Capítulo 8

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Anastasia Steele

As últimas semanas foram muito intensas e corridas no hospital. Tive que me dividir entre trabalhar e me preparar para a conferência sobre transtornos mentais na infância, um assunto que eu adoro e que estudo muito. Mas ainda assim foi uma enorme surpresa quando o meu nome foi indicado para uma das palestras do evento.

Minha mãe chega hoje. Ela insistiu que não eu não precisava ir buscá-la, mas mesmo assim cá estou em frente ao portão de desembarque do aeroporto.

— Ah minha teimosa, eu tinha certeza. — ela diz ao me ver.

— Que saudade, mãe.

Minha mãe me puxou para um abraço apertado e cheio de amor. Não me contive e chorei de saudade, de alegria, de alivio, de tantas coisas.

— Deixa eu te olhar. — ela me afasta delicadamente e me analisa — Tu emagreceu.

— Mas agora a senhora tá aqui e vai cuidar de mim. — ela franze o cenho — O que? — pergunto rindo em meio as lágrimas.

—Te conheço, guria. — minha mãe me abraça outra vez — Vem, vamos pra casa. Quero saber de tudo.

O trajeto para o meu apartamento foi em silêncio. Minha mãe observava tudo atentamente pela janela. Sei que ela deve estar se lembrando de quando vivíamos aqui, de quando ela era casada com meu pai. Apertei sua mão em sinal de conforto. É a primeira vez que ela vem aqui desde que foi embora comigo pequena. Minha mãe me dá um sorriso.

— Tá tudo bem, querida. — ela afaga meu rosto.

Mal chegamos no meu apartamento e minha mãe já me arrastou para o supermercado. Isso claro depois de ter brigado comigo por eu não ter comida de verdade em casa. E depois que dona Carla comprou comida suficiente para o próximo ano inteiro voltamos ao apartamento.

Pedi a ela que preparasse arroz de carreteiro. Essa é uma comida típica daqui que eu amo. O prato é feito com arroz e carne bovina bem picadinha. Parece que não é nada demais, mas é uma das comidas que eu mais amo.

Minha mãe mesmo estando a tantos anos longe daqui não perdeu seu sotaque e nem muitos dos costumes, como fazer as comidas daqui e tomar seu chimarrão. Acho que isso foi fundamental em manter minha conexão com nossa terra natal.

— Me conta tudo. — diz ela me passando a cuia.

— Nada demais. — tomo um longo gole da bebida quente e amarga e ela me encara incrédula — É sério, não tenho o que contar. Minha vida se resume a trabalho e mais trabalho.

— Me diz que ao menos você fez amigos e que saiu pra se divertir ao menos.

— É claro né mãe. Tenho amigas do hospital e a gente sai às vezes pra um drink.

— Humm. — ela murmura quando devolvo a cuia — Nem um, como vocês falam, boy gato? Alguém que mexa com esse coraçãozinho.

A lembrança de Christian domina minha mente. Seu beijo e seu cheiro. Afasto o pensamento e sacudo a cabeça negando.

— Não foi o que me pareceu. Anda guria, conta logo.

— Nada demais. Conheci um cara lindo, gentil e charmoso. Mas isso foi em São Paulo. Fim da história.

— Não. Tu não acha que vai contar só isso. — suspiro.

— Foi naquela noite que eu sai com o pessoal parra comemorar o fim da residência. Ele me ajudou a me livrar de uns caras chatos fingindo ser meu namorado, nós tomamos uma cerveja e ele me beijou. Mas a gente se desencontrou.

— Por culpa minha.

— Não diz isso, mãe. Foi como tinha que ser. Vai demorar aí, tô morrendo de fome.

— Ta pronto, ponha a mesa pra gente comer.

...

Finalmente havia chegado o dia da conferencia e eu estava uma pilha de nervos. Eu me preparei muito para esse momento, estudei muito para isso, mas era impossível não ter medo já que esse era um marco importantíssimo na minha carreira.

Dei uma última olhada no espelho e alisei minha saia lápis ainda insegura se escolhi a roupa certa.

— Você está magnifica. — fitei minha mãe através do espelho, seus olhos marejados e cheios de orgulho — Eu estou tão orgulhosa de você, meu amor.

— É uma pena que o evento seja fechado ao público. Eu queria a senhora lá.

— Mas eu estarei lá em pensamento e com meu coração. E tenho absoluta certeza de que você vai arrasar doutora Anastasia Steele.

— Obrigada, mãe. Eu te amo.

A conferencia acontecerá no salão de eventos do Hotel Firenze, um dos mais elegante e renomados da cidade. Assim que chego sou recebida pela organização do evento que me conduz gentilmente. Cumprimentei alguns colegas do hospital, conheci alguns médicos renomados, mas logo fui direcionada pela equipe para me acomodar em meu lugar.

As palestras dão início e cada médico convidado traz pontos importantes a serem discutidos aqui nessa noite.

— E agora convido a doutora Anastasia Steele. — diz doutor Rafael que está presidindo a conferencia.

— Boa noite a todos! É um grande prazer estar aqui. Bom, é do conhecimentos dos colegas que os transtornos mentais estão cada vez mais comuns na infância e na adolescência. Alguns por fatores genéticos e biológicos, porém outros fatores tem sido responsáveis para o causamento das mais diversas patologias. O ambiente onde a criança está inserida, bem como seu núcleo familiar são de suma importância e tem papel decisivo na saúde mental da criança. Porém outro fator tem sido decisivo no desenvolvimento de tais transtornos. O uso demasiado de redes sociais e jogos. A Sociedade Brasileira de Pediatra lista uma série de malefícios que o uso excessivo de telas pode causar às crianças. Problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão; transtornos psiquiátricos, como déficit de atenção e hiperatividade. Afeta a capacidade cognitiva e o aprendizado, sem falar em demais questões de saúde como sedentarismo, obesidade, auditivos e tantos outros. Mais do que tratar de nossas crianças é preciso tratar de seus pais e de uma sociedade doente que a cada dia se torna mais alienada. É preciso resgatar a infância. Obrigada a todos.

Levanto meu olhar encarando a plateia e me espanto com quem vejo ao fundo do salão. É Christian. Mas o que me espanta na verdade não é ele, é a linda mulher de braço dado com ele e o pequeno garotinho.

Proibido Para MimWhere stories live. Discover now