Capítulo 6

15 1 0
                                    

Dirigindo-se à catedral, com uma multidão aplaudindo freneticamente à sua passagem, Serena sentiu como se estivesse num sonho. Mas sabia que devia fazer algo a respeito.
Antes de deixar o palácio em direção à catedral, esperara a cada momento, que Minako aparecesse.
Descera mesmo, por três vezes, para perguntar se uma senhora da
Inglaterra não a procurara!
A resposta fora sempre não, e não houve nada que pudesse fazer, a não ser permitir que Margit a vestisse com o maravilhoso traje de noiva, bordado com diamantes, que, por sorte, fazia parte da bagagem de Minako.

A prima devia ter comprado em Paris para levá-lo à Prússia, onde, segundo os planos iniciais, seria realizada a cerimônia.
— Não imagino o que Sua Alteza o arquiduque irá dizer — falou o embaixador da Prússia, que ia a seu lado. — Vai me culpar por esse inconveniente, mein prinzessin. E o que lhe poderei responder?
— Deve contar a verdade, herr Winhofenberg — respondia Serena, quando conseguia se concentrar e ouvir o que ele lhe dizia.
Parecia-lhe que a única coisa de que estava realmente consciente era que ia se casar com o rei, e que estaria com ele por mais tempo do que imaginara na noite anterior.

A multidão aplaudia com uma espontaneidade que ela sabia ser devida não só à reencontrada popularidade do rei, mas a ela também.

Havia várias faixas, que diziam: "Deus salve nossa rainha, que cuida de nós!".

Milhares de crianças, ladeando o caminho, jogavam flores em direção à carruagem.
Nos dois últimos dias os jornais transmitiram tantas novidades a respeito da construção do hospital para crianças e mulheres, que quase foi suplantado o espanto provocado pela redução dos impostos e as promessas do rei para auxiliar a indústria.

Serena pensou que qualquer coisa que tivesse conseguido fazer naquele curto espaço de tempo, ao menos servira para que ele e seu povo ficassem unidos!

E você?, perguntou uma voz interior. Mas ela sabia a resposta. Mesmo que se casasse com ele, não teria qualquer direito: assim que Minako voltasse, assumiria automaticamente o seu lugar.
— Este entusiasmo é muito gratificante, mein prinzessin — murmurou o embaixador prussiano, quando aumentou a multidão, à medida que percorriam a cidade.

Foi então que Serena viu, na parede de um prédio sem janelas, um cartaz enorme.
Era uma pintura de uma mulher, usando uma curta saia vermelha de camponesa, com as pernas esticadas e o corpo em uma atitude de abandono.

Em cima do cartaz, Serena leu: "Venha e assista a Beryl em Folias de Moinar".

Por um momento o sorriso com que agradecia os aplausos desapareceu de seu rosto.
Então, aquela era Beryl! Nos dois últimos dias de dramáticos acontecimentos, quase se esquecera das relações do rei com ela!
O cartaz mostrou-lhe que Beryl não só era bonita, como muito atrevida. Então, aquele era o tipo de mulher de quem realmente o rei gostava! Sentiu que não tinha nada em comum com uma dançarina de cabaré.
— Beryl! Beryl...
O nome repetia-se, à medida que a carruagem real avançava, e mesmo os aplausos da multidão pareciam trazê-lo a seus ouvidos!
Mas, quando chegaram à catedral, Serena começou a pensar em outras coisas.

Tinha certeza de que Minako havia assistido a muitos casamentos reais, e, provavelmente, tomado parte em alguns, como dama de honra; mas ela, além de não o ter feito, não se lembrava de ter ouvido a mãe contar nada a respeito.

Olhava para o embaixador prussiano como se ele fosse um guia. Mas percebeu que tudo o que poderia lhe dizer seria convencional e apressado, além de difícil de entender, pois falava um alemão gutural.

A carruagem real, adornada com delfins e sereias dourados, parou à porta da catedral.
Quando Serena desceu, o barulho da multidão aumentou, e ela se sentiu subitamente desamparada e amedrontada, incapaz de pensar.
A cauda de seu vestido de noiva, presa à cintura, era muito longa e debruada com arminho, e seria carregada por quatro pajens vestidos com trajes do século XVII.

O Amor parte à meia noiteHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin