Capítulo 5

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Álvaro


— Fiquei sabendo que você está saindo por aí. — mamãe comenta, sentando-se ao meu lado, enquanto observo Miguel correr e brincar na grama do parque Ibirapuera — Fazendo uma amiga nova.

Arqueio uma sobrancelha para ela. Sabendo muito bem a que amiga ela está se referindo. Nessa última semana, Charlie e Alana me perturbaram tanto, que acabei aceitando sair com a Carla, Celina... Carine, não importa o nome. O que importa é que foi uma perda de tempo total. O jantar foi cansativo, a conversa foi tediosa. E só de pensar que já tínhamos confirmado um novo encontro, a minha cabeça começa a latejar.

Mas esse não era um assunto do qual eu queria falar com minha mãe.

— O que está fazendo? — pergunto, vendo mamãe revirar a cesta que trouxemos com comida para nosso mini piquenique.

— O que parece que estou fazendo? Estou procurando por algo doce para comer, que não seja fruta. Pensei ter colocado um pedaço de bolo aqui.

— Você sabe que o seu médico pediu para diminuir a quantidade de açúcar de sua alimentação.

— Ah, foi? Acho que não lembro desse conselho. — mente ela. Dona Angelina sempre foi muito atenta, sempre seguia as recomendações médicas. Ela passou até mesmo a praticar atividades físicas, que ela odiava, depois que sofreu um início de derrame no ano passado — Bem, talvez, eu seja igual a você. Nunca escute as sabedorias dos mais experientes.

Ela sorri e eu reviro os olhos.

— É sério, meu filho. — ela passa uma de suas mãos pela minha barba — Quantas vezes eu já te disse que para você curar seu coração ferido, precisará de um novo...

— Mamãe... — tento interrompê-la. O dia está bom demais para levar sermão.

— Não, Álvaro. — ela nega com a cabeça — Olha só, meu menino, você sabe que eu respeito ao máximo a sua opinião, o apoio em todas as suas decisões, mas acho que você está se fechando demais para tudo e todos, por conta de um acontecimento.

— É o meu passado e eu não posso mudá-lo, mamãe. — retruco.

— Sim, com certeza. — ela suspira, como se pensasse no que iria dizer a seguir. — Você sabe o que acontece quando as pessoas continuam presas ao passado, remoendo os acontecimentos vividos? — eu não respondo e ela continua — Se você quer um presente e um futuro diferentes, o primeiro passo é fazer uma faxina na mente, na alma e no coração. Querido, esquecer é uma necessidade. Nossa vida é um livro em branco onde, para um novo capítulo ser escrito, é preciso concluir o anterior.

Dona Angelina faz um olhar pesaroso, o qual nenhum filho quer ver em uma mãe. Esse foi o mesmo olhar que ela tinha feito dois anos atrás, quando ela descobriu o motivo pelo qual Valentina tinha abandonado a mim e ao próprio filho. Mas mamãe, mesmo magoada e triste pela situação, como um verdadeiro anjo, não me deixou cair na escuridão nem no caminho do vício da bebida, ao qual eu estava seguindo.

Se eu estou onde estou, metade é mérito dela. Além de que, eu quase surtei ao me ver sozinho praticamente com um bebê. Criar um filho é uma tarefa árdua e complicada quando não se tem apoio ou não se sabe o que fazer. Então, ela veio morar comigo e desde então, vem me ajudando a educar meu Miguel, com todo o amor e carinho dignos de uma vovó coruja.

Sim, eu sei, você deve estar se perguntando, por que eu não a escuto.

Eu respondo: sou um babaca teimoso. Um cabeça-dura. Um homem cheio de medos e receios. Um homem que prefere a cama cheia e o coração vazio.

UMA MÃE PARA O FILHO DO CAFAJESTE Where stories live. Discover now