f i r s t p a r t

73 5 3
                                    

D A N Ç A N D O  P E L A
L I B E R D A D E

          O QUE ELE estava fazendo?
          Amanda se perguntou enquanto tentava se concentrar na música que tocava ao fundo, a voz de Lauren Jauregui estourando na caixa de som no final da sala de dança. Ele não percebe o perigo que está nos expondo? Ela seguiu com as batidas, desviando dos olhos atentos de seu aluno; hipnotizado, ele não desviava a atenção do seu corpo, e ela sentiu, uma sensação única de prazer percorrer suas pernas, mesmo com a aflição os rodeando.

Wish I had no expectations
I wish that I could get it through your head
With no confrontation
I really wish we could talk about it instead

Rebolando, Amanda desceu lentamente, com o chão sob seus joelhos, ela se inclinou até estar com o quadril erguido, as mãos deslizando no piso liso diante dos seus olhos. A professora abriu as pernas e bateu o carpo no chão, então subiu novamente de joelhos e subiu as mãos pelas coxas, torso, seios e, por fim, pescoço até a nuca.

All these tears that I cry while I'm turned to the side
And you're in the same fucking bed
Wish I had no expectations
But I expect, you expect, we expect

O calor queimava sua pele, mesmo que o ar da sala estivesse ligado e o espaço gelado. Ele a perseguia com intuito, inflamando-a com suas infames labaredas amêndoas no olhar, cerrados e marcados em uma linha fina, seus lábios eram mais atraentes que nunca. Um único olhar pelo espelho que rodeava a sala por inteira, pôde o ver com a paixão queimando dele, um breve de um lampejo quando seus olhos encontraram o do outro, e ela sentiu-se arder por dentro; todo  o mundo poderia ter virado um caos, mas era ele a sua única obsessão, sua única remissão.

Quando a música terminou, os alunos bateram palmas, e por um breve segundo, ela esqueceu o indivíduo no canto da sala. Amava a dança, e ensinar, principalmente ao vê-los, seus alunos, indo bem nas aulas. Aquele era seu lugar, seu mundo, tudo pelo qual batalhou para chegar a aquele lugar. E tudo ia bem; o respeito entre os outros e foco no que sempre desejou: alcançar seu próprio sonho de ter seu próprio cantinho para ensinar dança. Até que um dia ele passou pela porta do seu estúdio.

Pele escura com olhos castanhos-claros, seus cabelos encaracolados e rosto marcante; ele a hipnotizou com seu jeito extrovertido e sorriso fácil, dando um ar sacana. E ela amava isso, os seus lábios fartos, os olhos com cílios grossos, o nariz mais arrebitado embora largo na lateral e maxilar quadrado, seu corpo… Ah sim, aquele corpo… Não tinha como não o desejá-lo.

Segundo o seu chefe, um relacionamento entre os dois era proibido — e isso não passava de uma grande hipocrisia. Afinal, o mesmo esteve em uma relação com uma das suas colegas e hoje estão noivos, esperando o primeiro filho. Mas, embora esse seja um fato para se pensar mais tarde, ela não teria coragem de admitir isso na sua frente. Tinha muito amor pelo seu emprego.

Enquanto conversava com uma de suas alunas, Amanda notou pela visão periférica que estava se aproximando, e respirou fundo, quase indo ao chão quando virou para encará-lo de perto.

— Tudo bem, Louise, posso arranjar um tempo para atendê-la em casa na próxima semana — disse ao voltar para a aluna em questão, que a recompensou com um sorriso, sua gratidão nos olhos era nítida.

— Obrigada, Amanda — se agitou.

Retribuindo o carinho, a professora aceitou de bom grado o abraço da menina, não deixando evidente o nervosismo ao sentir a presença do rapaz ao seu lado, que esperava com paciência sua vez de receber atenção. Quando a menina foi embora, ela virou, sendo surpreendida com o próprio abraço. Ele inspirou seu cheiro, nariz enterrado no seu pescoço, deixou que lábios a tocassem no ombro brilhando com suor. Amanda sentiu o corpo alarmado com uma corrente de eletricidade, que a percorreu inteira.

Dançando Pela LiberdadeWhere stories live. Discover now