Capítulo 9

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Christian Grey

Eu nunca pensei que eu seria o tipo de homem que mantém um casamento sem amor, mas cá estou eu preso a Marcela pela culpa que me corrói. Desde que ela tentou acabar com sua vida que eu tento ajudá-la de todas as formas possíveis, quero verdadeiramente que ela fique bem, mas parece que quanto mais eu me esforço para isso, pior a situação fica.

Foi um erro ter concordado em sair com ela naquela noite. Em minha mente era só uma festa de amigos, mas Marcela enxergou de outra forma e não acabou bem. Brigamos outra vez e ficou muito claro para mim que não posso mais sustentar essa farsa. Não posso mais fazer isso. Minha presença nesta casa e na vida da Marcela não está ajudando e a cada dia tenho mais certeza de que preciso pôr um fim nisso pelo bem de todos nós, especialmente nosso filho. Não podemos mais viver nesse inferno.

Minha mente traz de volta a lembrança da noite em que pedi a separação. Eu tinha chegado tarde depois de um longo dia de trabalho e Marcela estava me esperando em nosso quarto para mais uma briga.

" — Onde você estava?

— No escritório, Marcela. Trabalhando.

— Ah é, e você pode me explicar por que aquela vagabunda atendeu o seu celular?

Solto um suspiro pesado enquanto me livro de meu terno.

— O nome dela é Fernanda e ela é minha secretária. Faz parte das atividades dela atender meu celular quando estou em reunião.

— E aposto que também faz parte das tarefas dela dar para você.

— Marcela, não começa com as suas loucuras. Pelo o amor de Deus!

— Não me chame de louca, eu sei muito bem que você adora comer esse bando de vadias que trabalham pra você.

— Chega! Eu não posso mais suportar, Marcela. Acabou!

— Você não vai me abandonar Christian!

— Eu quero me separar.

— Eu não vou aceitar. Ouviu, não vou deixar você me largar assim.

Marcela grita e arremessa um porta-retrato contra a parede.

— Eu vou dormir no hotel, amanhã eu venho pegar as minhas coisas.

— Se você ousar passar por aquela porta Christian, eu me mato. Eu juro!"

Dou o último gole no meu whisky afastando as lembranças. A bebida desce rasgando, mas não alivia meu peito.

— Papai, papai. Tô pronto. — Léo desce as escadas correndo e meu sangue gela.

— O que foi que falamos sobre correr nesta escada, Léo? Você já se esqueceu o que aconteceu?

Meu filho baixa a cabeça com uma cara triste.

— Ei, não tô brigando. Eu só quero que tenha cuidado, não quero que você se machuque outra vez.

— Nenhum de nós quer isso, né filho?

Marcela surge no topo da escada. Ela está usando um vestido vermelho longo que se molda a seu corpo. Em outros tempos eu me sentiria o cara mais sortudo do mundo por tê-la, mas já não sinto nada.

Hoje os pais dela completam trinta e cinco anos de casamento e decidiram renovar os votos. Mesmo não querendo sou obrigado a estar presente no evento.

— Vamos? — perguntei.

— Você não vai dizer nada? — questionou Marcela colocando suas mãos na cintura.

— Você está ótima, agora vamos que preciso passar no hotel?

— O que? — protestou — Você só pode estar brincando.

— Não, eu não estou brincando. Está tendo um evento muito importante e eu preciso passar lá para saber se está tudo correndo bem.

— Então de que servem aquele bando de idiotas que você paga?

— Se você quiser pode ir com seu carro direto para a festa, mas eu vou passar no hotel antes de ir. — digo firme.

Marcela passa por mim pisando firme e bate à porta da frente ao sair. Solto um suspiro ao me dar por conta de que meu filho está no canto da sala de cabeça baixa.

— Ei. — me abaixo na frente do meu filho, seus olhos cheios de medo fazem eu me sentir um merda. — Desculpe por isso, filho. A mamãe só tá... — hesito por um instante em busca de palavras — ...nervosa. Vem cá, deixa o pai arrumar sua gravata.

A caminho do hotel o silencio era pesado e desconcertante. Marcela tamborilava os dedos na sua bolsa enquanto meu filho observava as ruas através da janela do carro.

— Chegamos! Eu volto já. — aviso aos dois.

— Nem pensar. Você não vai sozinho.

— Marcela pelo amor de Deus, eu volto em dez minutos. — tento ponderar com ela, mas Marcela me ignora e deixa o carro.

Não querendo mais uma cena no meu trabalho e principalmente na frente do meu filho saio do carro e ajudo Léo a descer. Marcela enlaça seu braço no meu e abre o mais lindo e falso dos sorrisos assim que passamos pelas amplas portas de vidro. Não passam despercebidos os olhares e sussurros conforme passamos, mas como bom covarde que sou ignoro e sigo para o salão de eventos.

— Olá senhor Grey. Senhora Grey. — Fernanda minha secretária cumprimenta de forma educada, mas é possível notar seu desconforto.

— Tudo tranquilo por aqui?

— Sim, senhor. Tudo saindo conforme planejado.

— Ótimo! Obrigado.

Estava prestes a deixar o evento, mas uma voz estranhamente conhecida chama a minha atenção. Volto meu olhar na direção do palco de onde veio a voz e não consigo acreditar no que vejo. É ela! Ainda mais linda do que eu me lembrava.

— Papai, papai! É a tia Ana. — meu filho diz empolgado.

— Você a conhece filho?

— Sim, papai. É a tia Ana que consertou meu braço.

Meu Deus! Isso não pode ser possível. Ana está aqui, em Porto Alegre, no meu hotel. E além de tudo é médica do meu filho. Não consigo acreditar que o destino seja tão traiçoeiro.

Os olhos dela cruzam os meus por um breve instante e vejo a decepção nos seus olhos. Queria correr ao encontro dela, queria explicar que não passa de um mal entendido, mas eu não posso. Eu não devo. Ana deixa o palco sob uma intensa salva de palmas. Muitos homens vão ao seu encontro e fico com raiva ao vê-los babando. Mas que hipócrita eu sou. Cá estou babando por essa linda mulher.

— Essa é mais uma das vadias que você traz para esse seu bordel de luxo, Grey? — Marcela diz em um sussurro ao meu ouvido. Para quem olha de fora não passa de um gesto comum entre um casal.

— Não seja louca, Marcela. Eu não sei do que você está falando.

— Jura, querido. — ela para na minha frente apoiando suas mãos em meu peito sem tirar seu sorriso do rosto — Prova! Me mostra que ela não é nada, que nenhuma dessas vagabundas é.

— Marcela pelo amor de Deus. Não começa!

— Ou você mostra para todo mundo que você é meu ou eu vou fazer o maior escândalo, Christian. Eu acabo com a vagabunda, com você e com seu precioso hotelzinho.

Marcela me olha, mas esse olhar não é de uma mulher doce e inocente como Ana. É algo que eu nunca vi nesses anos. Me mantenho parado no lugar, meus braços colados junto ao meu corpo enquanto a encaro furioso. Mas sem se importar com nada Marcela segura meu terno, me puxa com tudo contra si e me beija sem pudor.

Desgraçada!

Eu devia imaginar que ela faria isso. Minha vontade é empurra-la, mas não posso e ela sabe disso. Então outra vez sou fraco e cedo aos joguinhos de Marcela. Quando ela se afasta está com um sorriso vitorioso nos lábios. Ergo os olhos e Ana está a alguns metros de nós. Discretamente ela passa a mão no rosto e sai na direção do banheiro.

—Aiai, a julgar ela carinha triste da sua amiguinha vocês se conhecem muito bem. — Marcela sorri satisfeita — Vamos querido!

Proibido Para MimWhere stories live. Discover now