Billie Jean

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Pilar Jackson
Upper East Side, Manhattan
11 de novembro de 1986, 23:59

   — Não! — o choro doloroso de Michael me atinge na alma — Eu não quero isso! — Michael diz, irritado e quase gritando comigo — Você nunca vai entender! Nunca vai saber como é! — ele grita forte, com sua voz grossa ecoando pelo banheiro. Suas mãos tremem, e uma ferida perto da boca ainda sangra. Ele se levanta do chão onde estávamos sentados, vai até a pia e encara seu reflexo no espelho quebrado. Suas bochechas vermelhas e feridas por quase todo o seu rosto — Eu sou uma aberração! — Michael chora mais alto — Olha só para mim, eu sou horrível! — grita, batendo as mãos nos cacos do espelho que ainda restavam na parede.

   Eu me levanto e me aproximo dele. Nesse momento eu simplesmente não sei o que fazer. Ainda estou um pouco sonolenta. Eu estava dormindo quando escutei o espelho do banheiro quebrar com o soco que ele deu por não suportar olhar para o próprio reflexo. Desci da cama em um pulo e com uma das camisas brancas dele aberta até o umbigo eu corri para cá. Nu, Michael andava de um lado a outro com tanta raiva de si mesmo. No chão, uma revista com ele na capa, falando das feridas em seu rosto, das espinhas e a manchete "Michael Jackson está ficando branco". Agora, o vitiligo está se espalhando mais rapidamente. Estamos tentando cobrir com maquiagem, mas não estamos tendo um bom resultado e a imprensa já está notando que Michael está mais claro. Estou tentando manter a calma, mas não é fácil. Vê-lo assim é tão angustiante.

   — Querido, por favor, tente se acalmar — murmuro enquanto me aproximo um pouco mais — Amor, você é lindo. Não fale assim de você mesmo.

   — Meu rosto é feio, cheio de cicatrizes, espinhas, meu rosto está enorme e isso, o lúpus ME DEIXANDO PIOR! — Michael fala com uma raiva que parecia estar guardada dentro de si há anos, enquanto arranha a própria cara, machucando ainda mais as feridas causadas pelo lúpus. Entro na frente dele e o abraço. Sinto uma dor em meus pés. Estou descalça em cima dos cacos do espelho.

   — Você não percebe que se machucando me machuca? — digo deixando as lágrimas descerem — Pare de me machucar Michael. Pare — choramingo e o abraço mais forte. O banheiro fica em silêncio. Nada além do meu choro e soluços são escutados. Após longos minutos assim, Michael me abraça fortemente.

   Sinto a dor dele, como se fosse minha. Há meses estamos fazendo todo o tipo de tratamento possível, tanto para sua queimadura a fim de que volte a crescer cabelo no topo de sua cabeça, quanto para o lúpus e vitiligo que estão se alastrando rapidamente por todo o seu corpo. Suas pernas já estão praticamente tomadas. Muito pouco restou de sua melanina nelas. Amanhã mesmo vamos conversar com seu médico e tentar buscar mais opções. Tem que existir algo que traga a autoestima de volta para o meu amor. Tem que existir.

Consultório Dr. Arnold, Los Angeles
12 de novembro de 1986, 09:19

   Estou sentada em uma das cadeiras acolchoadas, observando atentamente o consultório do Dr. Arnold. O ambiente é sereno, com paredes brancas que refletem a suave luz que entra pelas janelas. Os diplomas, cuidadosamente emoldurados, adornam as paredes, testemunhando a experiência e dedicação do médico. Na prateleira de madeira, uma coleção eclética de livros, desde obras médicas até clássicos literários, proporciona uma atmosfera intelectual ao espaço.

   Hoje optei por vestir uma calça preta e uma blusa preta de gola alta com mangas longas, mantendo uma aparência discreta e formal. Meus cabelos estão presos em um coque solto, algumas mechas delicadamente caem em frente ao rosto.

   Enquanto observo tudo com atenção ao meu redor, Dr. Arnold, dermatologista de Michael, um homem de meia-idade com semblante gentil, está concentrado na revisão dos resultados dos exames de Michael enquanto aguardo ansiosamente.

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⏰ Última atualização: Apr 27 ⏰

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