Void - 11

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Portas e mais portas se passaram até que a esverdeada alcançasse a porta que dava para o quarto do feiticeiro de nono círculo.

Não tinha tempo para bater, muito menos para conversar. Maki foi colocando a mão na maçaneta e empurrando a porta, acabando por dar de cara com Nanami no momento em que abriu, como duas pessoas que chegam a uma porta ao mesmo tempo fazem. Os dois pareceram surpresos com aquele encontro, mas Zenin se viu um pouco aliviada por saber que Kento parecia estar minimamente ciente de que estavam passando por uma crise no domínio.

Nanami fez uma cara estressada e lhe dirigiu a palavra, imaginando que a esverdeada estivesse ali por conta do "terremoto".

- O que está acontecendo?! - ele a perguntou com um certo senso de urgência.

- Megumi fez um domínio. - a esverdeada falou sem cerimônias. - Está extremamente instável, senhor... E Fushiguro não sabe magia o suficiente para estabilizá-lo por conta própria!!

- Um domínio?! - Nanami não acreditou no que ouviu. De todas as possibilidades que previra estarem acontecendo, jamais deduziria que um terremoto daquela magnitude seria culpa de Megumi. - Mas Fushiguro só tem 19 anos, ele é novo demais 'pra expandir um domínio por conta própria!

- Se não acredita, vá ver com os próprios olhos!!! - Zenin respondeu de uma forma um pouco hostil antes de segurar o feiticeiro pelo braço e levá-lo em correria pelo corredor afora. Não havia espaços para formalidades.

Sairam os dois em disparada, voltando ao corredor escuro, úmido e estreito. Nanami olhava para as paredes, parecendo estar escorrendo algum tipo de água, mas cuja colocação era escura demais para que fosse apenas líquido. O lugar era agoniante por si só e, mais do que sombrio e tenebroso, o espaço era... era triste. Triste como se o amor nunca tivesse existido antes, e como se toda e qualquer tentativa de amar fosse falha e inútil. Kento se assustou. Tudo aquilo estava vindo de Megumi?

No meio do caminho ao corredor do domínio, a dupla foi encontrada por Gojo e Nobara. O mais velho parecia tão preocupado com a situação que era como se os demais presentes nem estivessem ali; Gojo apenas corria, tentando chegar ao núcleo de toda aquela confusão.

Kento e Satoru avançaram em encontro ao domínio. Nobara e Maki permaneceram mais afastadas em função da energia densa demais. O chão molhado fazia barulho conforme os feiticeiros avançavam e molhavam seus calçados. O domínio se tornou visível e Satoru reagiu como se estivesse vendo a coisa mais triste que já vira em toda a vida.

Se Megumi, com apenas dezenove anos, conseguira fazer algo tão denso e de tamanha magnitude, aquele garoto deveria estar sofrendo como nunca sofrera em toda a vida. Gojo observava o domínio e todas as suas vibrações, energias e formas de afetar os arredores. Não fazia ideia de como iria reverter toda aquela situação.

Nanami, por outro lado, não conseguia acreditar que toda aquela confusão era fruto de Megumi. Aquilo não podia estar vindo dele, deveria ser outra coisa... Um demônio, uma maldição, talvez... Aquilo tudo deveria ser um grande mal entendido e Fushiguro deveria ser apenas uma vítima à parte de todo aquele caos. Kento se aproximou, fazendo barulho conforme seus pés corriam pelo chão alagado.

- Fushiguro!! - o loiro gritou, já se aproximando e estendendo as mãos a fim de tentar quebrar aquele domínio. Satoru arregalou os olhos.

- Nanami, não!!! - Gojo gritou ainda mais alto e transmitindo um exagerado senso de urgência em sua voz, mas já era tarde.

No instante em que Nanami colocou suas mãos na superfície do domínio, milhares de flashes tomaram conta de sua mente, estimulando dezenas de sensações que sobrecarregariam qualquer um, em função da quantidade. Cada flash representava uma memória de Fushiguro; mais especificamente, memórias de Fushiguro que envolviam Itadori.

Durante aquele momento, Nanami teve acesso a cada pensamento, cada frio na barriga e cada sorriso bobo que Megumi tivera por conta do rosado. Também teve a oportunidade de ver alguns momentos através da perspectiva do feiticeiro: o primeiro encontro no corredor, a vez em que Itadori tentou ensiná-lo a fazer jejum, o incidente com as flores, os momentos de conversa boba, o segurar de mãos que antecedeu o primeiro beijo... Até o dia da última conversa, quando Itadori partira o coração de Fushiguro em vários pequenos pedaços.

E assim, todas as sensações boas que prevaleciam até então deram lugar ao gosto da solidão, em um estado onde todas as sensação ruins que assolavam seu peito o engoliram, e o fizeram esquecer como era estar amando. Era impossível aguentar a angústia, como se aquelas emoções representassem um barulho ensurdecedor que não tinha previsão de parar. E era como se, mesmo tentando abafar aquelas sensações, o vazio o tivesse engolido por completo.

Nanami puxou sua mão. O contato devia ter durado apenas alguns instantes, mas pareceu ter durado vários minutos. Agora não restava mais dúvidas: Fushiguro estava realmente fazendo aquilo. Sua magia estava instável, densa e caótica... E o único motivo de seu emocional ter se desestabilizado a ponto de fazer algo daquela magnitude foi pelo fato de Nanami ter optado por mandar o rosado embora para sempre.

Imaginou que estivesse fazendo o certo, imaginou que um humano nunca seria uma boa opção para Megumi e que Yuji o acabaria machucando... Mas, na realidade, separá-los foi a pior coisa que o loiro poderia ter feito. Acabou colocando seu egoísmo e ego na frente do amor entre duas pessoas e acabou se esquecendo de algo crucial no mundo da feitiçaria: não se deve interferir entre duas almas unidas por magia. Ou, no mais sério dos casos, duas almas unidas pelo Tchan.

Kento estava lacrimejando sem nem notar. Se seu rosto estava molhado apenas por conta de alguns flashes de memória, não era difícil imaginar que Megumi deveria estar se sentindo no próprio inferno.

Saindo de seus próprios pensamentos, Nanami voltou seus olhos a Satoru, que por sua vez se viu aterrorizado. Jamais havia visto o loiro chorar em todos aqueles anos de convivência; a situação estava pior do que qualquer um imaginava.

Um pequeno silêncio se fez presente, até Kento direcionar sua voz a Gojo:

- Nós temos que trazer o garoto de volta.

[continua...]

In the void... (Itafushi)Where stories live. Discover now