo, não, seria pior.

- Fala sua vadia - ele se projeta em minha frente e me agarra pela blusa.

Não demonstro nada ao encarar os olhos que conheço bem.

- Ela está morta por sua causa, e você sabe disso Lilith.

Em meio a dor que sinto consigo falar.

- A culpa nunca vai ser minha - sorrio - Acho melhor você aproveitar seus últimos minutos de liberdade P A I, a polícia está a caminho.

Vejo o vulto de sua mão se erguendo.

É tão rápido que só consigo sentir a dor de sua mão se chocando em meu rosto.

Sou arremessada contra a cama mas uma vez, entretanto sinto o macio do colchão me receber, ainda estou zonza com o baque, então permaneço no mesmo lugar.

Em questão de seguntos sinto a ausência das minhas roupas, e me dou conta do que está prestes a acontecer.

Não tenho forças o suficiente pra lutar, então assisto inconscientemente meu pai me estuprar, mais uma vez.

Mas ainda sim sorrio, será a última vez de todas elas.

Conto os minutos até a polícia chegar, pois foram os mesmos minutos que ele ficou em cima de mim, até o tirarem.

Não consigo ver mais nada pois tudo não passa se um borrão.

O Meu Vizinho Where stories live. Discover now