A Marca

4 0 0
                                    

-Escravo 7789044! Anda, levante daí! Você foi o único que não levantou!

O jovem, ainda com muito sono, viu o Kyriu na sua frente, com expressão severa. Kyrius são aliados dos Nefilins, e sempre infernizavam a vida de todos, incluindo ele, que tinha feito 15 anos no dia anterior.

Ele abriu a boca para responder, mas desistiu. Sabia que, se questionase, levaria uma bordoada bem no nariz. Então levantou e pegou sua furadeira.

O jovem não tinha nome, nunca conheceu sua mãe, e seu pai já havia falecido. Mas ele se auto denominava Horu, que era os nomes de pessoas das histórias que ouvia: O forte Héracles, a sábia Oráculo, o Rei fantoche, e seu bisavô Ulisses. Ele odiava ser chamado de escravo 77 alguma coisa. Mas sabia que não era o único: todos lá não tinham nome, eram somente números.

O ano era 2017, mas para Horu, parecia que o tempo não passava. Era sempre a mesma coisa, todos os dias, sem exceção: acordar, trabalhar, almoçar, trabalhar de novo, jantar, dormir, repete. Horu não gostava dessa repetição, mas não tinha outra escolha. Para os humanos, só existiam três opções: ser escravo, ser mercenário ou ser Rhyoshi. Esse terceiro Horu não conhecia direito. Só sabia que para ser um Rhyoshi tinha que possuir uma tal Marca. E ele tinha uma enorme mancha no peito que subia até seu rosto, quase encostando no olho direito dele. Seria aquela a tal Marca? Talvez. Porém ele não fazia a menor ideia se aquela sua marca de nascença era mesmo a Marca. E para ser mercenário, tinha que ser forte, e se destacar entre os escravos. Só assim poderia se tornar um mercenário. Mas isso significaria ser odiado por todas as pessoas. E ele não desejava isso.

Na hora do almoço daquele dia monótono, ele avistou um velhinho olhando para o horizonte. Resolveu então puxar papo com ele.

-Olá, senhor. - disse Horu - Posso conversar com você?

-Oi meu jovem. - disse o velho - Pode sim. Do que deseja falar?

-Você costuma ficar olhando para o horizonte, todo dia. Por que fica olhando tanto?

O velho suspirou e disse:

-Fico pensando nos velhos tempos, onde tudo era diferente. Onde havia alguém para nos defender.

-Está falando dos Rhyoshi's, não é?

-Sim. O último Rhyoshi foi o mais próximo de cumprir seu juramento. Mas ele começou do jeito errado. Em vez de começar com os Nefilins, que é o que o juramento diz, ele começou com os Kyriu. De acordo com as histórias, ele derrotou mais de cinquenta mil deles, e estava pra desafiar o Rei Demônio. O combate deles foi feroz, mas ele morreu, e o Rei Demônio ressuscitou todos os Kyriu derrotados. No fim, todos os seus esforços foram em vão...

Fez uma pausa e, olhando para o garoto fixamente, perguntou:

-O que é isso no seu pescoço e rosto? Você se machucou?

-Ah, isso? É uma marca de nascença.

-Desculpe a pergunta, mas você pode tirar a sua camiseta?

-Tirar minha camiseta? Por que? - perguntou Horu, corando um pouco.

-Preciso ver melhor sua marca.

Ele tirou. Ao ver a marca inteira, o velho arregalou os olhos e falou no ouvido dele:

-Me encontre de madrugada, na velha mina de carvão.

Na hora marcada, Horu apareceu e viu o velho na entrada do lugar.

-Você veio. - disse ele. Olhou para o arredor e disse - Nenhum Kyriu a vista. Ótimo, não teremos imprevistos.

-Então, vai me contar o que tinha pra falar?

Ryoshi's: Os Caçadores - Livro 1: América Where stories live. Discover now