﹁ PARTE UM ﹂

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31 de Dezembro de 19..., longe de Pedra Rubra após a sétima carta sem resposta.

Querida Eneida,

O segundo inverno foi o mais difícil de suportar. Superei a primavera sem tua caligrafia, suas respostas se perderam como o vento que desistiu de seu trabalho, Zéfiro cansado de ventar. Não chove por aqui, mas também não floresce. Os dias têm sido frios sem as suas mãos acalentadoras ainda que o calendário teime em informar que estamos no décimo dia de verão.

Eu ainda posso fechar meus olhos exaustos e sentir os seus beijos, Eneida. Mais que isso: posso sentir o contorno dos teus lábios beijando minhas palmas calejadas. Mas essas são lembranças que me dão frescor no peito, como a relva verde dourada de sol em um dia frio. Tuas lágrimas quentes molhando minhas vestes é a lembrança triste e por mais que as alegres tomem os meus dias como delas ao cair da noite são teus soluços que atentam em meus ouvidos.

Fora a sétima carta sem resposta, sete semanas, sete desesperos, sete mil estouros de meus prantos. Corre para fora de Pedra Rubra, pela região, seu futuro matrimônio com o filho mais velho dos Fonseca Loureiro. Noivos. Sei que sempre foi vontade de teus pais, mas não sou santo, Eneida, sinto amor, mas também tenho raiva de ti por conceder sua mão ao herdeiro da família que tanto inferno fez para nos separar. Eles, os Montenegro, nunca fizeram gosto do meu sobrenome ao lado do teu, bradavam e uivavam como lobos famintos ao ver nosso amor florescer. Falo como se segregasse, como se não fostes Montenegro como eles, como se tuas veias não fossem frasco do veneno dessas pestes ensandecidas que herdas. No fundo, acaba sendo como eles, Eneida.

Este será teu oitavo e último silêncio, pois é a última carta que te escrevo, a primeira da qual não espero uma resposta. E este é meu primeiro de vários silêncios para fugir da maldição que é se apaixonar por um Montenegro.

Sei que já é tarde, cumprirei minha sina de jovem arauto da maldição que é amar os sem amor. E nosso sangue, meu e teu, carregarão juntos o peso desse terrível feitiço de Vênus, que nossas gerações não se cruzem, Eneida, ou terei pena de quem carrega esse triste fado.

Hoje sou ausente, Eneida. Sou rastro e sombra de tua presença inesquecível. Mas amanhã prometo que novamente serei homem: eu e os meus silêncios para ti. E assim poderei olvidar primeiro tuas mãos, depois teu sorriso, os fios de teu cabelo e o brilho dos olhos. Olhos forte de Montenegro.

Meus singelos cumprimentos aos noivos.

Do sempre amaldiçoado,

Pedro Alvo.

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⏰ Laatst bijgewerkt: Jun 30, 2023 ⏰

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