- Criança, onde estão seus pais? - Sorian disse gentilmente abaixando-se para ficar na altura da menina.

- A mamãe morreu, o papai foi para a floresta e não voltou ainda. Eu estou sozinha agora, e estou com fome. - A menininha contou com seus olhos marejados, contendo o choro. Ela encarava os olhos de Sorian, eram azuis como o céu em dias quentes e sem nuvens, eram olhos gentis e reconfortantes que traziam paz.

- Tudo bem então, vamos achar algo para você comer - disse Sorian pegando a menina no colo.

O homem olha a sua volta e encontra uma taverna, se encaminha para o estabelecimento sem hesitação. Ao passar pela porta todos olharam para ele, Sorian não se incomoda e vai direto ao balcão.

- Senhor, poderia servir alguma comida para essa pobre menina faminta? - Disse Sorian cordialmente.

O taberneiro o examinou de cima a baixo, e com apenas uma sobrancelha arqueada questionou:

- A comida não é problema, mas você tem algum dinheiro para pagar? - Disse o dono com cara de poucos amigos.

- Dinheiro? - Sorian realmente estava confuso, ele nunca precisou de tal coisa antes.

- Sim! Amigo, você está em Flarus. Nada aqui é de graça. Não sei como são as coisas no lugar de onde veio, mas aqui você tem que pagar.

Flarus, Sorian já tinha ouvido falar esse nome antes, ouvira em uma de suas antigas missões, uma flor muito rara com propriedades mágicas de cura nasce nesta região, a planta é comumente usada para fazer poções e muitas pessoas acreditam que pode curar qualquer doença. Essa flor se chama flaurideas e deu origem ao nome da cidade.

- Pagar? Com o que eu deveria pagar? - Perguntou Sorian ainda confuso.

- Calis, ouro, jóias... qualquer coisa que tenha valor. - Respondeu o taberneiro já sem paciência com o estrangeiro.

Sorian colocou a menina no chão por um momento, puxou sua bolsa para frente e vasculhou nela até encontrar o que procurava. De dentro da velha bolsa surrada, que ele usava em suas missões, retirou uma pedra reluzente, tinha o formato circular e um tom de cor entre azul e verde, o taverneiro esbugalhou os olhos cobiçosos para a jóia.

- Será que isso é suficiente? - Disse Sorian estendendo a pedra para o homem do outro lado do balcão, que a pega apressado e a examina para determinar seu valor.

- Espero que isso não seja um truque, sabe como é né, nem tudo que reluz é ouro. Que fique avisado: meus amigos ali - o taverneiro aponta com o queixo para um grupo de homens mal-encarados - adoram dar lições em espertinhos.

Sorian não entendia a desconfiança do outro homem, em nenhum momento ele demonstrou intenção de enganar o taverneiro. Se sentiu um tanto ofendido pela descrença do dono da taverna.

- Sentem-se em uma mesa que logo servirei a comida. - Disse o dono da taberna guardando a jóia num bolso interno do colete de pele.

Sorian pegou a mão da menina ao seu lado e se dirigiu para uma mesa próxima do balcão. Ela parecia um pouco ansiosa, talvez por estranhar tamanha gentileza vinda de um completo estranho, a garota nasceu e cresceu em Flarus e nesta cidade a gentileza sempre é motivo de desconfiança. A barriga da criança roncou alto. Ou talvez essa ansiedade seja apenas pela perspectiva de poder comer uma refeição quente em muito tempo.

- A comida logo será servida, agora o que acha de me dizer seu nome? Eu me chamo Sorian. - Completou ele com um sorriso.

- É Felícia, senhor.

- É um nome muito bonito, assim como você. - Disse Sorian para suavizar a expressão séria da menina.

- Meu pai disse que era o nome de uma anjo que ele conheceu uma vez. - Felícia sorriu pela primeira vez desde que se encontrou com Sorian.

A Última  Esperança - Os RenegadosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora