Lobos- A Batalha Final| Livro 03| Concluído

Capítulo 25

— Por que me trouxe para a biblioteca? — Perguntei a Oscar antes de morder o sanduíche de queijo que ele mesmo havia preparado para mim.

— O que vou contar está registrado em um dos livros daqui. — Respondeu ele.

Oscar estava de costas, perto das prateleiras cobertas de livros, analisando os títulos até que, provavelmente, encontrou o que queria.

Com um livro de couro marrom e letras douradas, ele se sentou na cadeira ao meu lado, na mesa.

— E então? — Olhei para o livro em sua mão e indaguei.

Ele me encarou de volta, depois baixou o olhar para o último pedaço de sanduíche em minha mão e cruzou os braços, dando a entender que só falaria depois que eu terminasse de comer.

Suspirei e comi o restante.

— Satisfeita? — Ele perguntou.

Tomei um gole do suco que ele havia me dado para acompanhar a refeição e assenti, limpando a boca com um guardanapo.

— Lyra — ele olhou para o livro — o que vou contar agora pode fazer com que você me odeie para sempre, e se isso acontecer, aceitarei sua decisão de me rejeitar quando chegar a hora.

Acenei com a cabeça, concordando.

— Há uma razão para que só meu irmão tenha asas e eu não. Toda a minha linhagem possuía grandes asas; somos um tipo diferente de vampiros que, ao completar a maioridade, recebe essa bênção.

— Imagino que você já tenha atingido a maioridade há alguns séculos. — omentei.

Ele olhou para mim, e pensei ter visto um sorriso surgir em seu rosto.

— Sim, já atingi.

Fiquei em silêncio, observando-o abrir o livro e aproximá-lo de mim.

Havia muitas gravuras, a cada página que ele virava. Uma em específico chamou minha atenção: um homem com grandes asas abertas, com a boca e o dorso nus banhados em sangue, voava sobre muitas pessoas mortas.

— Minha mãe sofria de descontrole e não importava se era humano ou não; ela sugava todo o sangue. Eu e Dimas jamais demonstramos ter herdado isso dela; pelo contrário, éramos os vampiros mais controlados e bem treinados de toda a nossa aldeia, mas em uma noite tudo mudou. Eu estava voando alegremente pelas nuvens ao lado do meu irmão; éramos muito próximos e melhores amigos. Dimas havia trazido bebidas enfeitiçadas por uma bruxa da aldeia vizinha onde ele se aventurava; éramos jovens e sem juízo e exageramos na bebida, misturando-as sem lembrar que estávamos lidando com magia. A cada gole, perdíamos mais a noção das coisas, até que senti o cheiro de sangue. Olhei para a aldeia e vi que alguém havia se cortado de propósito perto da grande fogueira que iluminava nossas ruas; eu não consegui me controlar, e Dimas também não.

Ele contava a história escrita em outra língua que eu não entendia, enquanto eu apenas observava as gravuras que faziam sentido com cada palavra que ele dizia.

— Matamos todos, inclusive nossos pais e irmãs — ele continuou — ninguém conseguiu nos deter. Fomos os únicos que sobraram de toda uma linhagem de vampiros. Quando tudo acabou, tentamos matar um ao outro; queríamos sangue, era tudo o que importava, não tínhamos mais sentimentos. Caçadores de monstros eram enviados para nos capturar por recompensa, e todos eram mortos, até que uma mulher foi enviada por um líder de uma aldeia local, Serena, uma vampira comum, mas também caçadora. Ela teve a oportunidade de nos matar, mas não o fez.

— Como ela conseguiu ajudar? — Perguntei.

— Ela conhecia feitiços para invocar os deuses. Trouxe uma bruxa e usou o próprio corpo para nos ajudar. Um de nossos deuses se manifestou nela e nos livrou do descontrole, mas também nos amaldiçoou como castigo pelas mortes que causamos. Dimas foi colocado em uma tumba; ele foi considerado o pior de nós dois, mas a maldição acabaria quando sua destinada surgisse. O mesmo aconteceria comigo, mas no momento que isso iria acontecer, reconheci Serena como minha companheira e não adormeci como meu irmão. Mesmo a encontrando, eu teria que pagar pelo que fiz. Então, os deuses cortaram minhas asas. Eu não merecia ter o privilégio de não sentir dor. O deus que estava no corpo de Serena cortou lentamente o que eu chamava de liberdade, mas eu sabia que merecia tudo aquilo e mais.