II

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"Meu amor... quanto tempo não te vejo..."

Senti as mãos de mamãe alisarem meu rosto. O sol brilhava forte e iluminava ainda mais o belo sorriso dela. Como sinto falta disso. Do seu toque, da sua doçura e do seu amor.
Quando a encarei, não pude segurar as lágrimas. A abracei e chorei, chorei como nunca me recordo de ter chorado antes.

"Eu te amo, mamãe... Eu sinto muita, muita saudade..."

Não conseguia encará-la, porque me doía. Doía saber que não estava sendo forte o suficiente, que não estava tentando o suficiente. Tentem entender: eu perdi o chão de uma hora pra outra. Em segundos, todo aquele mundo meu deixou de existir e passei a sentir apenas dor.

"Me perdoe, por favor..."

Mais e mais lágrimas caíam, como cascatas dos meus olhos. A dor, o desespero, a angústia, a solidão, o medo. Eu sentia tudo de uma vez. Era estranho estar de frente para ela, sentindo seu abraço, seu calor, seu carinho e, mesmo assim, me sentir dessa forma. Uma derrotada, alguém que não pôde suportar, superar.

Um tranco.

O abraço foi se afrouxando.

Outro tranco.

Me senti ser puxada para outro lugar. Eu não queria isso. Queria ficar ao lado deles, eu os amo, minha vida sem eles não faz o mínimo de sentido. Pude apenas ver, de relance, o sorriso dela.

"Um dia, meu amor... Um dia, mas não hoje..."

Ao abrir meus olhos, encarei um teto branco e algumas faces nada conhecidas. Olhei para o lado e vi Sasori. Ele estava preocupado, angustiado, mas, ao mesmo tempo, aliviado em notar que eu ainda estava viva. É, eu estava viva e aquilo me doía.

Por que ainda não? Quanto mais eu teria que aguentar para estar ao lado deles novamente?

As lágrimas caíam, silenciosas. Eu provavelmente estava sob efeito de algum medicamento forte, o que me fazia sentir uma apatia muito grande. Vi Sasori se aproximar, chorando e o senti pegar minha mão.

– Sakura... – A voz dele estava fraca, os olhos marejados. Sasori é uma das únicas pessoas no mundo que não me julga, que não me condena. Ele é a única família que me resta e está sempre ao meu lado. Depois do acidente e da morte dos meus pais e irmão, ele é a pessoa que me estendeu a mão, se mudou de Suna para Konoha e iniciou uma nova vida para estar perto de mim.

Eu queria muito saber como agradecer. Eu sou péssima.

Sentir o carinho de Sasori me deu ainda mais tristeza. Que porra de medicamento era esse? Eu não conseguia ao certo entender ou expressar minhas emoções. Sentia que meu olhar estava apático, que as lágrimas em meu rosto caíam como se fossem programadas para aquilo. Eu sentia muita raiva dento de mim: raiva por ser tirada dos braços de mamãe, raiva por fazer Sasori passar por isso mais uma vez, raiva por não conseguir o que eu tanto queria.

– Sas... Sasori... – Sussurrei, mas não consegui dizer mais nada. Não conseguia soluçar, mas o meu choro era muito sentido. Lágrimas caíam e caíam enquanto o encarava. Senti o aperto dele em minha mão e seus lábios tocarem minha testa.

– Não precisa dizer nada... Você está aqui, é o que importa. – Me sussurrou de volta.

– O especialista está a caminho. – Disse uma mulher loira, nos tirando a atenção.

Logo, a porta se abriu e vi um moreno se aproximar de mim. Ele parecia calmo, mas algo o incomodava. Seus olhos denunciavam isso. Parecia um castelo de areia que aguarda uma única onda para desmoronar. Ele continuou me encarando, tentando transparecer ao máximo calma e equilíbrio, enquanto seu olhar denunciava justamente o contrário: agitação e desequilíbrio.
A verdade é que ninguém, além de nós mesmos, sabemos as dores que carregamos. Não estou julgando ele, muito pelo contrário.

Meu Abrigo (ItaSaku)Where stories live. Discover now