CAPÍTULO 45

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CHIARA SIENNA ANTONELLA RICCI PETROVA / MARIA CLARA LIMA


Luzes muito brilhantes piscam em cima da minha cabeça, e reconheço sem esforço o teto do quarto de Salvatore. E isso me faz levantar sobressaltada.

Meu deus.

Eu tinha morrido?

Essa era a minha versão do plano espiritual?

O teto impecavalmente branco, a roupa de cama preta, todas as janelas de vidro que tinham sido a causa do meu despertar. Atrás delas, o sol entra brilhante, inundando o quarto de luz e calor.

Ao meu lado, uma grande haste segura a bolsa de liquídos transparentes conectados ao meu braço. Estou usando uma blusa de Salvatore e meu corpo dolorido deixa claro que já vi dias melhores, assim como o grande curativo em minha perna.

E é isso que me desperta de verdade.

Meu deus. O que havia acontecido?

Onde estavam todos eles? As meninas da fortaleza? Küster e Diego?

O que diabos eu estava fazendo no Brasil?

Mal penso antes de arrancar a agulha do meu braço e correr em direção as escadas.

Meus músculos reclamam do impacto da corrida, mas não paro. Desço como uma alucinada, tropeçando em meus próprios pés, e estou prestes a gritar por alguém, quando invado a sala de estar de Salvatore e estaco no lugar.

Fico completamente imóvel, respirando alto, enquanto todas as pessoas sentadas e espalhadas pelo ambiente me encaram.

Mama Helena, Seu Heitor, Diego, Cadu, Mari, Nina, Alex, Danilo, Daniel, Gabriel, uma mulher que não conheço e Violeta, Melissa e Suzana, que estão dormindo no tapete. Do outro lado, Küster, um homem que também não conheço, Natália, e fico surpresa por ver Poliana aqui também, deslumbrante como sempre.

Mas é Salvatore, sentado, com a expressão mais derrotada que já vi em minha vida, que prende minha atenção. O rosto cansado, os olhos injetados que parecem implorar por algumas horas de sono. A barba maior do que jamais o vi manter. O cabelo uma bagunça sem corte para todos os lados. E ele se parece exatamente como o amor da minha vida. Minha maior redenção. Quem havia me curado de mais formas do que todas as sete línguas que eu sabia falar conseguiriam expressar.

E é a visão dele aqui, em carne e osso, que me faz cair no choro.

Cubro meu rosto com as mãos e choro as lágrimas mais aliviadas que já chorei em toda a minha vida. Choro e soluço tanto que pareço engasgar em busca de ar.

O último mês me atropelando feito uma avalanche.

A morte dos meus pais.

O abandono da minha família brasileira.

Ter revivido todos os meus traumas.

Ter partido o coração da pessoa que mais havia consertado o meu.

E eu desmonto quando um par de braços que eu conhecia muito bem me circunda, o cheiro de maresia e maternidade que exalavam de Nina desde sempre. Minha primeira amiga de verdade. Quem tinha sido a minha porta para essa família muito maluca que eu tinha orgulho de chamar de minha.

E eu a aperto contra mim, chorando mais, assim como ela, que soluça e soluça e soluça. Então mais um par de braços nos circudam, e depois mais outro, e mais outro, e mais outro, até sermos uma grande bola de amor, apoio e segurança.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOWhere stories live. Discover now