01. Fulgor Escarlate

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Parecia muito trabalho para uma pessoa só, Jimin percebeu. Mas ela se virava bem, até. Sua mente criativa a transformou numa heroína-da-bebida-alcóolica, e ele quis rir do próprio pensamento bobo.

Quando chegou a vez dele na fila, a garota puxou a franja repartida ao meio para trás das orelhas e suspirou, encarando-o com o semblante cansado.

— Boa noite. O que vai querer, senhor? — Ela indagou, com uma educação inesperada vindo de alguém que devia estar há horas naquele ritmo frenético.

— Boa noite... — se inclinou para frente, forçando os olhos a lerem os caracteres minúsculos gravados no crachá preso à blusa do uniforme dela. Quando enfim conseguiu enxergar, abriu um sorriso simpático e voltou a encará-la. — Misuk-ssi. Vou querer um Manhattan, por favor.

— É pra já! — Exclamou, virando-se para ir preparar a dose.

Enquanto esperava, Jimin apoiou um braço sobre o balcão de textura vinílica. Os dedos ornados por anéis prateados batucavam a batida da música que repercutia alta pelas caixas de som. Ele olhou ao redor, pouco interessado nos homens de terno aos cantos, paquerando garotas de aparências joviais. Havia pessoas de todas as idades ali, a partir da restrição de maioridade. Casais de todos os tipos se formavam no que poderia terminar em poucas horas ou se estender por dias, meses, talvez até anos.

Jimin se perguntou se a mulher de cabelos longos e pretos voltaria a rever o homem que a segurava pela cintura, ambos dançando numa morosidade que não coincidia com as batidas frenéticas da melodia que tocava. Os dois garotos conversando no sofá seriam amigos ou apenas recém-conhecidos? Talvez futuros namorados?

Em segredo, gostava de observar a vida ao redor, criando roteiros que podiam nunca se concretizar. Era como uma terapia pessoal, uma válvula de escape para quando sua própria rotina se volvia tediosa e sem graça demais para suportar.

Como estava acontecendo naquele dia.

O enfado tornara-se tão angustiante que se viu obrigado a recorrer aos métodos do passado. Resolveu, então, experimentar outra vez uma de suas aventuras da primeira juventude, embora estivesse agora uma década à frente daquela época: mergulhar madrugada adentro pelas ruas da cidade.

Se lhe perguntassem, não saberia dizer por que fazia isso. Apenas começou a fazer, sentiu-se preso à liberdade que a sensação lhe trazia, e, quando se deu conta, havia virado um hobby. Seul ser uma espécie de cidade que nunca dorme por completo foi como a cereja do bolo.

As consequências não foram exatamente boas, mas Jimin não gostava de pensar nisso. Era uma parte de sua vida que tinha deixado para trás, e para a qual não planejava voltar.

Numa contradição engraçada, ali estava ele, fazendo o que fazia anos atrás.

Park Jimin poderia ser bastante paradoxal quando sua linha de pensamento não se alinhava às ações de seu corpo — o que não acontecia com frequência, pois, apesar de tudo, era um homem 98% razão. No entanto, só Deus sabia o quanto os 2% de emoção poderiam degradá-lo sem esforço.

— 'Tá na mão, senhor — sua atenção foi roubada pela voz de Mi-suk, que colocou em sua frente a taça preenchida quase até a borda pelo líquido de coloração bordô.

— Obrigado, Misuk-ssi — agradeceu, retribuindo o sorriso amistoso e a breve reverência que lhes foram direcionados.

Permaneceu empoleirado no balcão, bebericando a bebida vez ou outra, enquanto observava a movimentação da boate. Aparentemente, alguma coisa estava para acontecer, a julgar pelas mulheres bem arrumadas e maquiadas que passavam correndo entre os sofás, recebendo assobios de quem a noção faltava.

EXCÊNTRICO • jjk + pjmWhere stories live. Discover now