everybody wants to be a star

8 1 0
                                    

CAP. 3 

Passaram o dia seguinte inteiro como se nada tivesse acontecido. Era um domingo. Eles jogaram por algumas horas e perderam mais tempo pelo resto do dia.

Segunda, dia de escola, bem, não literalmente "escola", mas era o dia que conheceriam seu novo professor — novo porque mudaram de cidade. Mais uma vez.

Era um tal de Sr. Mureau, e isso era tudo que os garotos sabiam sobre ele. Tom sentia falta da Sra. Morgenstern, por mais que Bill, por outro lado, não gostasse tanto dela.

Enfim, Sr. Mureau chegou pontualmente e foi Simone quem atendeu e logo o levou para o cômodo da casa onde estudavam.

Tom passou a mão no rosto e suspirou. Ele é um adolescente, a última coisa que queria fazer agora era estudar. Bill apenas riu de sua reação, mas ambos sabiam que ele sentia o mesmo.

Quando o professor apareceu ele e Simone ainda conversavam, então deu tempo de Tom dar um soquinho no ombro de Bill para que ele parasse de rir. O outro respondeu prontamente com outro soco; aquilo teria seguido com uma briga se sua mãe não tivesse limpado a garganta para chamar a atenção dos dois.

Ela assentiu com a cabeça e logo se retirou.

— É um prazer, meninos — ele disse inclinando um pouco a cabeça. Sua voz é grossa e profunda, porém limpa. Um sotaque francês meio imperceptível.

Ele parecia amigável o suficiente, mas nenhum dos dois garotos confiava de primeira em qualquer pessoa. Tom principalmente, já que, mesmo inconscientemente, ele sentia a obrigação de proteger seu irmão.

— Eu gostaria de começar de uma maneira bem leve hoje — o homem continuou, ainda mantendo um meio sorriso amigável enquanto posicionava uma pilha de livros na mesa, perfeitamente paralela aos materiais dos meninos.

"Agora deu! Esse cara é um perfeccionista!" Tom pensou, apenas comprimindo um pouco os lábios. Sabia que aquele traço de personalidade em um professor era preocupante.

Bem, não é novidade que nenhum dos dois gostavam dessas aulas domiciliares, mas depois do ano passado a escola ficou insuportável. Um verdadeiro inferno, se me permitir dizer. Era algo que Tom mantinha para si, as aulas em casa e o bullying, digo; ele não sairia por aí dizendo ao mundo sobre sua vida, por mais que, querendo ou não, o mundo já soubesse.

━━━ ⟡ ━━━

— ...Então é improvável que elas estejam todas mortas, por mais que não seja impossível — Sr. Moreau finalizou com um suspiro após uma pergunta de Bill sobre as estrelas.

As matérias do dia foram todas voltadas à área da natureza, a parte difícil dela: química, física... No final de tudo ele juntou as duas, explicou o que acontecia no espaço, nas estrelas e como tudo estava interligado de alguma forma; como tudo fazia sentido — pelo menos até onde o garoto tinha aprendido. E sim, ele aprendeu, afinal o Sr. Moreau não falava com um dialeto da época de Goethe, como alguns professores que já teve o faziam.

Bill assentiu com a cabeça com um sorriso fraco, mostrando que tinha entendido. Tá. Física conseguiu ser interessante.

— Bem, nosso tempo acabou — Sr. Moreau se levantou e passou a guardar os livros em sua maleta. Ele observou a janela em sua frente por poucos segundos antes de abrir a boca de continuar:

— Acharam difícil? — o mesmo sorriso gentil se manteve. Aquele sorriso fez Tom lembrar-se de alguém, e nessa linha de pensamento ele acabou se perdendo e não respondendo à pergunta que o homem fez. Bill lhe deu uma cotovelada para que seu irmão acordasse.

— Uh... Não... — Ele se ajeitou na cadeira, mas ainda conseguia ver Bill segurando o riso pelo canto do olho. Maldito. Tom devolveu a cotovelada e o Sr. Moreau apenas riu, negando com a cabeça.

Click. A fivela da maleta foi fechada.

— Espero que continue assim, então — dessa vez seu sorriso mostrava um pouco dos dentes, fechava um pouco seus olhos e deixava aparente algumas rugas que ele tinha. Ele segurou a maleta ao seu lado, enfim. Ele levantou a mão livre — Vejo vocês amanhã, rapazes.

━━━ ⟡ ━━━

— Vai sair? — Bill perguntou da escada, vendo Tom calçar os sapatos.

— Quê que 'cê acha? — O garoto respondeu com um tom sarcástico, acabando de amarrar os cadarços.

— Vai se foder, então.

— Tô indo pra pista de skate, otário — ele riu se levantando e finalmente olhando para seu irmão. Ele estava arrumado, mas Tom não perguntou nada, apenas levantou uma sobrancelha, que já seria o suficiente.

— Vou com o Fynn e uma galera naquele bar novo que abriu na semana passada — Bill deu de ombros, indo se calçar também.

Tom não precisava dizer-lhe para ter cuidado, era o tipo de coisa que não precisava ser dita, que ficava subentendida em uma micro expressão facial, que era óbvia demais para preencher o silêncio. Ou pelo menos era isso que ele achava.

━━━ ⟡ ━━━

O rapaz cumprimentou seus amigos com um "toca aqui". Eram dois caras: Mark, um magrelo alto com os cabelos da cor do outono; o outro, "Yank", era entroncado e vivia com um boné dos Yankees, daí seu apelido.

Os três já estavam lá há uma hora, cansados do esforço, mas pilhados com adrenalina e a satisfação de acertar alguma manobra. Aliás, neste exato momento eles estavam rindo de uma história qualquer que Mark contava. Tom fez menção de levar a latinha de refrigerante à boca, porém pausou no meio do ar ao ver entre as rampas a garota de antes, Eve, que parecia ter acabado de chegar. Ela amarrou seus locs e deu uma corridinha junto do skate antes de subir nele.

— Tom? Tommy? — Yank o chamou deixando o "o" soar mais um pouco, finalmente descongelando os olhos de Tom da garota.

— Quê? — Ele virou o rosto abruptamente para eles — E não me chama assim, porra — tinha um sorriso no rosto, mas estava falando sério, enfim tomando um gole do refrigerante.

— ... — Mark abriu a boca para falar, mas decidiu seguir o caminho que os olhos de Tom faziam, parando exatamente na figura da garota — hummm, entendi — ele estava sorrindo. Yank seguiu a mesma expressão.

Tom apenas ergueu uma sobrancelha para mostrar sua irritação. Eles tinham o quê? Doze anos?

Ele deixou a latinha de lado e se levantou sem olhar para seus amigos, mas eles continuavam falando "hmmmmm" e rindo. Tom se conteve para não rir também e desceu da rampa de onde estavam em cima. Sim, as rodas do skate ainda faziam muito barulho, mas se Eve tivesse o escutado, ela fingiu que não. O rapaz parou em sua frente.

— Eve! — Ele cumprimentou com um sorriso largo. Espera... por que estava tão feliz? Afinal ele só tinha visto aquela garota uma única vez em sua vida e nem foi por tanto tempo assim! Mas antes que ele pudesse reagir de outra forma, ela respondeu igualmente:

— E aí! — Era uma alegria genuína também, reforçada com um soquinho no ombro do rapaz.

(In the) Bottom of the SeaWhere stories live. Discover now