Prólogo

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— Se arrepende de algo na sua vida?

— Não me arrependo de nada.

É o que tenho respondido a todos que vem me visitar. Cada visita é uma despedida, um adeus, e sinceramente, tenho recebido mais visitas nessa fase terminal do que durante minha vida inteira.

— Eu vou servir o café.

— Eu insisto — Itachi se levanta da poltrona e caminha até a cozinha — não vai trabalhar enquanto eu estiver aqui.

Me acomodo no sofá, mas é difícil achar alguma posição confortável quando tudo dentro de você dói.

Ele enche as duas xícaras de café e se aproxima, deixa a dele sobre a mesinha de centro e entrega a minha.

Seguro a xícara com as mãos trêmulas e já não sinto vontade de viver em pensar que não suporto segurar uma xícara, Itachi sorri tristemente e segura a porcelana, me ajudando a beber.

— Gosto quando vem me visitar — comento — as vezes sinto que você é mais meu irmão do que irmão do meu marido.

Ele dá uma pequena risada, deixando a xícara de lado.

— Sinto o mesmo. Você sempre foi mais que minha cunhada.

— Você se importa se eu me deitar? —  disse eu, já deitada — estou cansada.

— Imagino que esteja. Eu já vou indo também.

— Fica mais um pouco — peço, olhando em seus olhos, quase não o enxergo mais — me sinto tão sozinha quando Sasuke não está aqui.

— Tudo bem... só porque você insiste.

Sorrimos.

Meu conforto deitada acaba quando me lembro do que tenho que lhe entregar, me ergo, com dificuldade e caminho até a cômoda, abro a gaveta e tiro o distintivo.

Investigadora Polícia Civil.

Me viro para Itachi e vejo a melancolia em seus olhos, estico o braço com o distintivo.

— Entregue na delegacia, já não me pertence mais.

Nunca na minha vida achei que esse momento chegaria, e eu nunca quis que ele chegasse, muito menos consegui aceitar.

Ele suspirou.

— Tem certeza?

Balanço a cabeça em sinal de afirmação, consequentemente um gemido escapa entre meus lábios pelo movimento.

— Já faz tempo que estou doente... não vou melhorar, você sabe que estou recebendo tantas visitas por isso.

Esfrego os olhos com as mãos.

— Estou perdendo a visão, Itachi... — resmungo — só estou esperando o dia que eu possa descansar...

Me sentei no sofá novamente, minha doença não tem diagnóstico e isso é o mais assustador. Simplesmente tem acontecido e piorado a cada ano. Os médicos só dizem que é uma doença genética, já que meu pai esteve do mesmo jeito.

— Mas sabe... — é difícil pra respirar — vivi uma vida boa, fiz escolhas maravilhosas, tudo foi muito melhor do que eu poderia pedir... passei no vestibular federal e me formei em direito... passei no concurso e consegui meu trabalho dos sonhos... conquistei minha casa, meu carro, me casei com um homem muito bom...

Não havia muita coisa pra dizer depois disso, parece que minha vida pausou ali e então só regrediu.

— Eu acho que... eu já estou doente há muito tempo... desde quando eu e Sasuke tentamos filhos... eu nunca tive problema com infertilidade, mas no momento de gerar... engravidamos quatro vezes e as quatro foram abortos espontâneos... sei que isso foi culpa da doença.

Entre Irmãos - UchihasWhere stories live. Discover now