Capítulo 4

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Serena acordou com uma sensação de angústia. Assim que abriu os olhos, percebeu que, realmente, tinha muitas razões para estar ansiosa.
Primeiro, o fato de ter que se casar com o rei, antes que Minako voltasse.
Aquela possibilidade fazia com que se sentisse muito alarmada.
Então, disse a si mesma que o mais provável seria que Minako visse o anúncio do casamento do rei nos jornais ingleses e viesse imediatamente para a Lituânia.
Serena tinha certeza de que todos os jornais da Europa iriam publicar a notícia de que o casamento do rei se realizaria na próxima terça-feira.
Editoriais iriam especular sobre a necessidade de tal urgência e, sem dúvida, iriam atribuí-la ao verdadeiro motivo: ser um paliativo para o povo.
Ao mesmo tempo, o pensamento de estar se tornando a esposa legal do rei, enquanto ele imaginava estar se casando com sua prima, parecia-lhe fantástico demais.
Mas não havia nada que pudesse fazer no momento, a não ser concordar com os planos do primeiro-ministro; assim, resolveu deixar aquele problema de lado, enquanto tentava analisar as dificuldades por que passava o rei.
Sentira, na noite anterior, em seu primeiro banquete oficial, que tudo era tão excitante e imponente que deveria, mesmo humildemente, fazer algo para impedir que tudo se estragasse pela insatisfação do povo.
Havia sido um encantamento conversar com os estadistas e nobres presentes ao palácio, e também conhecer os parentes do rei.
O mais gentil deles era a tia do rei, a duquesa viúva Elizabeth de Mildenburg, que lembrava sua mãe, já que na verdade, era uma parente distante do rei da Eslovênia.
A duquesa viúva estava horrorizada com o fato de o casamento acontecer enquanto o arquiduque e a arquiduquesa se encontravam na Rússia.
— Tenho certeza de que sua mãe ficará magoada — dissera ela a Serena.
— Tenho medo de que sim, madame. Mas o primeiro-ministro insiste que é a única maneira de impedir que estoure a revolução.
A duquesa lançara-lhe um olhar, surpresa por ela ousar dizer a verdade.
— Estou preocupada com Darien. Precisa ajudá-lo, querida, como só uma esposa pode ajudar um homem, nesses tempos tão difíceis como os nossos!
— Farei o melhor que puder — prometera Serena, enquanto a duquesa lhe sorria, com aprovação.
A mesa, decorada com uma baixela de ouro e flores exóticas e iluminada por um imenso candelabro de ouro, parecia saída de um sonho.
Sabia que o vestido que usava completava o cenário e achou, embora não estivesse certa, que os olhos do rei pousavam sobre ela, aprovadores. Posso entender, pensava, honestamente, ao ir para a cama, por que Minako não quer perder tudo isto, mesmo pelo homem que ama.
Ao mesmo tempo, por mais atraente que um trono pudesse ser, Serena achava que, se estivesse no lugar de Minako, faria como sua mãe, e sacrificaria tudo por sua felicidade, pela intimidade que significava pertencer a alguém que a amasse.
Como queria que os estadistas e a nobreza da Lituânia ajudassem o rei, fizera tudo que pudera para se mostrar encantadora, esforçando-se para esconder a timidez natural, que, em outras ocasiões, a deixaria muda.
— Aguardo ansiosamente seu casamento, Alteza — dissera um dos nobres, que, ela sabia, possuía muitas terras e exercia uma grande autoridade sobre seus domínios.
— Entendo, tanto quanto o senhor, a necessidade dele, Excelência — respondera Serena, em voz baixa —, e tenho certeza de que o rei poderá contar com seu apoio no futuro.
O cavalheiro com quem conversava olhara, surpreso, e ela adivinhara que o rei nunca havia tentado obter o apoio dos lituanos influentes, como devia.
Assim, continuara se movimentando entre os convidados, fazendo questão de que os cavalheiros soubessem que estava inteirada da situação tensa e perigosa.
Se nunca tivessem pensado em que posição adotariam, caso houvesse uma confrontação, pensariam agora.
Serena não tinha idéia de que aquilo era um procedimento incomum por parte de um membro da realeza mas, embora o rei a olhasse com surpresa, não interferira.
Finalmente, os convidados haviam começado a sair, e muitos deles afirmaram ao rei:
— Vossa Majestade sabe que sempre poderá contar comigo, e que estou ao vosso serviço!
Quando Darien e Serena, seguidos pela família real, deixaram o grande salão, onde haviam se reunido após o jantar, ele perguntara:
— O que andou dizendo?
Serena olhara, apreensiva, sem saber se ele aprovaria.
— Pensei que... fosse uma boa idéia... fazer saber aos convidados que você precisaria deles, caso as coisas ficassem tão sérias como garante o primeiro-ministro!

O Amor parte à meia noiteWhere stories live. Discover now