Light up - 05

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Dia seguinte; manhã.

Satoru havia levado Itadori para uma sala espaçosa e sem móveis, localizada nos fundos do domínio e projetada especialmente para resistir a fortes impactos.

Yuji estava deitado em um colchonete, tendo todos os seus centros e subcentros de energia sendo expostos através da magia para que pudessem ser analisados, um a um, pelo feiticeiro. A imagem seria incomum para qualquer um que não tivesse ciência do estilo de vida da Feitiçaria Jujutsu: um rapaz de vinte e um anos deitado no chão, tendo dezenas de raios e esferas de energia sendo projetados a partir de seu corpo, enquanto um homem de quase trinta anos analisava cada projeção de forma quase científica, fazendo anotações e tomando nota de fatores destoantes.

Itadori permanecia em silêncio durante o processo, mas isso se dava em função de não ter algo para conversar. Diante disso, o humano se recolhia em seus pensamentos, terminando por lembraram da última madrugada; mais especificamente, do momento em que conhecera Megumi, e das poucas palavras que tiveram tempo de trocar. Queria vê-lo de novo... O que será que ele estaria fazendo naquele momento? Será que Satoru proporcionaria uma certa aproximação de ambas as partes caso Itadori comentasse a respeito? Já que Gojo estava passando tempo lhe estudando, por que não deixar Megumi estudá-lo também? Ele manteve a ideia em mente durante alguns instantes, até que o mais velho interrompeu seus pensamentos.

- No que está pensando?

- H-Hã? - Itadori fora pego de surpresa.

- Seu coração está batendo mais forte e sua energia está abobalhada. No que está pensando? - o feiticeiro perguntou, embora não parecesse tão interessado assim.

- Ahn... Não é nada demais.

- Sei... - Gojo desdenhou. - Não precisa me contar, se não quiser.

Assim, os dois se calaram novamente. Yuji se sentiu um pouco envergonhado e constrangido por conta do silêncio, mas, felizmente, conseguiu pensar em algo que poderia conversar com o feiticeiro:

- Porque você não me explica um pouco mais sobre essa coisa de "jejum"? - Yuji pediu, tentando soar casual. - Porque... Se eu vou mentir 'pras outras pessoas enquanto eu estiver aqui, eu acho que seria bom se eu soubesse um pouco mais sobre o que eu estou mentindo... Sabe, só 'pra não dizer algo incoerente e acabar pegando mal 'pro meu disfarce.

Satoru não parecia estar verdadeiramente interessado naquela conversa, nem achar que aquele conhecimento adiantaria de alguma coisa, mas, já que ficariam naquele lugar durante um bom tempo, seria legal ter algo para quebrar o silêncio e manter uma conversa.

- Bom... O jejum é uma prática que purifica a energia amaldiçoada existente dentro de um feiticeiro. É comum entre muitos clãs, mas é uma prática que veio se perdendo ao longo dos anos, sabe? - o mais velho comentava, ainda continuando o trabalho. - Existem alguns riscos para um feiticeiro que decide passar 100 dias sem exercer magia, você precisa estar bem para fazer algo assim. O maior desafio não é nem o tempo sem praticar magia em si, é a saída. Voltar a executar feitiços com uma magia consideravelmente mais forte, fazer exorcismos e coisas do gênero com a mesma naturalidade de antes do jejum necessita de um processo de readaptação cuidadoso.

- E como um feiticeiro faz 'pra entrar no jejum? É só parar e pronto?

- Claro que não. Geralmente, começos assim são os que mais causam recaídas e crises de abstinência... Exatamente como acontece com os fumantes. Se você fuma dois maços por dia, o ideal é transacionar para um maço, depois 10 cigarros por dia, 5... E assim por diante, até parar. Existem algumas meditações e técnicas que ajudam a aliviar, em caso de abstinência... A que dizem que mais funciona é uma em que você tem que esticar a coluna, respirar pelo diafragma...

* * *

- ...e manter o corpo relaxado. - Yuji parafraseava as exatas mesmas palavras de Satoru. Era começo de madrugada. Fushiguro e Itadori estavam sozinhos na varanda do domínio, um lugar peculiar que dava vista para nada e tudo ao mesmo tempo.

Estavam sozinhos agora, já que Megumi havia feito seus dois cães desaparecerem para poder testar a técnica de jejum.

- Se achar que precisa usar magia, tente se imaginar fazendo algo extremamente comum. Algo tão simples, patético e trabalhoso que possa até mesmo ser considerado humano.

- É difícil... - Megumi confessou, ainda tentando controlar seus instintos.

- Você está indo bem, eu tenho certeza. - Yuji garantiu, por mais que não soubesse o quão bem o rapaz estava, de fato, indo. Fushiguro mantinha seus olhos fechados e suas pernas cruzadas a fim de tentar se concentrar melhor. Itadori tocava seus joelhos através do tecido da calça, tentando dar um pouco de apoio enquanto mantinha a voz calma e serena para que Megumi pudesse se concentrar apenas nela.

- Tem alguma outra técnica que você conheça? Eu lembro que o Gojo tentava me ensinar essa quando eu era mais novo, mas nunca funcionava...

Itadori gelou por um momento.

- A-Ahn... Não, não existem muitas técnicas assim, 'pra falar a verdade... Mas acho que deveríamos continuar, você está indo muito bem! E, agora que está mais velho, deve conseguir administrar melhor sua magia. - ele arranjou uma desculpa para encobrir o fato de que não sabia nada a respeito de jejuns além daquilo que Satoru lhe dissera.

- Você acha?

- Eu tenho certeza. - Yuji garantiu, fazendo um sutil carinho no joelho do rapaz em sua frente. - Dá 'pra ver que a sua magia tem muito potencial só de olhar 'pra você... - ele se permitiu ser fofo.

Megumi sorriu, um tanto quanto bobo. Entretanto, esse sentimento abobalhado acabou fazendo com que o moreno perdesse o foco e seus sentimentos assumissem o controle.

Nesse sentido, um grande buquê de flores negras se materializou diante dos dois. Megumi abriu os olhos, morto de vergonha por conta do que havia acabado de fazer sem nem notar. Yuji sentiu seu rosto queimar ao ver o que tinha acabado de acontecer, mas a situação conseguiu ficar ainda mais desconfortável quando Fushiguro simplesmente apanhou aquele buquê e o atirou pela sacada, vazio afora.

Os dois se entreolharam, até o moreno desviar o olhar.

- Me desculpa... Eu me desconcentrei.

- Tudo bem, podemos tentar de novo - o mais velho sorriu, um tanto quanto sem jeito.

[continua...]

In the void... (Itafushi)Where stories live. Discover now