Capítulo 20

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Christian Grey

Depois de amenidades e gentilezas eu já não conseguia mais esperar para saber o que Ana tinha a me dizer. Ansioso questionei ela se podíamos iniciar a nossa conversa.

— Você é direto. — ela riu baixinho, depois tomou um gole de sua coca. Deus, que mulher linda. — Não sei bem por onde começar. — assumiu.

— O que te fez mudar de ideia? — perguntei tentando ajudá-la organizar seus pensamentos.

— Minha mãe. — ela diz rindo e eu ergo minhas sobrancelhas em confusão — Dona Carla é maravilhosa, Christian. — meu nome nos lábios dela soa como música — Foi por causa dela que fiz de tudo para não ter nenhum tipo de envolvimento com um cara "casado". — diz ela enfatizando a palavra e antes que eu pese corrigi-la, Ana ergue um dedo me advertindo, então me calo — E foi ela que me fez decidir vir aqui hoje. — diz rindo — Desde o dia em que nos conhecemos lá em São Paulo, você me pareceu sinônimo de problema, mas o modo como você me defendeu e o jeito que você me tratou me fez querer aquele beijo — sorrio e ela cora, Ana fica tão linda envergonhada — Só que por mais que nosso breve momento daquela noite tenha sido muito bom eu não tinha a intenção de me envolver. Estava prestes a mudar de volta pra cá.

— Você é daqui?

— Pode não parecer, mas sou gaúcha sim. Nasci em Porto Alegre, mas mudei pra São Paulo ainda criança.

O garçom aparece outra vez, desta vez ele traz nossos pratos.

— Bom apetite! — diz ele educado, agradecemos e ele se afasta.

Ana prova seu macarrão e eu faço o mesmo.

— Hum, isso está incrível, Christian. Agradeça a seu irmão e a esposa dele por mim. — Deus do céu, isso devia ser proibido. Fico hipnotizado admirando-a de olhos fechados saboreando seu jantar.

— Tá muito bom mesmo. — respondo a ela tentando mudar o rumo de meus pensamentos — Continue. — peço.

— Naquela noite minha mãe teve uma crise de apendicite, eu saí correndo para o hospital e nem pensei em te avisar ou algo do tipo. Nos desencontrados, eu segui a minha vida, mas volta e meia eu lembrava de você. — assume ela corado outra vez e deixando encantado por essa mulher que é doce e sexy ao mesmo tempo.

— Você nunca saiu da minha mente. — digo a ela, minha voz sai rouca. Ana me encara por um breve instante e baixa a cabeça sorrindo.

— Até um belo dia que você aparece na minha frente ao lado da sua mulher perfeita e linda e seu filho que para completar é meu paciente. Me senti uma ordinária, uma vagabunda que estava destruindo aquela família. Foi doloroso ver você a beijando. — ela assume com os olhos tristes — Aquilo mexeu demais comigo, resgatou dores da minha infância.

Ana dá uma garfada em seu macarrão e lembro de comer o meu também. Por um momento ela não diz nada, parece nem estar aqui e mesmo louco de curiosidade, espero pacientemente que ela prossiga

— Quando eu era bem pequena, vi minha família ser destruída quando uma mulher bateu na porta de nossa casa dizendo que meu pai tinha outra família. Vi minha mãe sofrer o diabo por conta dessa traição.

— E você achou que estava fazendo o mesmo. — digo finalmente entendendo a complexidade dos fatos.

— Mais do que isso, me senti traindo minha mãe, a mulher que fez tudo o que pôde para que não me faltasse nada, que me amou fez de mim quem sou hoje. Decidi apagar tudo isso da minha mete seguir minha vida, mas você consegue ser bem insistente.

— Costumo lutar pelo que eu quero. — ousando um pouco coloco minha mão sobre a dela, para minha alegria Ana não afasta a sua.

— Só que no meio dessa bagunça toda tem uma criança.

— Eu sei!

— Christian a última coisa que eu quero é de alguma forma ser a responsável por fazer seu filho sofrer.

Entrelaço nossos dedos sorrindo para essa mulher incrível e encantadora a minha frente. Alguém com um coração lindo que prioriza uma criança que mal conhece.

— Eu também, Ana. E como te disse naquele dia que conversamos, um dos principais motivos de eu me separar foi meu filho. Criança alguma merece ver seus pais brigando dia após dia. Minha ex não é a pessoa mais equilibrada.

— É, eu notei. — diz ela revirando os olhos, ao notar minha curiosidade ela se apressa em explicar. — No dia que o Léo passou mal ela fez de tudo para me prejudicar.

— Me desculpe por isso. Infelizmente Marcela está se mostrando uma mulher mais baixa que eu pensei. — digo suspirando — Ela está tentando colocar meu filho contra mim, mas eu já estou tomando minhas providencias. — a expressão de Ana muda, ela solta a minha mão. — Eu sou um idiota, me desculpe. Não viemos aqui para falar dela.

— Tá tudo bem. Melhor a gente comer. Vai esfriar.

Terminamos a nossa refeição em silêncio. Ana parece perdida em seus pensamentos e sinto vontade de me bater por isso. Quando o garçom recolhe nossos pratos me desespero ao pensar que talvez eu esteja perdendo a oportunidade, a única oportunidade.

— Aceitam sobremesa? — questionou o garçom e antes de responder olho para Ana que afirma sorrindo.

O garçom nos entrega outra vez o cardápio, Ana passa seus olhos pelas opções e não se demora em escolher.

— Eu quero zabaglione. — dou uma rápida espiada na escolha dela. Sobremesa a base de gemas, açúcar e vinho marsala, decorada com frutas picadas.

— Vou querer o mesmo, obrigado. — o garçom assente e se afasta. — Ana, eu entendo seu receio, mas eu não sou seu pai.

— É, você não é como meu pai. Naquele dia em que minha mãe descobriu tudo ela o confrontou e ele nem tentou negar. Disse que ela estava sendo dramática, que todo homem faz isso. Acho que ele queria que ela implorasse ou algo assim, mas minha mãe mesmo aos pedaços juntou tudo o que era nosso e fomos embora. Sabe o que ele fez? — ela questiona e eu nego — Nada. Ele não foi atras da gente, nunca perguntou de mim. Eu só voltei a vê-lo quando meu meio irmão ligou dizendo que ele estava morrendo.

As nossas sobremesas chegam, como em silêncio enquanto penso sobre tudo o que Ana me contou. Seus lindos olhos me observam atentamente.

—Ana eu sinto muito por tudo o que você e sua mãe assaram. Mas eu não sou assim, nunca fui desleal a minha ex, nunca a trai e antes que você diga algo, aquele beijo em São Paulo não foi traição, eu já tinha saído de casa. Meu casamento já tinha terminado, a muitos anos aliás, eu só demorei a entender isso. Amei muito Marcela, tolerei cada ciúme infundado, cada escândalo, permiti que ela me afastasse de meus amigos, das coisas que eu gosto e até do meu irmão. Aceitei suas chantagens e me sinto um idiota por isso, mas agora Ana, eu quero ser feliz. Eu quero construir uma relação com você. Sei que posso estar parecendo precipitado, mas você mexeu demais comigo e acho eu também mexi com você.

Ana sorri e volta a comer seu doce sem dizer nada. Essa mulher vai me matar com essa espera. Quando ela acaba pergunto se ela quer mais alguma coisa e ela nega. Nossa noite está acabando e ainda não tenho uma resposta.

Depois de acertar a conta, me levanto e puxo a cadeira para ela se levantar. Seu perfume adocicado me embriaga, então ousado aproximo meu nariz de seu pescoço aspirando um pouco mais e não me passa despercebido que sua pele arrepia.

Conduzo Ana até a saída com minha mão na base de suas costas. Abro a porta do carro e Ana me olha por um momento antes de entrar. Precisei de todas as minhas forças para não a puxar contra meu corpo e beijar seus lábios.

— Ana, preciso agradecer por essa noite. Foi muito boa a nossa conversa. Pena que passou rápido né. — digo a ela enquanto seguimos pelas ruas da cidade.

— Eu também adorei. — ela responde.

O sinal fecha, aproveito para olhar para Anastasia. Ela também me observa. Rosto relaxado, um sorriso nos lábios.

— A gente podia continuar conversando. Se você quiser é claro.

— Eu acho uma ótima ideia. Mas para onde iriamos? — o sinal abre e já não posso mais olhar para ela.

— Pensei em irmos para o meu apartamento. Lá a gente pode falar à vontade.

— Claro.

Proibido Para MimWhere stories live. Discover now