Revirei os olhos, mas rapidamente sorri de lado ao notar que Marciel parecia bem à vontade olhando para a quadra, esperando a próxima partida.

— Que belo mediador você é, Marciel. — Debochei. — Não o vejo fazendo o seu trabalho!

— Eu estou fazendo isso agora, seu idiota! O que pensa que está fazendo gastando todo dinheiro que te demos com seus vícios?

Ele parecia bem irritado. Uma veia saltava de seu pescoço ao encarar-me fixamente.

Marciel às vezes parecia ter tão pouca fé em mim. Ele obviamente me enxergava como um vagabundo.

— Quem disse que foi o dinheiro de vocês que eu gastei?

Me deram apenas 20 mil rubis adiantados para o trabalho, mas eu acabei gastando 60 mil na corrida. As contas não batiam. Era óbvio que Marciel não sabia desse meu pequeno esqueminha e era impagável ver a cara confusa de tonto que ele estava fazendo. E antes que me perguntem o porquê eu gastei 60 mil em uma corrida de cavalos, diria que fui um pouco ganancioso na aposta. Esquecemos isso agora, tudo não passava do meu plano genial de investidor.

A cara de paspalho era excelente. Marciel parecia completamente isolado em seu próprio mundinho, girando suas engrenagens e digerindo o que acabei de soltar como se estivesse pensando o que estava passando na minha mente neste exato momento. Ele não ia conseguir chegar a uma conclusão tão cedo.

Bem, até a chegada de dois seguranças.

Dali em diante era fácil somar dois mais dois e descobrir o que eu poderia ter aprontando nessa minha "aposta".

— Você é Siegren Wolddyck?

Um deles perguntou. O mais alto e mais robusto, me indagava com uma voz grossa cheia de autoridade. O outro cara, alguns centímetros menor, silencioso, encarou-me como se eu fosse um inseto.

— Sou. — Eu sorri. — O que quer?

— Pedimos que venha conosco.

Eu não neguei-me a acatar suas demandas, na verdade, estava me divertindo com toda aquela situação. Levantei-me do banco e decidi segui-los silenciosamente, deixando Marciel com uma expressão ainda mais confusa e perplexa para trás. Mas eu sabia que ele não demoraria muito até entender o que estava acontecendo.

Quando passamos por uma das saídas externas das arquibancadas, andando calmamente no corredor mais afastado e escuro com uma evidente falta de iluminação e segurança, percebi a movimentação suspeita ao meu redor. Senti os dois seguranças pararem no meio do caminho, ouvi o cessar repentino de seus passos pesados e desajeitados antes de ouvi-los se locomover outra vez, mas não na direção esperada. Eles eram altos, muito mais altos que alguém como eu que já tinha uma altura elevada, verdadeiros titãs e mais, eram fortes.

Lembro de ter sentindo minha cabeça ser esmurrada na parede com certa brutalidade por um deles. Aposto que era o cara silencioso. Ele me soava desde o começo como alguém violento que mataria com o olhar.

Eu apaguei depois daquele golpe.

Acordei em pouco tempo com uma forte enxaqueca. Estava com a visão turva, um pouco embaçada, meus olhos demoraram para se acostumarem novamente com a claridade e quando dei-me conta não estava mais no corredor escuro. Parecia estar em um lugar fechado, sem luz externa ou janelas. Não tinha nenhuma pintura ou cuidado com o local. Estava sentado em uma cadeira de madeira tendo as mãos de dois estranhos em meus ombros enquanto tentava recuperar minha consciência.

Olhei para o homem sentado à minha frente, já estando acostumado com a luz da sala. Ele era baixinho e gorducho, mesmo suas vestes caras não escondiam suas 'dobras'. Estava sentado na poltrona preta à minha frente enquanto mantinha as pernas bem abertas como se fosse uma espécie de chefão. Seus olhos castanhos-melados olhavam-me com chamas acesas. Fumava seu charuto como se procurasse uma forma de acalmar-se.

Nascido para MatarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora