Chapter 39 -Trouxe flores

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A cidade ao seu redor parecia ter vida própria, as luzes piscando como estrelas distantes. O mundo continuava a girar, indiferente à dor e à tristeza que Harry carregava dentro de si.

O nascer do sol começava a tingir o horizonte de tons suaves de laranja e rosa, e Harry e Louis permaneciam no chão da varanda. O mais velho respeitava o luto do amado, mas sem arrependimento do que fez. Com certeza não havia arrependimento, Louis repulsava cometer tortura, mas aquele homem o desafiará ferindo quem ele mais amava. Louis Tomlinson, já não tinha mais os seus pais vivos, além disso ele era filho único. A única pessoa que ele tinha, além dos amigos que considerava família, era Harry: os olhos verdes os quais trouxeram cor para o seu mundo preto e branco.

Poucas horas após o amanhecer, Harry se encontrava em frente a uma lápide recém-colocada. O cemitério estava silencioso e sereno, um contraste arrepiante com a turbulência que havia marcado a vida de Christopher. Harry segurava um buquê de flores frescas em suas mãos trêmulas, as pétalas vibrantes contrastando com o tom cinza do céu nublado.

Ele se ajoelhou diante do túmulo, sentindo uma tristeza avassaladora engolfá-lo. As palavras que ele estava prestes a dizer pesavam em sua língua, uma mistura de mágoa, perdão e despedida.

— Você nunca me deu flores, só os espinhos — Harry sussurrou, sua voz vacilante.

Ele colocou delicadamente o buquê de flores no solo, olhando para a lápide que carregava o nome de Christopher Hermes Austin, conhecido como Rio. As palavras gravadas na pedra eram um testemunho silencioso de uma vida cheia de escuridão e violência.

— Eu não te amava, Rio. Não da maneira que você queria. Mas mesmo assim, foram cinco anos... cinco anos de sofrimento. Eu odeio o que você fez comigo, o que você fez com tanta gente. — As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Harry, molhando a terra diante do túmulo.

Ele deixou seu coração falar, suas palavras carregadas de emoção enquanto ele compartilhava sua dor e sua raiva. Cada lembrança dolorosa, cada cicatriz emocional, tudo veio à tona enquanto ele se dirigia ao homem que havia sido uma parte sombria de sua vida.

— Mas eu... eu perdoo você. Por tudo o que você me fez passar, por toda a violência que eu sofri nas suas mãos. Eu sei que isso não muda o passado, não apaga o que aconteceu, mas... eu escolho perdoar.  — A voz de Harry estava frágil, seu peito apertado pelo peso de suas palavras.

Ele abaixou a cabeça, deixando suas lágrimas caírem na terra. A tristeza parecia transbordar dele, uma onda de emoção que o consumia por completo.

— Mas eu não posso perdoar você por todas as outras vítimas, Rio. Pelas vidas que você destruiu, pelas dores que você causou. Eu não posso esquecer o que você fez para tantas outras pessoas. Eu não posso... — A voz de Harry tremeu, as palavras engasgadas pela intensidade de suas emoções.

Ele permaneceu ajoelhado, sua cabeça baixa, as lágrimas pingando no solo. Ele sabia que a dor daquelas palavras não se dissiparia facilmente, que o processo de cura levaria tempo.

— Obrigado por, de alguma forma, ter me colocado no caminho do Louis. Por ter sido a razão pela qual eu encontrei o verdadeiro amor da minha vida. Eu vou honrar a pessoa que você ajudou a moldar em mim, ao contrário do que me dizia eu não sou fraco. Mas eu tenho momentos de fraqueza. Descanse em paz, Rio. Que Deus perdoe a maldade que havia em seu coração.

E assim, Harry permaneceu ao lado do túmulo, compartilhando seu monólogo emocional com o vento sussurrante e a terra silenciosa. Suas palavras eram um tributo a uma parte sombria de seu passado, uma despedida dolorosa e um passo em direção à sua própria jornada de cura e recomeço.

O jovem de coração ferido pôs-se de joelhos, e em repetidas preces proferia:

— Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente aquelas que mais precisarem da vossa infinita misericórdia.

Cada palavra da prece que ele proferia carregava um peso emocional, uma súplica sincera que ecoava não apenas em suas palavras, mas também em seu coração. Seus olhos estavam fechados, as lágrimas intercalando-se com suas orações enquanto ele se conectava com uma força maior, buscando conforto e orientação em meio à dor.

Seu desejo fervoroso de perdão e redenção não era direcionado apenas a si mesmo, mas também a todos aqueles que haviam sido tocados pelas garras cruéis do homem que agora descansava sob a lápide à sua frente. Ele entendia a profundidade da escuridão que Christopher havia carregado consigo e, mesmo assim, encontrava espaço em seu coração para desejar que todas as almas, independentemente de suas transgressões, pudessem encontrar um caminho para a paz.

E ali, no silêncio do cemitério, sob o céu nublado que parecia compartilhar de sua tristeza, Harry continuou suas preces. Cada palavra era uma gota de esperança lançada na vastidão do universo, um lembrete de que mesmo em face da escuridão mais profunda, a luz da bondade poderia brilhar intensamente. Seu coração estava aberto, sua alma exposta, e sua voz continuava a soar, um eco suave de sua natureza compassiva e sua busca implacável por uma cura que pudesse finalmente libertá-lo das correntes do passado.

Em um mundo vasto e muitas vezes enigmático, a questão sobre por que as boas almas, as almas mais puras e sensíveis, parecem encontrar uma parcela desproporcional de dor e sofrimento é um tema que ecoa através das eras. É uma interrogação que transcende os limites individuais das histórias e personagens, mergulhando nas profundezas da própria condição humana.

Além disso, a sensibilidade inerente às boas almas muitas vezes as coloca em sintonia direta com as complexidades emocionais do mundo ao seu redor. Elas sentem profundamente não apenas sua própria dor, mas também a dor dos outros e a dor do mundo em geral. Essa capacidade de sintonia pode expô-las a um fardo emocional esmagador, tornando-as mais propensas a experimentar tristeza e angústia.

Outro aspecto a ser considerado é a inevitável interconexão de alegria e tristeza, bem como de luz e escuridão, na experiência humana. Assim como não podemos apreciar a luz sem conhecer a escuridão, a alegria sem a tristeza, a bondade muitas vezes existe em contraste com a crueldade. O sofrimento das boas almas pode servir como um catalisador para a mudança e crescimento, tanto a nível pessoal como societal. Suas lutas podem inspirar outros a se unirem em solidariedade e compaixão, provocando uma transformação positiva.

Deus, Criador, Ser superior, Universo, Deuses, Magos, Cosmo, Entidades divinas, Seres místicos ou qualquer outra força maior:

Por que aqueles que carregavam uma compaixão inesgotável, um desejo genuíno de fazer o bem, frequentemente são os que enfrentavam as maiores provações?

Harry é um exemplo vívido dessa complexa interação entre bondade e sofrimento. Sua alma resplandece com uma luz que se recusa a se apagar, mesmo nas circunstâncias mais obscuras. Em meio à maldade que o cercou, sua essência permaneceu intacta, um oásis de compreensão, empatia e amor incondicional. Ele não se deixou corromper pela escuridão, mesmo quando esta ameaçava engolfá-lo.

No entanto, isso não significa que ele tenha emergido ileso. Ao contrário, sua alma linda e generosa carrega as cicatrizes de batalhas interiores e feridas profundas. A bondade intrínseca de Harry não o protegeu das dores do mundo, mas sim o expôs a elas de maneira mais intensa. A sensibilidade que o torna excepcional também o tornou vulnerável, permitindo que ele sentisse o peso das injustiças e sofrimentos ao seu redor de forma mais aguda.

Harry entrega flores, por mais que receba espinhos.

Don't Let Me Down || L.SWhere stories live. Discover now